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Brasil e Espanha interagem em prol da EAD

Em entrevista ao Portal Universia, o secretário de Educação a Distância do MEC, Ronaldo Mota (foto), esclareceu a situação atual da EAD no Brasil, falou da interação da UAB (Universidade Aberta do Brasil) com a Uned (Universidad Nacional de Educación a Distancia), da Espanha, e o que temos a aprender e a contribuir com a experiência espanhola.

 


Ronaldo Mota - Secretário de EaD do MEC



Na mesma semana em que foi realizado o IV Esud (Congresso de Ensino Superior a Distância), aconteceu o EducaMadri, na Espanha. O senhor participou dos dois. Quais foram os pontos em comum abordados em cada evento e o que houve de diferente?

Ronaldo Mota -
Primeiro é importante esclarecer que O IV Esud é o evento que reúne o que se faz de melhor no contexto das universidades públicas brasileiras, especialmente num momento em que há um grande amadurecimento na forma como se pensa a educação a distância no país, vista hoje de maneira mais ampla. Não se trata só de uma modalidade de apoio à Educação presencial. É hoje o espaço no qual se discute como se apropriar adequadamente de todas as tecnologias. Uma característica comum ao Esud e o EducaMadrid foi a discussão de como usar todas as mídias de forma integrada, evitando qualquer superestimação de uma delas em detrimento das demais. Na Espanha, como aqui, está acontecendo um movimento de hibridização: a Uned, que tradicionalmente sempre trabalhou com material impresso cada vez mais passa a incorporar também outras tecnologias. Por sua vez, na UOC (Universidad Oberta da Cataluña), que tradicionalmente trabalha a web, dá cada vez mais valor à preparação do material impresso e do uso da televisão.

Isso só é possível quando conseguimos desenvolver nos professores a sua capacidade autoral, ou seja, capacitá-los não somente para o uso das tecnologias, mas à utilização da tecnologia para produzir seu próprio material didático. No EducaMadrid, pude perceber o quanto o Brasil é reconhecido como tendo um grande potencial em EAD. Haja vista o fato de terem me chamado para fazer palestra de encerramento. O que tem de interessante no Brasil é que aqui a EAD nasce sem nenhum preconceito.

A cada momento, utiliza-se o que há de melhor de cada tecnologia: o telepresencial via satélite, material impresso, utiliza a web no sentido amplo - não só como portais, e-mails, mas como repositório de material instrucional digital, como é o caso do projeto Rived (Rede Interativa Virtual de Educação). E temos uma vocação única com uma forte ênfase em formação de professores. A Espanha, no caso da UOC, é muito voltada para atendimento no setor mais empresarial: comércio, administração, enfim, carreiras mais voltadas ao mercado. Diferentemente do perfil da UAB, que tem ênfase na formação de professores, embora também oferecerá cursos de Administração, Engenharia de Automação, entre outros.

Qual é a interação Brasil-Espanha em EAD hoje?


Mota -
Tive a oportunidade de estar com o reitor da Uned em Madri, e vamos ter uma relação muito próxima da Uned junto à UAB. Esse relacionamento já existe, uma vez que vários professores da UAB tiveram sua formação na Uned. Mas isso é só o começo. Teremos uma integração muito forte , entre outros itens, na questão do idioma espanhol, e na questão fundamental da formação de professores, principalmente os da educação básica. O reitor da Uned está vindo ao Brasil no dia 8 de junho para uma reunião no Ministério da Educação. Isso é só o começo no que vai ser uma interação permanente e contínua na cooperação acadêmica.

Qual dos dois países está mais avançado em EAD?

Mota -
A relação é bilateral. Da mesma forma que vamos alimentar a experiência deles, os dirigentes da Uned têm muito interesse em conhecer a realidade brasileira para que a nossa experiência possa ser utilizada na Espanha. Temos uma relação simétrica, ainda que eles tenham mais experiência do que nós. O Brasil tem uma realidade diferenciada e um sistema que já contempla um conjunto de universidades, a UAB, enquanto a Uned é uma outra universidade, independente das universidades já existentes. Isso acontece porque a Uned nasceu em outro momento, na década de 70, quando não havia se pensado neste formato de EAD com a integração de IES. Várias outras universidades abertas do mundo foram criadas na mesma época - na Turquia, na Inglaterra. De lá para cá, muita experiência foi acumulada e a partir dela é que o Brasil inovou criando outro sistema, que contempla as experiências já vividas. O sistema da UAB não terá professores exclusivos, mas compartilhados com as universidades já existentes.

No que o Brasil pode contribuir com a Espanha?

Mota -
No quesito objetos de aprendizagem, por exemplo, o Brasil tem uma experiência muito bem desenvolvida, como no sistema Rived, que é um repositório de objetos de aprendizagem. A Uned tem muito interesse em compartilhar os objetos de aprendizagem desenvolvidos no Rived. E as nossas experiências sobre formação de professores em exercício.

No que a Espanha pode contribuir com o Brasil?

Mota -
A experiência da Uned é municipalista, quer dizer, eles interiorizaram a Educação Superior através da Educação a Distância. Neste sentido, tem alguma semelhança com o sistema brasileiro porque a UAB enfrenta dois graves problemas brasileiros: a desigualdade regional e a desigualdade social - permitir acesso às camadas mais populares Educação Superior de Qualidade. A UNED é um relativo sucesso nisso. Relativo porque tudo está em permanente construção. E a UAB pretende seguir um modelo que tem algum nível de analogia.

Por que no Brasil ainda não há mestrado a distância? Como é a experiência na Espanha neste quesito?

Mota -
No Brasil, temos a intenção de criar mestrados profissionais (MBAs) a distância no Brasil. Para tanto não temos nenhuma restrição legal. É autorizável. Só não fizemos isso ainda porque a Capes tem um nível de exigência e rigor que demandam que os projetos sejam bastante amadurecidos e estruturados. Hoje há uma comissão através da UniRede, do professor Sérgio Franco, que está estruturando uma proposta de caráter nacional de mestrado profissional a distância, que será ancorado com vários programas já credenciados pela Capes, que terá de passar pelos devidos comitês, como tudo o que passa pela Capes. Lá as coisas demoram porque há um nível de exigência alto, mesmo para mestrados presenciais.

E sobre a avaliação a distância? Aqui isso ainda não é possível. E na Espanha?

Mota -
Lá, como aqui, também tem que ser presencial, além de a distância. Ou o aluno faz uma prova escrita ou uma prova a distância e depois uma validação, isto é: o aluno tem que comparecer perante uma banca, onde prova que ele é a pessoa que respondeu à prova. Mas a Uned já está trabalhando em um sistema que vai possibilitar a avaliação a distância. Eles compraram por US$ 1 milhão um sistema que vai se basear na webcam. O aluno vai fazer uma prova onde será monitorado pela webcam. A prova é escaneada, ele a lê no vídeo, autentica, e o material impresso é instantaneamente destruído. Esse sistema está em implantação. No Brasil, não chegamos nem perto de adotar um sistema assim. Primeiro porque é muito caro. Segundo, porque eles na Espanha eles estão numa etapa de preocupação mais avançada do que a nossa. Se tivéssemos U$1 milhão aplicaríamos em outro sistema, não nesse de avaliação.

Nós caminhamos no fio da navalha porque, ao mesmo tempo que não podemos ser relapsos pois não nos interessa adotar um sistema no qual possa ocorrer fraudes e é uma obrigação do Estado preservar padrões de qualidade, não podemos ser preconceituosos, e achar que vamos fazer exames idênticos aos tradicionais para o resto da vida. Tecnologias existem para serem adotadas de forma adequada e no devido tempo.

Há algum case brasileiro que já foi usado em outro país?

Mota - A experiência do Cederj (Centro de Educação a Distância do Estado do Rio de Janeiro), é reconhecida internacionalmente no sentido de interiorização e formação de professores. A experiência da UFMT (Universidade Federal do Mato Grosso) em relação à formação de professores em exercício é singular no mundo. É uma das mais interessantes e reconhecida internacionalmente. O que a caracteriza é a competência em trabalhar com o professor que está em exercício. A experiência da Anhembi-Morumbi, no que diz respeito à incorporação dos 20% que pode ser a distância nos cursos presenciais, é uma experiência também reconhecida internacionalmente. Outra é a experiência da FGV (Fundação Getúlio Vargas) online. A Unisul, de Santa Catarina, é uma experiência de universidade comunitária com fortes contribuições. E tem vários outros exemplos, tanto no setor público, quanto no comunitário e no privado, além da Universidade Corporativa do Banco do Brasil, que foi considerada como tendo a menor taxa de evasão do mundo em EAD -menos de 1%. Eles têm um programa ultra-atraente, muito seletivo na entrada, e o aluno que entra não desiste.


Fonte: Universia
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