NOVAS
TECNOLOGIAS:
REPERCURSSÕES NO TEMPO E NO ESPAÇO
DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
EDUARDO
PIMENTEL MENEZES
UNIVERSO – UNIVERSIDADE SALGADO DE OLIVEIRA
epmenezes@ig.com.br
RESUMO
Este trabalho pretende investigar a interferência das novas tecnologias
da informação e da comunicação na organização do espaço e do tempo sob o
ponto de vista da educação a distância. O tema é relevante e atual,
principalmente quando consideramos a posição atribuída à educação no atual
contexto da globalização.
Palavras-chave: espaço – tempo – educação a distância
INTRODUÇÃO
Vivemos o período da informação, que é matéria-prima da revolução tecnológica e da organização da economia em escala planetária. Sob esse ponto de vista, acreditamos que vivenciamos um período em que as tecnologias da informação e comunicação possibilitam novas atividades e expressões de vida, sem hierarquias, gerando outros fenômenos socioculturais e econômicos. Essa nova conjuntura vai se refletir no âmbito educacional, na medida em que surgem novas propostas e projetos pedagógicos idealizados em consonância com novos arranjos espaciais e territoriais, além de novas percepções de tempo para os projetos destinados, principalmente, ao ensino a distância.
O presente trabalho tem por objetivo analisar as distintas formas de se perceber e conceber o tempo e o espaço, a partir do desenvolvimento das tecnologias da informação e comunicação, nos projetos de ensino a distância virtual.
O DESENVOLVIMENTO DAS NOVAS TECNOLOGIAS
É possível dizer que estamos vivenciando um paradigma info-tele-comunicacional¹, de base tecnológica, comercial e industrial. A digitalização estaria permitindo a existência de uma plataforma tecnológica única para a produção da informação. A convergência digital cria novos aparelhos, novas formas de comunicação e novas plataformas de produção de dados, fazendo surgir novos canais a partir da hibridação de formas de comunicação, antes isoladas.
A junção do som, imagem e dados, a partir da convergência info-tele-comunicacional gera o fenômeno multimídia em uma plataforma única, modificando os três setores e possibilitando novas formas de se produzir e vincular a informação. Ocorre assim a dificuldade de se distinguir as diferentes linguagens utilizadas para se comunicar. Ex: De posse de um equipamento adequado, é possível fazer um interurbano via Internet na Europa e nos EUA. Fala-se com um outro país pelo computador, vendo a imagem dos integrantes do diálogo. Essa integração só é possível com a digitalização – avanço tecnológico. A tecnologia é que gerência e pilota todas as mudanças. É como o piloto da cabine de comando de uma avião, onde todo o sistema é controlado pelo computador.
EXCLUSÃO OU INCLUSÃO DIGITAL ?
A tecnologia só pode existir de fato quando ela se horizontaliza. A tecnologia não pode existir, verdadeiramente, sem se inserir no mercado. Sob essa lógica de raciocínio, as novas tecnologias só podem prosperar, exercer mecanismos de influência nas classe populares e se ramificarem se ocorrer a massificação e a horizontalização. Caso contrário, ela não tem como prosperar. Ao se acreditar que os avanços tecnológicos ficam circusncritos a classe hegemônica, dentro de um padrão elitista, não se entende sua lógica e o seu real funcionamento. O produto tecnológico nasce elitista, prospera, se massifica e termina o seu ciclo. Surge, então, um novo produto de base elitista, prospera ...
A
TECNOLOGIA HOJE
Ocorre, hoje, o surgimento de uma nova safra de produção de produtos digitalizados, sem limite para o seu crescimento. A indústria multimídia nos EUA crescem mais do que o mercado financeiro. Não é o mercado de mídia e sim o de multimídia – info-tele-comunicacional. São mídias de outra ordem, são digitais na sua essência, no seu surgimento, na sua origem. De acordo com MORAES ( 1998 ):
A
estratégia multimídia
da AT&T
– líder
em
telefonia de longa distância nos EUA e
segunda
no mundo,
atrás apenas da
japonesa
Nippon Telephone and Telegraph
TT,
avança para concretizar, o mais rápido
possível,
a convergência
entre telefonia,
Internet e tv por assinatura. p. 31
Um outro exemplo pertinente seriam os bancos. O Itaú, o Bilbao e o Citibank, por exemplo, não produzem tecnologia informacional, eles compram essa tecnologia. Eles necessitam desse acoplamento com as tecnologias digitais, pois são globais. Esses bancos não poderiam funcionar com todas as suas agências, simultaneamente, se não possuíssem tecnologias da informação modernas, funcionando em tempo real. A capacidade de comunicação é o eixo fundamental de seu funcionamento. Dessa forma, os bancos têm participação acionária nas grandes empresas de comunicação sem produzirem comunicação. Ao mesmo tempo, as indústrias multimídias captam recursos para o seu desenvolvimento no mercado financeiro e nos empréstimos bancários. Os bancos são sócios estratégicos nas empresas de comunicação, sem serem sócios majoritários, mas são sócios fundamentais.
O
MODELO ATUAL DE FUNCIONAMENTO DAS EMPRESAS LIGADAS A LÓGICA
DA INFORMAÇÃO E A CAPTAÇÃO DESSE MODELO PARA O ENSINO A DISTÂNCIA.
As holdings protagonizam o centro de coordenação de estratégias de lucro e da internacionalização da corporação. Não se repete a estrutura piramidal da lógica fordista, pelo contrário, ocorre a autonomia das filiais de acordo com as lógicas locais. Existe a flexibilidade operacional, funcionando como rede, além de ser descentralizada, autonomizada e se adaptando às modificações. Ocorre, de fato, a descentralização das funções e a centralização das decisões, caracterizando a imagem de que as empresas atuais são cada vez mais democráticas e interativas. A democratização realmente ocorre nas funções, mas nas decisões só a holding é que decide.
De acordo com as conformidades expostas anteriormente é possível fazer um paralelo entre o modo de funcionamento das empresas ligadas à informação e os novos projetos espaciais e temporais destinados a educação a distância.
TECNOLOGIA,
TEMPO, ESPAÇO E EDUCAÇÃO
O desenvolvimento da tecnologia transforma o modo com que compreendemos o tempo e o espaço. Surgem novas percepções e diferentes noções das que, até então, eram consideradas socialmente aceitas para o tempo e o espaço.
De
acordo com Kenski ( 1997 ):
A tecnologia digital rompe com a narrativa
contínua
e seqüencial das imagens e
textos
escritos e se apresenta
como um fenômeno
descontínuo.
Sua
temporalidade e
espacialidade,
expressa em imagens e textos
nas
telas, estão diretamente relacionadas ao
momento de sua
apresentação. Verticais,
descontínuas,
móveis e imediatas, as imagens
e
textos digitalizados a partir da conversão
da
informação da informação em bytes, têm o
seu
próprio tempo, seus próprio
espaço: o
tempo
e o espaço fenomênico
da exposição.
Elas
representam um outro tempo, um outro
momento,
revolucionário, na
maneira
humana
de pensar e compreender p. 08.
A
partir da citação acima podemos perceber que o espaço e o tempo relacionados
ao ensino, em especial nos projetos contemporâneos de educação a distância
que adotaram a lógica espacial e temporal baseada nas novas tecnologias da
informação e comunicação – NTCI, encontram-se em processo de
redimencionamento e/ou criação de seus espaços físicos para atender a uma
nova lógica de utilização do tempo e do espaço. A materialidade dos lugares
do saber, um campus, uma biblioteca, um laboratório, uma sala de aula, em que
os alunos e professores se encontram fisicamente, passa por significativas
alterações. As NTCI, viabilizam propostas de alguns autores para a formação
de uma nova escola e uma nova sala de aula. Como exemplo, podemos citar Kenski (
1997 ):
Nessa
nova sala de aula ( e, obrigatoriamente,
nova
escola nada
é fixo,
mas não reina a
desordem
nem o relativismo absoluto. Os atos
coordenados
e avaliados
em tempo real
de
acordo
com um grande número
de critérios,
constantemente reavaliadaos
conforme o
contexto
p. 68-69.
E ainda sobre novos projetos
espaciais para as universidades do “futuro”, Demo ( 1998 ) é categórico em
afirmar:
Os alunos não vão para a
universidade escutar
discurso
dos professores, mas trabalhar juntos,
construindo
conhecimento. O amontoado linear
de
salas de aula deverá ser
substituído pelos
projetos
avanguardistas de pesquis, locais de
trabalho
individual e
coletivo, bibliotecas e
videotecas
soberbas e atualizadas, laboratórios
de
toda sorte, campos de
experimentação, e
assim
por diante p. 35.
Esse tipo de proposta, relacionada a novos modelos espaciais de universidades, é recente ? Inovadora ? Acreditamos que não. A grande novidade estaria no destaque e divulgação que tais propostas recebem nos dias atuais, já que se tornaram historicamente operante em função do desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação. Dessa forma novos projetos pedagógicos apoiam-se em novos arranjos espaciais e territoriais.
Acrescentando
mais um autor que defende propostas de novos espaços e de novas funções para
as universidades, podemos citar Lévy ( 1999 ):
Por
que construir universidades
em concreto
em
vez de
encorajar o desenvolvimento de
teleuniversidades
e de sistemas de aprendizagem
interativos
e cooperativos
acessíveis em
qualquer
ponto do território p. 127 ?
CONCLUSÃO
As “novas” propostas espaciais, acima citadas, se encontram vinculadas a lógica do computador, que amplia o poder de comunicar, antes realizado pelo automóvel, pelo rádio, pela televisão e pela mídia impressa. Sendo assim, é fundamental que tenhamos a noção de que o desenvolvimento das NTIC afetam e redimensionam o cotidiano de toda a sociedade que se encontra inserida em sua lógica. Toda a sociedade, de forma direta ou indireta, é “chamada” a se adequar a uma nova situação que surge como inevitável e irreversível.
Teríamos,
necessariamente, que nos adaptar, redirecionando os nossos hábitos e costumes.
Para Santos ( 1996 ):
Cada
nova técnica não apenas conduz a uma
nova
percepção de
tempo. Ela
também
obriga a
um novo uso do
tempo, a
uma
obediência
cada vez mais estrita ao relógio,
a
um rigor de comportamento adaptado
ao
novo
ritmo... A influência das técnicas sobre
o
comportamento humano afeta as maneiras
de pensar,
sugerindo uma economia de
pensamento
adaptado
à
lógica do
instrumento
p. 123-124.
Os projetos da universidades virtuais
inauguram uma nova relação espacial e não somente um novo modelo espacial. As
universidades virtuais, diferentemente das universidades “tradicionais”,
podem projetar-se para locais que vão além do seu entorno imediato ou próximo.
O sentido que a distância passa a Ter é modificado. Uma universidade
“tradicional”, possui como área de influência o município na qual se
encontra, ou em outra escala, o estado, a região e, dependendo do seu porte, até
o país, só que em uma dimensão insignificante. Já as universidades virtuais,
deslocam-se do seu entorno e projetam-se facilmente para todo o país e mesmo
para todo o mundo. Um aluno que mora no Japão pode estudar em uma universidade
do Brasil com a mesma “facilidade” que um indivíduo que mora na mesma rua
da universidade.
Estamos diante da revolução multimídia.
Ela se concretiza a partir de uma linguagem digital única, habilitada a
integrar. Os sinais de vídeo, audio e dados, antes processados de forma
independente, passaram a ser trabalhados do mesmo modo. A digitalização, de
acordo com Dênis de Moraes ( 20021 ) “forja a base material para a hibridação
das infra-estruturas indispensáveis à transmissão em altíssima velocidade, e
com amplo espectro de difusão”. É a partir dessa lógica que se concretizam
os novos projetos destinados a educação, configurando novos tempos e espaços
articulados as novas tecnologias. É a tecnologia flexível que se encontra
redimensionando os espaços da sociedade contemporânea para, dessa forma,
seguir sua lógica de funcionamento e não mais a de um modelo fordista
de organização espacial da sociedade.
Qual o papel do professor no
surgimento desta nova concepção de tempo e espaço que se delimita ? Devemos
apenas reproduzir a linguagem das novas tecnologias ? Devemos estimular a
qualquer preço o adestramento da população para receber essa tecnologia ? Sob
o nosso ponto de vista, acreditamos que devemos repensar o papel da educação e
de que forma e educação atual deve se associar às novas tecnologias. Sem essa
análise e discussão estaremos reproduzindo os mesmos modelos de educação do
passado, além de toda estrutura de desigualdade até hoje existente na
sociedade mundial.
¹ - O termo paradigma info-tele-comunicacional e todo o raciocínio inicial do trabalho sobre o papel atual das novas tecnologias foi desenvolvido a partir das aulas de Mestrado em Comunicação na UFF com o professor Dênis de Moraes.
BIBLIOGRAFIA
DEMO,
Pedro.
Questões para a teleducação. Petrópolis: Vozes, 1998.
KENSKI,
Vani Moreira. Novas Tecnologias: O redimensionamento do espaço e do tempo e os
Impactos no Trabalho Docente. XX Reunião Anual da ANPEd, Caxambu, 1997.
LÉVY,
Pierre. Cibercultura. São Paulo: 34, 1999.
______
As Tecnologias da Inteligência: O Futuro do Pensamento na Era da Informática.
Rio de Janeiro, 34, 1993.
______
O
Que é o Virtual ? São Paulo: 34, 1996.
MORAES,
Dênis.
Planeta Mídia. Campo Grande; Letra Livre, 1998.
________,
Globalização, Mídia e Cultura Contemporânea. Campo Grande; Letra Livre,
1997.
SANTOS,
Milton. Por Uma Outra Globalização. Rio de Janeiro; Record, 2000.
______
Técnica,
Espaço, Tempo ( Globalização e meio técnico-científico-informacional ).
Editora Hucitec. São Paulo, 1994.
______
A
Natureza do Espaço ( Técnica e tempo, razão e emoção ),
Editora Hucitec, São Paulo, 1996.
______
Brasil:
Território e Sociedade no Início do Século XXI, Editora Record, Rio de
Janeiro, 2001.