Nem o YouTube forma cirurgiões, nem o preconceito forma professores.

João Mattar
Presidente da Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED)
O artigo publicado ontem, 9 de abril de 2025, em O Globo, assinado por Priscila Cruz — presidente e cofundadora do movimento Todos Pela Educação — com o título “Formar professores on-line é como treinar cirurgiões por YouTube”, repete, com nova roupagem, um preconceito antigo contra a Educação a Distância (EaD) no Brasil. Em vez de fomentar um debate qualificado sobre a formação docente, o texto aposta em metáforas vazias, afirmações sem dados e generalizações elitistas.
A frase de impacto — que compara cursos de licenciatura em EaD a vídeos de cirurgia no YouTube — diz mais sobre a visão preconceituosa da autora do que sobre a modalidade em si. Não há, no próprio artigo, qualquer dado concreto que comprove que os cursos EaD formem professores menos qualificados. O que há, sim, é um histórico de desinformação travestida de exigência, que desconsidera os contextos sociais, econômicos e territoriais do país.
A proposta de “criar uma linha de financiamento para cursos presenciais de alta qualidade” soa bonita no papel. Mas não é uma proposta: é uma política que já está em curso, por meio de programas como o Mais Professores e o Pé-de-Meia Licenciaturas, que excluem deliberadamente os estudantes de cursos EaD do acesso a bolsas. Trata-se de uma medida inconcebível em pleno século XXI, que naturaliza a desigualdade, institucionaliza o preconceito e nega o direito à formação docente justamente a quem mais precisa dele. É uma decisão injustificável, discriminatória e excludente, que parece, infelizmente, ecoar a lógica defendida no artigo — uma lógica que contribui para aprofundar desigualdades, em vez de enfrentá-las.
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