Um novo campo para EaD
Não é difícil reconhecer que, ao adotar a TV digital como um padrão, o Brasil dará um passo à frente no cenário tecnológico. Tão importante quanto, porém, é o impacto que terá em um setor que tem ganhado fôlego nos últimos anos: a educação a distância. Afinal, uma mídia que permita interação entre professor e aluno com o alcance da televisão parecia pouco mais do que um sonho há poucos anos. Nos próximos, esse sonho pode se materializar.
Compreender a "empolgação" dos especialistas em EAD com as possibilidades da TV digital não é algo complexo. Quando a Internet começou a se popularizar, no final dos anos 90, a sensação de que se havia chegado ao canal de comunicação ideal alcançou a educadores e gestores. Com o tempo, no entanto, pôde-se perceber que não era algo simples, pois exigia um investimento relativamente alto por parte do interessado. Basta ver que, segundo dados da PNAD (Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), apenas 16,3% das residências do país contam com um micro-computador.
É nesse número que reside a grande esperança da TV digital. Levando-se em conta que, no prazo de dez anos, as transmissões de TV aberta no Brasil serão necessariamente digitais, quem quiser assistir à programação terá que se adaptar à realidade. O que significa que esta nova mídia interativa terá um alcance não superado por qualquer outra. Hoje, 90,3% das residências brasileiras contam com ao menos um televisor, de acordo com o IBGE. Para se ter uma idéia, nem o rádio (87,8%), o telefone (66,4%) ou mesmo o saneamento básico (68,9%) alcançam tantos brasileiros como a TV.
"Se a TV Digital e interativa se tornar algo atraente, e isso vai acontecer, podemos fazer com que a televisão, que até aqui tem significado um problema para a Educação, se torne parte de várias soluções", opina Ronaldo Motta, secretário de Ensino a Distância do MEC, que participou do grupo de debates do governo sobre o tema. "A TV Digital, na sua plenitude, é muito mais do que se falou até agora. Ela conta com o aspecto da interatividade e isso pode mudar radicalmente a importância da televisão no processo educacional."
Dificuldades e desafios
Imagine que você está assistindo a uma aula na TV. Durante a exibição, tem uma dúvida e, com um toque no controle, acessa um dicionário on-line, ou mesmo uma enciclopédia. Isso em uma tela paralela, sem deixar de acompanhar o programa principal. Parece ótimo, não? Mas, definitivamente, não é simples. Ainda são poucos os projetos de EAD via TV Digital no mundo. E, mesmo no Brasil, esse ainda não é um conceito plenamente difundido. Os primeiros anos, portanto, serão de larga experimentação - e também de alguns insucessos.
"Ainda hoje não temos um padrão dominante, consolidado, de e-learning, por exemplo. Porque é tudo muito novo, os 15 anos ainda não representam nada. Além disso, existem diferentes modelos pedagógicos, modos de apresentar a informação", explica o presidente da Abed (Associação Brasileira de Educação a Distância), Fredric Michael Litto. "Ainda estamos engatinhando e não sabemos de onde virá o padrão que todos vão aceitar. Estamos apanhando neste momento por falta de um padrão aceitável por todo mundo como sendo melhor que os demais."
Mais do que adequar a realidade da EAD à nova mídia, no entanto, a grande questão é explorar o potencial que se enxerga hoje na TV digital. O campo é vasto e - reconheçamos - tentador. No entanto, o público que tem acesso à televisão aberta é muito maior e, por conseqüência, mais heterogêneo do que aquele que utiliza a Internet. Como lidar com as diferenças regionais? Como trabalhar a linguagem para diferentes camadas sociais? De que maneira trabalhar com a forma que as pessoas identificam a mídia e tirar dela o estereótipo de aparelho exclusivo de entretenimento?
"É importante destacar que este cenário vai fazer do docente um produtor cultural. Essa é a estratégia. Em hipótese alguma, nada que esteja sendo produzido tem a pretensão equivocada de substituir o professor. Pelo contrário, a idéia é capacitá-lo, transformando-o, cada vez mais, em um produtor cultural", explica Motta. "Existe um conjunto de programas em implementação que têm por objetivo fazer do docente um autor. Isso não é algo fácil, é complexo. Mas é essa a possibilidade que temos de transformar a educação utilizando tecnologias digitais."
Poucas experiências
Em alguns países, experiências específicas do uso de TV digital já têm obtido sucesso. Instituições como a Universidad de Barcelona Virtual e a Upper Iowa University são cases nesse sentido. No entanto, ainda são resultados ainda restritos à uma determinada localidade. Difíceis de transportar para um país-continente como o Brasil. "Temos, sim, alguns resultados positivos. Mas são, principalmente, pilotos de alguns projetos. Desconheço um programa grande que utilize a TV digital com regularidade", observa Lito.
Para Motta, do MEC, no entanto, é uma questão de tempo até se encontrar o modelo que atenda às necessidades. "Esta é uma tendência mundial. Não há dúvida de que, embora o que vimos até agora internacionalmente seja apenas a ponta do iceberg, a perspectiva é fazer dessa interatividade um instrumento educacional", afirma. "Não é algo simples. Há outras visões que acreditam que interatividade é pode colocar os números dos cartões de crédito. Isso pode ser importante, mas certamente está longe de ter a relevância do ponto de vista não comercial, mas educacional."
Fonte: Universia