Novas Tecnologias de Informação e Comunicação:
reflexões a partir da Teoria Vygotskyana.

 

Marilza Vanessa Rosa Suanno[1]
suanno@brturbo.com  ou suanno@uol.com.br

 

(formato doc)

"As transformações que dinamizam todas as esferas da vida humana" (Todorov, 1994)

 

RESUMO: O objetivo do presente artigo é questionar as possibilidades e desafios da utilização crítica das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTIC) pelas instituições de ensino, subsidiada pelas contribuições da teoria sócio-histórico-cultural do desenvolvimento das funções mentais superiores de Lev Semenovich Vygotsky.

 

 

Palavras-Chave: Novas Tecnologias de Informação e Comunicação; Educação; Teoria de Vygotsky.

 

 

Introdução

 

A educação, no mundo globalizado, no contexto onde a difusão da informação e do conhecimento se tornou maciça, onde o desenvolvimento científico e tecnológico se dá de forma acelerada e contínua, não se pode negar a significação das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação e suas aplicações, assim como as implicações de sua aplicabilidade nos processos educacionais e, neste contexto, é interessante rever os postulados epistemológicos e psicológicos da teoria sócio-histórico-cultural para assim poder relacionar a ideologia e os princípios que fundamentam as ações no processo educativo segundo tal teoria e os desafios apresentados aos educadores para a utilização crítica das NTIC em processos de construção de conhecimento.

 

Há de se compreender que é fundamental a esse processo que os educadores e sua equipe tenham clareza epistemológica que fundamentem suas práticas, a fim de planejar este processo tendo real percepção dos objetivos que elaboram, saibam o que querem que o aluno alcance com este processo, pois só assim poderão escolher as metodologias, métodos e técnicas para as práticas pedagógicas avaliando as necessidades, desafios, possibilidades e limitações que surgem com a utilização das NTIC. No presente trabalho, compreende-se tecnologia por ciência aplicada, estudo das técnicas e de sua utilização, e por Novas Tecnologias de Informação e Comunicação os recursos tecnológicos que permitem o trânsito de informações, que podem advir de diferentes meios de comunicação, seja rádio, televisão, jornal, revista, livros, fotografia, computadores, gravação de áudio e vídeo, redes telemáticas, robótica, sistemas multimídias, dentre outros. O grande diferencial das tecnologias multimidiáticas é evidenciado pela interatividade, ou seja, a participação ativa do usuário e a capacidade de manipulação do conteúdo da informação.

 

 

Desenvolvimento

 

De acordo com a teoria sócio-histórico-cultural de L. S. Vygotsky, a origem das mudanças que ocorrem no homem, ao longo do seu desenvolvimento, está vinculada às interações que ocorrem entre o sujeito e a sociedade, a cultura e a sua história de vida, além das oportunidades e situações de aprendizagem, que promovem este desenvolvimento, ponderando acerca das várias representações de signo, instrumento, cultura e história, propiciando o desenvolvimento das funções mentais superiores. Para o desenvolvimento do indivíduo, as interações com o outro social são, além de necessárias, fundamentais, visto que estes são portadores de mensagens da própria cultura e que, nesta interação, “o papel essencial corresponde aos signos, aos diferentes sistemas semióticos, que, do ponto de vista genético, tem primeiro uma função de comunicação e logo uma função individual: começam a ser utilizados como instrumentos de organização e de controle do comportamento individual... Isso significa simplesmente que algumas das categorias de funções mentais superiores (atenção voluntária, memória lógica, pensamento verbal e conceitual, emoções complexas, etc.) não poderiam surgir e constituir-se no processo do desenvolvimento sem a contribuição construtora das interações sociais”. (ZACHARIAS, 2003) O indivíduo integra em sua história e em sua cultura, a própria história e a cultura de seus antepassados, próximos e distantes, que se caracterizam como peças importantes na construção de seu desenvolvimento, através das experiências, situações, hábitos, atitudes, valores, comportamentos e linguagem daqueles com quem interage sejam pessoas ou instituições. Este não é um processo determinista, uma vez que o indivíduo participa ativamente da construção de seu círculo de interações, modificando-o e provocando transformações neste contexto. Nesta perspectiva, a educação pode se fazer fundamental oferecendo ao indivíduo oportunidades significativas de construção de conhecimentos e valores. E para tal tarefa, pode utilizar–se das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação como ferramenta e fundamento com o objetivo de promover interação, cooperação, comunicação e motivação a fim de diversificar e potencializar as relações inter e intrapessoais mediante situações mediatizadas, que venham a ressignificar o processo educativo e o sistema educacional. Para que tal tarefa seja bem sucedida todo o processo de construção do conhecimento precisa ser bem articulado do ponto de vista epistemológico e metodológico. “O aprendizado adequadamente organizado resulta em desenvolvimento mental e põe em movimento vários processos de desenvolvimento que, de outra forma, seriam impossíveis de acontecer”. (L. S. VYGOTSKY, 1987, p.101).

 

O referencial teórico sócio-histórico-cultural compreende a relação entre sujeito e objeto no processo de construção do conhecimento, onde o sujeito do conhecimento não é apenas passivo, regulado por forças externas que o vão moldando e não é somente ativo, regulado por forças internas, o sujeito do conhecimento é interativo.


 L. S. Vygotsky ao explicitar a importância do outro social no desenvolvimento dos indivíduos e ao estabelecer idéias sobre a relação entre aprendizado e desenvolvimento elabora três conceitos fundamentais (dois níveis e uma zona) para sua teoria que são os Níveis de Desenvolvimento Real e Potencial e a Zona de Desenvolvimento Proximal. O significado de Nível de Desenvolvimento Real na teoria sócio-histórico-cultural é a capacidade do indivíduo de realizar tarefas de forma independente, baseado nas estruturas de conhecimento das quais já dispõe como suas podendo utilizar-se delas quando achar necessário, à sua maneira. Já a Zona de Desenvolvimento Proximal é a capacidade do indivíduo de desempenhar tarefas com a ajuda de outros companheiros mais capacitados, aqui mediadores, que facilitam o acesso a um conhecimento pelo qual percorrem um determinado caminho, a fim de torná-lo seu. É aqui, na Zona de Desenvolvimento Proximal, que deve acontecer a intervenção pedagógica.


As implicações que o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal traz para a prática dos professores são várias, uma vez que remetem aos mesmos novos desafios e maior atenção para com o processo educativo. O conhecimento do processo que o indivíduo realiza mentalmente ao desempenhar alguma tarefa é fundamental para compreender o papel e a necessidade da intervenção pedagógica neste percurso realizado pelo aluno, indivíduo rumo à construção do seu conhecimento.  Ao desconsiderarmos as funções que se encontram em processo de consolidação, deixamos de atuar na Zona de Desenvolvimento Proximal, que é o espaço existente entre o Nível de Desenvolvimento Real e o Nível de Desenvolvimento Potencial do indivíduo.

 

O conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal traz algumas implicações como a consideração de que o processo de construção do conhecimento é fundamental e não somente o produto final desta construção como apregoa as tendências pedagógicas tradicionais; a ressignificação do papel do professor enquanto um mediador, promovedor de situações-problema coletivas e colaborativas que promovam a interação, a comunicação dialogada e níveis de ajuda favorecendo aos sujeitos que constroem conhecimentos a oportunidade de aprendizagem e conseqüente desenvolvimento; dentre outras.

 

O Nível de Desenvolvimento Potencial, segundo L. S. Vygotsky é o lugar ao qual se pretende chegar. É o conhecimento a ser construído, conquistado. O dinamismo que ocorre neste processo de aquisição e construção do conhecimento é outro fato marcante na teoria deste teórico. Percebemos isso quando um Nível de Desenvolvimento Potencial se transforma em Real. Essa transformação se dá a partir do momento em que, como já dissemos anteriormente, esse novo conhecimento construído passa a ser disponibilizado em novas situações, que podem em nada ter de semelhante às situações do passado onde ocorreram essas aprendizagens, e agora pode utilizar-se dele à sua maneira, quando achar que lhe é conveniente, sem se prender a regras ou receitas prontas, mas com liberdade de pensamento e ação.


O professor ao planejar, desenvolver e promover aprendizagens compartilhadas potencializa a Zona de Desenvolvimento Proximal do aluno, de modo que funções ainda não consolidadas venham a amadurecer. De acordo com Góes (1991, p.20), "A boa aprendizagem é aquela que consolida e, sobretudo cria Zonas de Desenvolvimento Proximal sucessivas”. Desta forma, verificamos o quanto a aprendizagem interativa, compartilhada e dialogada permite o desenvolvimento do indivíduo. Ressaltando a importância das trocas interpessoais, na construção do conhecimento, L. S. Vygotsky mostra, através do conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal, o quanto à aprendizagem influencia no desenvolvimento do indivíduo.

 

Considerando o cérebro humano como sendo: “... um sistema aberto, de grande plasticidade, cuja estrutura e modos de funcionamento são moldados ao longo da história da espécie e do desenvolvimento individual”.(OLIVEIRA, 1993, p.24) a incorporação das inovações tecnológicas na educação só se justificaria se promovesse a melhoria da qualidade do ensino, possibilitando que os indivíduos construam conhecimentos, uma vez que não basta à instituição ter o aparato tecnológico para que o ensino tenha qualidade, há de se promoverem situações e ações mediadoras, de interação, onde os alunos possam ter a oportunidade de se desenvolverem, uma vez que o aprendizado propicia o desenvolvimento do indivíduo.

 

As Novas Tecnologias de Informação e Comunicação precisam ser utilizadas de forma que permitam a mediação e a interação do sujeito com o outro social. A mediação é um conceito fundamental na teoria de L. S. Vygotsky, uma vez que esta é a ação onde “a relação do homem com o mundo não é uma relação direta, mas uma relação mediada, sendo os sistemas simbólicos os elementos intermediários entre o sujeito e o mundo”. (OLIVEIRA, 1993, p.24) Dar conta de promover a construção de conhecimento, possibilitando interação, mediação e níveis de ajuda ao sujeito que aprende é o grande desafio proposto aos professores e à informática educativa hoje, assim como para a aplicação de todas as NTIC nas práticas pedagógicas, uma vez que o desenvolvimento fica impossibilitado de ocorrer na falta de situações e oportunidades propícias ao aprendizado. Neste sentido a criatividade, inovação e diversificação das situações de construção de conhecimento são fundamentais para o desenvolvimento dos alunos, sendo este o desafio que deve perseguir o professor contemporâneo.

 

O caráter interativo e comunicativo do processo educativo promove o desenvolvimento do indivíduo onde a mediação e a interação contribuem e interferem na qualidade do processo. “Essa concepção de que é o aprendizado que possibilita o despertar de processos internos do indivíduo liga o desenvolvimento da pessoa à sua relação com o ambiente sócio-cultural em que vive e a sua situação de organismo que não se desenvolve plenamente sem o suporte de outros indivíduos de sua espécie”.(OLIVEIRA, 1993, p.58)

 

A formação dos conceitos, segundo os pressupostos da teoria sócio-histórica-cultural, concebe que a linguagem não exerce apenas o papel de instrumento de comunicação, pois esta permite ao homem formular conceitos e, portanto, abstrair e generalizar a realidade, através de atividades mentais complexas. O que segundo L. S. Vygotsky (1987, p.50) é uma atividade que envolve um conjunto de elementos ligados por um nexo e pontua que "A formação de conceitos é o resultado de uma atividade complexa, em que todas as funções intelectuais básicas tomam parte. No entanto, o processo não pode ser reduzido à atenção, à associação, à formação de imagens, à inferência ou às tendências determinantes. Todas são indispensáveis, porém insuficientes sem o uso do signo, ou palavra, como meio pelo qual conduzimos as nossas operações mentais, controlamos o seu curso e as canalizamos em direção à solução do problema que enfrentamos". Assim a função de generalização garante a comunicação entre pessoas, o entendimento ocorre, pois se mantém preservada a característica essencial. Essa capacidade de generalizar e abstrair, nos liberta dos limites da experiência concreta.

 

De acordo com a teoria sócio-histórico-cultural de L.S. Vygotsky é necessário entender que o significado da palavra transforma-se ao longo do desenvolvimento do sujeito, pois o significado da palavra evolui, uma vez que incorpora novos sentidos e conotações, e a linguagem como instrumento do pensamento age decisivamente na estrutura do pensamento, reestruturando diversas funções psicológicas, como a memória, a atenção voluntária, a formação de conceitos e é ferramenta básica para a construção de conhecimentos para a introdução de mudanças qualitativas na forma de cognição para modificação do desenvolvimento e das estruturas das funções mentais superiores, tanto quanto os instrumentos criados pelos homens modificam as formas humanas de vida. As Novas Tecnologias de Informação e Comunicação precisam ser utilizadas com o objetivo de formar um cidadão que se construa ativo, interativo, construtivo e transformador de seu contexto, promovendo o desenvolvimento individual, sócio-cultural, científico, tecnológico, político, econômico... E é justamente nesta perspectiva que o conceito de qualidade política se faz significativo, uma vez que se compreende qualidade política das práticas pedagógicas, segundo Demo (2002, p.14) como sendo “... a competência do sujeito em termos de se fazer e de fazer história, diante dos fins históricos da sociedade humana. É condição básica da participação. Dirige-se a fins, valores e conteúdos. É naturalmente ideológica, porque definição política é sua marca, perdendo qualidade, se ideológica se reduzir à justificação desumanas e a partidarismos obtusos. Inclui ética na política.”

 

Pensar nas Novas Tecnologias de Informação e Comunicação aplicadas à educação é um desafio, uma vez que se persegue a efetivação da qualidade política das práticas pedagógicas que Demo, 2002 pontua como indicadores relevantes: práticas inovadoras baseadas na construção do conhecimento em prol da qualidade de vida de forma significativa à existência do indivíduo e da sociedade; potencializando práticas democráticas e emancipadoras, promovendo participação e consciência crítica perante o mundo e o saber; exercício da cidadania; atitude compromissada e responsabilidade compartilhada entre os sujeitos no processo de construção do conhecimento e da sociedade a qual se encontram inseridos; na busca da qualidade política das práticas pedagógicas os educadores precisam promover mudanças nos objetivos, nos currículos escolares promovendo assim melhoria das condições do aprender a aprender; aprender a conhecer; aprender a fazer; aprender a viver; aprender a ser e a conviver; saber pensar e da relação entre saber e transformar,  promovendo no espaço escolar a motivação, a flexibilidade, a autonomia, a criatividade, a inovação, formando o sujeito enquanto um ser pesquisador, reflexivo, capaz de buscar superar suas limitações, desenvolvendo competências e habilidades, produzindo conhecimentos.

 

Vale, resgatar que ao longo da história da humanidade as inovações tecnológicas foram e são sempre acompanhadas de mudanças na estrutura das sociedades, nos costumes, nas culturas, o que provoca novas formas de organização social.  Segundo SERRA & outros, 2003, “Ao longo da história, percebemos que o surgimento de novos dispositivos de comunicação produz simultaneamente modificações na estrutura do pensamento, nos modos de apreensão do conhecimento e nas interações sociais em geral”.

 

 

Resgate histórico das evoluções tecnológicas

 

Historicamente os chineses, inventores do papel, foram os primeiros a fazerem a impressão de um livro, sendo que os japoneses dominavam uma técnica de impressão com blocos de madeira, mas foi Johann Gutenberg, em 1450, que com a invenção da imprensa impulsionou processos de mudanças culturais, alterando o relacionamento entre os sentidos humanos, modificando os modos de pensar, de agir e de perceber o mundo, dando asas à comunicação escrita. O que viabilizou a invenção do jornal, em 1609, um instrumento de circulação de informações, que ao longo dos séculos seguintes ganhou difusão e diversificou a oferta.

 

Os jornais e revistas impressas podem ocupar espaço de estudo, análise, comparação, interpretação de seus conteúdos nas salas de aulas brasileiras, ou pela Educação à Distância, de modo que a informação seja processada criticamente, permitido que o cidadão construa uma consciência política, ativa e questionadora perante os fatos e acontecimentos mundiais e nacionais. Faz-se necessário investigar para constatar tais possibilidades. E neste sentido, as hemerotecas são uma alternativa para que educadores e alunos tenham contato com matérias jornalísticas interessantes, uma vez que hemerotecas são bibliotecas confeccionadas com recortes de jornais e revistas selecionados por sua qualidade e relevância frente aos estudos que se pretende fazer e estes recortes são organizados, classificados conforme as temáticas escolhidas. As hemerotecas têm por objetivo principal proporcionar ao leitor fontes diversificadas e atualizadas de pesquisa, podendo também ser organizadas com o intuito de suprir a carência de atualização das bibliotecas. As hemerotecas podem ser organizadas on line o que seria relevante a Educação à distância, assim como para pesquisa temática. Na realidade escolar brasileira nos deparamos com a padronização e visão unilateral das questões de estudo apresentadas por livros didáticos idênticos para todos os alunos, tendo estes que ler os mesmos textos e responder as mesmas questões. Seria este o recurso mais adequado à construção de conhecimentos? Ou seria possível buscar novas alternativas? Conforme SOUZA, 2003, “...enquanto a ‘sociedade’ insistir em manter um ambiente educacional baseado na manipulação de idéias, a Linguagem será artificial e bloqueada enquanto formadora de uma realidade relacionada à determinada sociedade em questão. E de uma maneira mais generalizada, a constituição da instituição imaginária da sociedade, restringindo-se o poder das Tecnologias de Informação como simples instrumentos, será o retorno ao homem escravo de suas necessidades e impossibilitado de ser livre, para utilizar o seu intelecto como enriquecedor de sua própria Linguagem”.

 

Contribuindo na história do avanço da tecnologia em 1837, o americano Samuel Morse inventou o telégrafo, que acabou por impulsionar a criação do telefone, o que só ocorreu em 1876, nos USA, criado por Alexander Graham Bell. O sistema de telefonia é contemporaneamente fundamental ao funcionamento do mundo digital.

 

A fotografia surge através dos franceses Louis Daguerre e Joseph Nièce em 1839, “Foi a fotografia que tornou pela primeira vez evidente, colocando na face dos nossos olhos, a irremediável separação entre signo e objeto. Fez ruir a ilusão da representação, dissolvendo a miragem de uma relação idílica entre o signo que representa e o objeto representado. Depois da fotografia, nossa consciência de linguagem se tornou maliciosa” (SANTAELLA, 1992, p.96) A fotografia, uma tecnologia que é capaz de fixar as imagens,  provocou uma ressignificação para as artes plásticas da época que buscavam representar através da pintura a imagem fiel das pessoas. Com o advento da fotografia a perfeição das pinturas é substituída pela fotografia e as artes plásticas redefinem seu papel e expressão. Já em 1895, surge em caráter oficial o cinema, quando os irmãos Louis Lumière e Auguste Lumière, dando movimento às imagens apresentaram a primeira sessão de projeção em Paris. A fotografia e o cinema são invenções humanas que podem ser utilizadas nas instituições escolares permitindo a interpretação da realidade focalizada, a temática abordada, assim como uma teia de interligações que se fazem possíveis via análise, debate e interação mediatizada. Hoje é possível ter acesso a fotografias e filmes on line, facilitando a busca e o acesso. Com a ressalva de termos viabilizado a exclusão digital que impera no nosso país, onde uma parcela mínima da população têm acesso ao mundo www.

 

O italiano Guglielmo Marconi, em 1840, surpreende o mundo com a invenção do rádio, que promoveu nas décadas seguintes altíssima popularidade dado o seu poder de penetração, visto que os ouvintes não necessitavam ser alfabetizados para o compreenderem o que era veiculado, o que não podemos dizer o mesmo da imprensa que quando de sua invenção era um meio de comunicação restrito a uma minoria alfabetizada. O rádio, ainda hoje é considerado o meio de comunicação mais popular e este não só resistiu a invenção de outros meios de comunicação, como também se ressignificou no formato atual de  WebRádio, o que é possível “Utilizando um programa específico instalado no computador (o Real Audio), agora podemos ouvir não só nossa estação preferida, como as emissoras do mundo inteiro conectadas à Internet.” (SERRA & outros, 2003) A nova versão do rádio propicia  maiores opções  através de canais diversificados pelo mundo, com a comodidade do ouvinte não precisar necessariamente estar sintonizado no momento em que o programa vai ao ar, podendo escutar qualquer programa já gravado quando desejar. Conforme estes autores, hoje “Já são 561 (destas 23 são de Real Vídeo) as emissoras no mundo inteiro cadastradas no www.timecast.com, um endereço de busca especializado em estações de rádio e canais de TV paga.” O rádio criado a 163 anos, agora também na internet com novas possibilidades e a educação tendo aproveitado tão pouco deste recurso tecnológico no sentido de produzir programas educativos de rádio, de caráter crítico e inovador dentro e fora das instituições de ensino, podendo ser um canal de mobilização social em prol de valores e idéias, rediscutindo as informações veiculadas pelos meios de comunicação de massa e dando a estas uma roupagem questionadora, crítica, ativa, interativa, sem manipulação de conteúdos, respeitando e dando espaço as diferenças e aos diferentes recursos de manifestação cultural.

 

A Educação à Distância, assim como as escolas e os cursos profissionalizantes podem através de uma rádio Web disponibilizar programas educativos com diferentes temáticas, para diferentes cursos, que ficarão disponíveis on line e poderão ser acessados a qualquer momento e em qualquer lugar do mundo. Através deste recurso tecnológico não existe a possibilidade de se perder o programa porque no momento da transmissão a pessoa estivesse ocupada, uma vez que os programas estarão disponíveis on line e poderão ser acessado quando necessário ou possível. Mas o que é uma rádio Web? Conforme informa no site: <http://www.xl.pt/pcg/1002/webmulti/a01-01-00.shtml>Rádio Web é essencialmente uma estação rádio, que entre outras coisas, transmite pela Internet, tal como o faz através de ondas rádio. Isto significa que poderá ouvir uma estação visitando o respectivo site e clicando na opção indicada para ouvir "ao vivo", ou então pode utilizar programas do tipo Windows Media Player (presente em muitos dos novos computadores), através do qual pode ouvir inúmeras estações mundiais. Tudo isto funciona através da tecnologia streaming (transmissão em tempo real), que traz até ao seu computador um fluxo de som contínuo.” 


O site: <http://www.luteranosbrasil.com/radio/funciona.htm> informa que “Uma rádio Web é uma rádio como as que costumamos ouvir em casa, no carro, no trabalho, nos pátios das escolas. A diferença é que pode ser ouvida em qualquer lugar do planeta. Existem milhares de estações rádio espalhadas por todo o mundo que poderá ouvir através do seu computador.O receptor, ou o rádio, é um programa de computador chamado de "player" que funciona ao mesmo tempo com qualquer outro programa de computador. Isto significa que é possível navegar, trabalhar e estudar pela Internet enquanto escuta a rádio Web” que pode transmitir músicas ou programas educativos.

O "player" (o rádio que deverá estar instalado no computador) é o WINDOWS MEDIA PLAYER. Para ter este programa basta entrar no site http://www.luteranosbrasil.com/radio/funciona.htm> e clicar no local indicado para  instalar o programa.

 

No site da rbc < http://www.rbc.org.br/re.htm > encontra-se informações sobre rádio educativa, pesquisas e artigos. Além de uma relação de rádios livres; rádios comunitárias e rádios educativa.

Disponível em: http://www.rbc.org.br/radionet.htm. Já a PUC-Rio desenvolveu um programa de rádio pensado para o formato web intitulado Pilh@  disponível em:<http://www.puc-rio.br/rdc/projetos/> Onde você pode escolher a seqüência do programa e ouvir entrevistas e músicas da nossa MPB, incluindo é claro, as bandas dos alunos da PUC. Além disso, traz jogos, ciberlivros, vídeos e fotografias.

 

No contexto atual pesquisar as possibilidades educativas da rádio Web parece ser um novo desafio aos educadores.

 

A televisão é um outro recurso tecnológico que segundo BERTULANI, 2003, ao apresentar a história da eletrônica, narra que, “somente em 1920 é que se realizaram verdadeiras transmissões de imagens, graças às experiências de dois grandes cientistas: John Logis Baird (1888-1946), no Reino Unido, e Charles F. Jenkins (1867-1934), nos EUA”. O progresso e disseminação da televisão foram atrapalhados pela Segunda Guerra Mundial, porém em 1939 cinco países já haviam adotado o sistema eletrônico e no pós-guerra este teve um desenvolvimento significativo.  “Naqueles dias poucos poderiam imaginar o impacto que o novo veículo de comunicação iria provocar sobre a cultura e a sociedade”.(SERRA & outros, 2003) Hoje, aqueles que podem pagar já têm acesso a televisão por assinatura, a cabo ou via satélite ganhando maior poder de escolha frente aos programas que assisti, o que para alguns seria uma possibilidade de fuga do instrumento de manipulação, massificação e controle social do discurso televisivo de massa. Em função da unilateralidade do veículo, no caso a televisão, muitos atribuíram ao receptor uma atitude meramente passiva, consumidora de idéias e ideologias, a mercê do domínio de quem a articula. O que NOVAES (1991. p. 85) define assim: “A televisão é uma técnica do movimento que age sobre um corpo em repouso”.  Sendo este confirmado por SODRÉ (1981. p. 36.), quando argumenta que “Sua mais profunda natureza requer o silêncio do ouvinte, do telespectador”. Neste sentido os educadores e os alunos precisam mediar, interpretar, debater sobre o que se assistem e o que os mesmos articulam através dela, rompendo com a postura passiva de meros consumidores e se construindo como sujeitos pensantes, críticos, interativos e dinâmicos.

 

Dando continuidade as invenções tecnológicas ao longo dos últimos séculos e as mudanças provocadas pelos mesmos, temos a invenção do vídeo-cassete que trouxe para muitos lares uma nova opção de entretenimento, entretanto as instituições educativas também têm utilizado tal recurso tecnológico com o intuito de apresentar uma dada temática dispondo de áudio e vídeo, e assim interpretá-lo e analisá-lo. Muitas são as propostas e possibilidades educativas utilizando-se de tal ferramenta, seja vídeo como sensibilização, como ilustração, como simulação, como conteúdo de ensino, como apreciação de eventos vividos na escola, como avaliação, como espelho, como integração/suporte ou como produção dos alunos registrando um estudo, montando um telejornal com informações de caráter crítico, ponderando vários ângulos de uma mesma temática, dentre outras possibilidades. Tais fitas de vídeo devem ser selecionadas de acordo com a sua qualidade pedagógica e a confiabilidade das informações nelas contidas, visando à promoção da comunicação e interação entre o que se assiste e o conteúdo de estudo. É fundamental a figura do mediador, sendo este o profissional, professor, instrutor, técnico, etc, que propicia ao aluno telespectador conhecimentos prévios para a compreensão da fita apresentada, lhe chama a atenção para as questões relevantes ao estudo em desenvolvimento, estimulando lhe a refletir sobre o conteúdo apresentado, para tal faz interrupções no transcorrer exibição da fita para propor questionamentos, comentários, esclarecimentos e estimular o debate de idéias, de forma que ao longo deste processo, professores, instrutores, técnicos, etc e alunos, aprendizes, são ambos pólos, figuras mediadores de construção de conhecimento. Os mesmos questionamentos valem para a utilização educativa de outros recursos tecnológicos.

 

Em 1980 surge no mercado o computador pessoal que rapidamente difunde-se pelo mundo invadindo residências e empresas. Nas décadas seguintes o computador evolui ganhando agilidade, versatilidade, ocupando menos espaço, podendo ser transportado com facilidade como é o caso dos notebooks, desenvolvem-se vários softwares e a internet disponibiliza uma gama de informações e um novo espaço comunicacional, dentre outras possibilidades.

 

A internet é um veículo de informação e comunicação que pode ser utilizada pedagogicamente pelos educadores, mas esta é uma possibilidade a se construir, debater, experimentar, pesquisar. Entre 1968 e 1972 a Arpanet foi se estruturando e desenvolvendo estudos nos USA, mas “em 1973 foram estabelecidas as primeiras conexões internacionais, integrando à rede centros de pesquisa da Inglaterra e Noruega”.(GUIZZO, 1999, p. 19) Já em 1974, Vinton Cerf e Robert Kahn, publicam a obra A Protocol For Packet Network Interconnection, onde especificam as máquinas e sistemas operacionais para viabilizar a tão sonhada interconexão. Mas apenas em 1991, a então NSFNET anunciou a liberação de seu uso para fins comerciais o que acabou por impulsionar e popularizar a internet. A internet trouxe a história do homem uma nova estrutura de comunicação e transformou a cultura de seus usuários viabilizando uma comunicação global em diferentes áreas e assuntos. Segundo LÉVY (1999), "o nome Internet vem de internetworking (ligação entre redes). A Internet é um conjunto de meios físicos (linhas digitais de alta capacidade, computadores, roteadores Tc...) e programas usados para o transporte da informação". MATOS e VIEIRA, 2003, complementam pontuando que “Numa conceituação genérica a Internet é um conjunto de redes de computadores interligados pelo mundo inteiro que falam o mesmo protocolo, isto é, padrões e convenções que determinam como dois ou mais processos se comunicam e interagem para trocar dados, de forma que os usuários possam usufruir de serviços e comunicação em escala mundial”.

 

 

As páginas da internet estão estruturadas em hipertextos, que se constroem a partir de operação elementar da atividade interpretativa que é a associação dando sentido a um texto ligando-o e conectando-o a outros textos. Através do hipertexto, devido a maior dinâmica ao texto, rompendo com a linearidade, disponibilizando um número ilimitado de informações, o internauta pode definir e selecionar o que busca possibilitando uma série de possibilidades, com direito à inúmeras tentativas e mudança de temática, dado ao caráter essencialmente interativo a transmissão da Internet que depende das ações do internauta, de modo ativo frente ao que escolhe ler, copiar, enviar, criar... O que segundo, o físico e matemático holandês, Vanevar Bush, em 1945, “a mente humana funciona através de associações desenhando trilhas que se bifurcam e vão pulando de uma representação para a outra ao longo de uma rede intricada”.(SERRA & outros, 2003) Os links que permitem a interconexão entre vários elementos, desta forma, os internautas recebem as informações através de textos, imagens, sons, relacionadas com o que solicitaram ao selecionar.

 

 Os educadores precisam produzir conhecimentos que consigam considerar as peculiaridades da Internet, em especial sua característica de interatividade, considerando também sua potencialidade informativa, comunicacional, de pesquisa, aliada ao entretenimento. Há de se desenvolver pesquisas e iniciativas neste sentido, para pensar as possíveis aplicações e implicações da internet nos ambientes escolares. O que a interatividade traz para os processos de construção de conhecimento? E para as possibilidades de mediação neste mesmo processo? Segundo esses autores, “Com a www, a Internet não pode ser tida como apenas um novo meio de comunicação. É, na verdade, um ambiente comunicacional, onde diferentes meios podem se conjugar. Há um movimento de convergência tecnológica, num mesmo suporte tem-se a possibilidade de reunir texto, som, imagem e imagem em movimento. A utilização de todos esses recursos facilita e oferece novas possibilidades para a comunicação”.

 

Outra peculiaridade da Internet, como aponta (PALÁCIOS, 2003), é o fato de que, “pela primeira vez, se tem massividade e interatividade associadas. O jornal impresso e a televisão são meio massivos, já que possuem grande alcance, mas não são interativos — a comunicação ocorre em uma só via. O telefone é um meio interativo — a comunicação ocorre em duas vias —, mas não é massivo. Na Internet, a interatividade não é mais uma potencialidade e sim o modo de ser constitutivo da rede.”

 

Dado ao pouco tempo histórico de disponibilidade da internet as suas possibilidades ainda têm sido sub-aproveitadas têm-se que investir em pesquisa, experimentar, testar possibilidades, criar dimensões para sua utilidade e papel frente as interrogantes educacionais, pautadas hoje e seu perfil enquanto linguagem e interatividade.

 

LEMOS, 2003, situa a noção de interatividade em três níveis: “uma interatividade social, que marcaria de um modo geral nossa relação com o mundo e toda vida em sociedade; uma interatividade técnica do tipo ‘analógico-eletro-mecânica’, que experimentamos ao dirigir um automóvel ou mesmo ao girar a maçaneta da porta; e outra do tipo “eletrônico-digital”, que seria ao mesmo tempo técnica e social. É esta última que nos interessa particularmente.” Sendo, que SERRA & outros, 2003, sinalizam que “algumas características vão marcar a interatividade entre os usuários e os mídias digitais: 1) Feedback imediato, ou seja, cada ação do usuário corresponde a uma reação praticamente simultânea da máquina. 2) Os sistemas informatizados são concebidos de modo a prever o número mais alto possível de perguntas e as múltiplas combinações de respostas para que o usuário tenha a impressão de estar interagindo de forma análoga ao diálogo interpessoal e não perceba que a interação se dá dentro de um número limitado de possibilidades oferecidas pelo equipamento. 3) Capacidade de interagir de forma individualizada, em oposição aos meios massivos tradicionais. 4) Possibilidade de manipulação do conteúdo da informação.

 

Ao permitir a comunicação entre os diversos usuários, a exemplo das trocas de e-mails, IRCs e chats na Internet, as novas tecnologias também possibilitam uma interação social. Do mesmo modo que o telefone, o computador pode ser considerado uma ferramenta convivial no sentido atribuído por Ilich.”

 

O Ministério da Educação e Cultura através do Programa Nacional de Informática na Educação – ProInfo e em parceria com professores e Multiplicadores em todo o país, tem buscado integrar o uso de tecnologias de informática e telecomunicações ao processo de ensino-aprendizagem, em projetos interdisciplinares mediante a utilização de uma variedade de aplicativos básicos nos laboratórios de informática das escolas. A exemplo vale ressaltar a experiência conduzida por professores e alunos de diferentes cidades do Brasil para explorar o potencial pedagógico do web-based chat que para tal desenvolveram um projeto piloto para explorar as suas diferentes aplicabilidades pedagógicas deste recurso tecnológico.

 

O Projeto Piloto consiste em um ambiente de bate-papo na web de fácil operação buscando pesquisar e experimentar o emprego de computadores e da Internet para melhorar a qualidade da educação em escolas brasileiras, compreendendo este como um projeto dinâmico, colaborativo, interdisciplinar, interessantes e com possibilidade de implementar mudanças significativas nas escolas. “O Projeto Piloto Chat demonstrou que o chat na Internet pode ser uma ferramenta pedagógica poderosa que, definitivamente, pode melhorar o processo de ensino-aprendizagem de maneiras diferentes”.(RUSTEN e outros, 2002) Tal ferramenta pedagógica viabiliza seminários, entrevistas e debates virtuais; assim como orientação de profissionais especializados nos temas em estudo, sem que os mesmos tenham que se deslocar até a escola, já que todo o processo pode ser desenvolvido on line; o projeto piloto  demonstrou resultados interessantes como instrumento de comunicação de deficientes auditivos com outras pessoas não portadoras de deficiência; além da possibilidade de capacitação continuada de professores, troca de experiências e comunicação dos resultados de pesquisas desenvolvidas.

 

O uso pedagógico do chat, ou sala de bate-papo on line é um campo a se investigar e pode trazer novas dimensões não só para o ensino à distância, mas como instrumento de construção de conhecimentos, pesquisa, troca de informação e comunicação entre sujeitos que buscam aprender, seja em instituições de ensino ou não. Segundo RUSTEN e outros, 2002, “O chat na Internet é uma forma de comunicação sincrônica on line que utiliza um software para manter discussões em tempo real, via teclado. Diferentemente de muitos aplicativos de bate-papo pela Internet hoje existentes, o software de chat utilizado nesta atividade piloto, Ralf's Chat, foi inserido no website da LTNet possibilitando a realização dos bate-papos com muita facilidade. O único requisito era o acesso a computadores conectados à Internet e o uso de uma versão recente de um browser, tal como o Internet Explorer, da Microsoft, ou o Netscape”. E complementam ponderando que o chat na internet “se torna uma ferramenta mais poderosa quando combinado com outras ferramentas, tais como correio eletrônico e listserv. Essa combinação de ferramentas de comunicação permite discussões mais amplas e aprofundadas”.

 

O webquest é um  protótipo de ambiente de aprendizagem colaborativa a distância, empregando a internet, baseado na Pedagogia de Projetos, que é proposto por RIBEIRO e JÚNIOR,2003 no artigo intitulado “WEBQUEST: Protótipo de um Ambiente de Aprendizagem Colaborativa a Distância Empregando a Internet” disponível em: http://www.abed.org.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=110&sid=124&UserActiveTemplate=4abed e vale conhecer e investigar.

 

 

Os softwares educativos disponíveis no mercado precisam ser analisados avaliando se os mesmo possibilitam a construção de conhecimentos, assegurando interação, comunicação, níveis de ajuda, promoção da aprendizagem significativa, caso contrário qual o valor de tal instrumento? Segundo SANTOS, 2002, “...o material didático disponível para subsidiar a intervenção pedagógica apoiada pela tecnologia informática (os softwares educativos) não é, via de regra, desenvolvido por educadores, mas por especialistas da área da ciência da computação, em grupos fechados e muitas vezes unidisciplinares. Em função disto, poucos – ou raros – são os recursos efetivamente interessantes do ponto de vista pedagógico”. Ainda de acordo com VIEIRA, 2003, "avaliação de softwares educativos significa analisar como um software pode ter um uso educacional, como ele pode ajudar o aprendiz a construir seu conhecimento e a modificar sua compreensão de mundo elevando sua capacidade de participar da realidade que está vivendo”. Avaliação de softwares educativos nos remete a uma reflexão criteriosa, uma vez que analisar a proposta pedagógica dos softwares educativos permite ao educador compreender os fundamentos epistemológicos que o permeiam e assim avaliar se os mesmos atendem aos objetivos educacionais contemporâneos ou se ao menos podem ser utilizados nas instituições de ensino mediante intervenções pedagógicas planejadas pelos educadores.

 

Há de se investir em pesquisas e projetos interdisciplinares onde pedagogos, psicólogos, licenciados em geral e especialistas da área da ciência da computação debatam possibilidades educativas para as NTIC e construam softwares educativos de qualidade pedagógica e política, atendendo aos anseios e postulados das ciências da educação.

 

Outra questão a se discutir é que os cursos de formação de professores precisam encarar os desafios de promover pesquisas e inovações com a utilização crítica das NTIC aplicadas à educação, além de aproximar seus acadêmicos das potencialidades da pesquisa educacional mediante a utilização do computador e da internet, mas também de disponibilizarem artigos e conteúdos de qualidade na internet. “Já é bastante evidente que o desenvolvimento da informática educativa no Brasil ainda é um problema crucial, que precisa de soluções de peso, na medida em que a democratização do acesso as novas tecnologias de comunicação e informação é condição incontornável para garantir o ingresso e a permanência do país na chamada Sociedade da Informação”. (SANTOS, 2002)

 

Os softwares livres parecem ser uma alternativa a ser investigada pelos educadores dada sua filosofia e flexibilidade, uma vez que a educação prima pela produção e disseminação do conhecimento humano e o software livre em sua estrutura de rede (internet e intranet) refere-se à liberdade dos usuários executarem, copiarem, distribuírem, estudarem, modificarem e aperfeiçoarem o software. Mais precisamente, ele se refere a quatro tipos de liberdade, para os usuários do software livre, conforme conferimos no site http://www.gnu.org/philosophy/free-sw.pt.html: a) A liberdade de executar o programa, para qualquer propósito (liberdade nº 0); b)A liberdade de estudar como o programa funciona, e adaptá-lo para as suas necessidades (liberdade nº 1). Aceso ao código-fonte é um pré-requisito para esta liberdade; C) A liberdade de redistribuir cópias de modo que você possa ajudar ao seu próximo (liberdade nº 2); d) A liberdade de aperfeiçoar o programa, e liberar os seus aperfeiçoamentos, de modo que toda a comunidade se beneficie (liberdade nº 3). Acesso ao código-fonte é um pré-requisito para esta liberdade.

 

Os softwares livres parecem sinalizar possibilidades educativas fecundas, cabendo a universidade e aos educadores pesquisarem e criarem alcances pedagógicos para tal.

 

 

Acompanhando o avanço tecnológico, em 1978, os japoneses inventaram o celular, que nas décadas posteriores invadiram o mercado mundial, possibilitando que o já conhecido telefone, em nova versão fosse transportado, o que provocou fortes mudanças de comportamento social e a cada nova versão o aparelho vai ganhando acessórios e aplicabilidades, sem dúvida alguma atendendo a interesses econômicos. O celular vem sendo utilizado para telefonar, passar mensagens escrita ou pictográfica, trocar informações e fica a indagação de quais seriam as possibilidades desta tecnologia para fins educativos. Precisamos investigar.

 

ENZENSBERGER, alemão de vertente marxista, defende que “o paradigma emissor-receptor da comunicação de massa reproduziria a luta de classes no capitalismo. O emissor representaria, portanto, o empresário das comunicações, que por sua vez identifica-se com a classe dominante e o receptor, a classe dominada”.(SERRA & outros, 2003). Partindo dessa premissa, Enzensberger vai propor uma estratégia política organizada de tomada do poder mediático, onde o controle dos veículos de comunicação de massa sofreria um processo de descentralização e passaria a ser exercido não mais pelos proprietários, mas por organizações autogestoras. Segundo SODRÉ, o “uso emancipador” dos meios de comunicação, defendido por Enzensberger, implicaria em:

 

a) programas descentralizados (ao invés de submetidos a um controle central);

b) cada receptor, um transmissor em potencial (em vez de um emissor e muitos receptores);

c) mobilização das massas (e não imobilização de indivíduos isolados);

d) interação dos participantes, feed back (em vez de conduta passiva ao consumo);

e) processo político de aprendizagem (contrário ao processo de despolitização);

f) produção coletiva (em substituição à produção por especialistas);

g) controle socializado por organizações autogestoras (em lugar do controle exercido por proprietários e burocratas)” (SODRÉ, 1981, p. 36)

 

As idéias de Enzensberger podem contribuir significativamente para as pesquisa educacionais vinculadas à tecnologia e educação; informática educativa; recursos tecnológicos e aplicações educacionais, dentre outras.

 

Já a discussão proposta por SOUZA, 2003 é que a utilização das NTIC se dê como fundamento e não como instrumento aplicado à educação, enfatizando que “A utilização das Novas Tecnologias” como Instrumento, apenas representa, segundo Pretto, 1996, "mais um recurso didático-pedagógico", que tem a finalidade de agir sobre um sistema já existente. Já como Fundamento, possibilita o estímulo à criatividade e uma comunicação bidirecional, onde, tanto os orientadores como orientados são responsáveis pela solidificação da Linguagem e assim do imaginário social.” Neste sentido parece existir uma concordância entre o que debatemos, uma vez que temos clareza que as políticas educacionais, o sistema educacional, as escolas precisam ser modificadas e construídas com pilares que promovam ao indivíduo à autonomia, à liberdade de expressão, o estímulo à pesquisa e o desejo social de aprender a aprender, pautado em bases democráticas que permitam ao homem indignar-se frente às desigualdades, a fome e a miséria existente no mundo. E não apenas indignar-se, mas buscar transformar tal realidade, produzindo conhecimentos e assumindo postura questionadora capaz de buscar modificar a presente realidade mundial.


SOUZA, 2003, pontua que “A partir da compreensão da representação dos significados, as tecnologias passam a ser vistas como Linguagem e suas utilizações não se restringem aos recursos instrumentais, mas às novas propostas de pensar que se tornam possíveis”. E complementa sinalizando que “percebe-se que o entendimento da Linguagem assumida pelas tecnologias, representa um marco inicial para o saber aplicá-las no meio social, em especial, nesse caso, no ambiente educacional.” E pondera que “ a aceitação dessas tecnologias, por cada instituição social, depende do grau de reconhecimento da Linguagem como representadora das significações decorrentes do imaginário social da sociedade.”

 

Quanto aos alcances e desafios pedagógicos na utilização das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação, em especial os computadores e a internet, estão vinculados às suas potencialidades para promover interação intra e interpessoal, comunicação, troca de experiências e conhecimentos, oportunidades de pesquisas, tendo acesso a fontes diversificadas de informações e ser mediada conforme as necessidades e oportunidades individuais e coletivas em ambientes de aprendizagem. Neste sentido, a proposta do Programa Nacional de Informática Educativa do MEC é utilizar o computador na escola com o “objetivo de criar um ambiente de aprendizagem onde o aprendiz processe a informação, agregue-a a seus esquemas mentais e coloque-a para funcionar mediante um desafio ou situação problema”. (VIEIRA, 2003, p. )

 

Conclusão

 

A título de considerações finais, tem se que, a avaliação contínua dos processos de construção de conhecimentos nas instituições de ensino, a análise dos dados e informações coletados em pesquisas sobre as práticas pedagógicas, a reflexão, a implementações de mudanças qualitativas no processo educativo, promovam uma constante que assegure a superação e o desenvolvimento aos processos educativos e aos indivíduos sociais. O que possivelmente se viabilize mediante gestão das instituições educativas que seja construtiva, participativa, dialogada e democrática. E, por outro lado, a formação continuada interdisciplinar de profissionais da educação precisa favorecer o desenvolvimento de competências e habilidades de profissionais pesquisadores, reflexivos e construtores de novas práticas e teorias, compreendendo essa nova forma de pensar e produzir conhecimento proposto pelas NTIC no atual contexto social-histórico, podendo assim assegurar à educação a melhoria de sua qualidade política, à sociedade um cidadão mais feliz e desenvolvido e ao mundo, a possibilidade de se rever e buscar alternativas frente à desastrosa realidade de desigualdade e exclusão social. A Educação à Distância tem historicamente contribuído na relação entre as tecnologias e o ensino, com o objetivo de construir conhecimentos, porém este ainda é um longo caminho a se percorrer.

 

 

 

 

 

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¹Marilza Vanessa Rosa Suanno

Pedagoga/ Especialista em Planejamento Escolar/Mestranda em Ciências da Educação Superior pela Universidade de UEG /Havana.

Professora: da Universidade Estadual de Goiás; Universidade Católica de Goiás; Curso de Formação de Oficiais da Academia de Polícia Militar de Goiás; Curso de formação do Corpo Docente da Polícia Comunitária; Especialização em Psicopedagogia da Fundação Franscisco Mascarenhas.

e-mail: suanno@brturbo.com  ou suanno@uol.com.br