Educação a Distância: buscando rumos para a qualificação de professores em Informática Educativa

ABRIL/2004

 

Lina Cardoso Nunes
Universidade Estácio de Sá
linanunes@ig.com.br

 

D - Educação a Distância nos Sistemas Educacionais
1. Educação Fundamental, Média e Tecnológica

Resumo
Este trabalho tem o propósito de refletir sobre a urgência na qualificação de professores em informática educativa, na modalidade a distância, tendo em vista pesquisas realizadas no estado do Rio de Janeiro (ALMEIDA, 2003, TORRES, 2003 e CARVALHO; 2004), que sinalizam a ainda precária formação dos professores na utilização das tecnologias de informação e comunicação na sala de aula. A educação a distância e os recursos do ambiente virtual em projetos de aprendizagem colaborativa têm efetivamente comprovado suas possibilidades para enfrentar o desafio de preparar professores, desenvolvendo habilidades básicas para acessar o computador e navegar com competência pela rede digital (VALENTE, 2003). Nessa perspectiva cabe alertar para a importância de refletir sobre a busca de rumos para a qualificação de professores no uso das inovações tecnológicas, por meio da implementação de cursos a distância,o que pode minimizar os problemas que encontramos no ensino fundamental e médio, para a inclusão digital, possibilitando a democratização das informações entre crianças e jovens.

Palavras-chave:
Informática Educativa, formação de professores e educação a distância

 


1 Delineando o tema

O sistema educacional brasileiro vem apontando para a questão da necessidade de formação de professores no enfrentamento dos desafios do mundo contemporâneo, através de discussões sistemáticas (PRETTO, 2002). São colocadas em pauta questões que versam sobre inovações educacionais relacionadas à seleção de conteúdos, utilização de procedimentos de ensino e avaliação e a aplicação das tecnologias da informação e comunicação (TIC) na sala de aula. Busca-se, nesse sentido, um novo paradigma para a Educação (MORAES, 2002) que contribua para o enfrentamento dos desafios da sociedade da informação.

Pretto (2002) sinaliza para as políticas públicas, através de programas governamentais como o Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (FUST), que mostram o empenho na “democratização do acesso ao mundo digital” (PRETTO, 2002, p.124). Este fundo foi criado a partir da Lei Geral das Telecomunicações aprovado em 1997, iniciando-se no Brasil o processo de privatização dos sistemas de telecomunicações. No entanto, o projeto demorou três anos para ser regulamentado, só sendo aprovado no ano de 2000. A referida lei previa a distribuição de recursos para a universalização dos serviços de telecomunicações. Apesar dos dispositivos legais não se efetivou o recolhimento desses recursos o que inviabilizou a solução da conectividade tão desejada das escolas do ensino público fundamental e médio.

Assim, ainda assistimos a uma tendência à exclusão digital entre os que freqüentam as escolas de Ensino Fundamental e Médio – professores e alunos, e se inserem em grupos sociais menos favorecidos economicamente. Nesse contexto, a realidade que se nos apresenta é a de comunidades escolares com menos condições para conectar-se à rede e familiarizar-se com os benefícios da inclusão digital. Considerando que a conectividade possibilita o acesso a um extraordinário volume de informações com perspectivas de ampliação de conhecimentos e que a população dos sistemas educacionais em foco está, em grande parte, afastada da rede digital, emerge aqui uma questão que orienta o presente trabalho assim formulada: quais as possibilidades que os professores responsáveis pela população de crianças e jovens do ensino fundamental e médio têm para alfabetizar-se tecnologicamente, tendo em vista os poucos recursos disponíveis de acesso à rede nas escolas públicas onde estão alocados?

Na perspectiva de mostrar aspectos dessa realidade no estado do Rio de Janeiro remetemos a três estudos (TORRES, 2003; ALMEIDA, 2003 e CARVALHO, 2004) nos quais os participantes destacaram em seus depoimentos o problema do despreparo dos professores para a utilização dos dispositivos telemáticos, como um dos entraves na apropriação dos conhecimentos propiciados pela rede, recomendando a urgência na qualificação dos professores para a utilização das TIC.

O primeiro dos estudos em foco (Caso A) foi realizado em salas de leitura-pólo de quatro escolas públicas de ensino fundamental inseridas no programa da Multieducação, sendo entrevistados professores do Ensino Fundamental; o segundo (Caso B) ocorreu em uma escola de formação para o magistério de 1a. a 4a. – Ensino Médio, instituição vinculada ao Proinfo, tendo como participantes futuros professores do curso de Magistério - alunos da terceira série do Ensino Médio e o terceiro (Caso C), em uma instituição destinada a portadores de necessidades educativas especiais – PNEE - teve como respondentes os professores desses alunos.

Cabe sinalizar que os três estudos utilizaram como modalidade de análise de dados a análise de conteúdo – na técnica de análise temática (BARDIN, 1988) e que este trabalho constitui um recorte dos referidos estudos relativos à preocupação com a formação de professores para as atividades com a Informática Educativa e os espaços alternativos propiciados pela Educação a Distância.

 

2 Apresentando os resultados dos estudos

No caso A, referente às escolas em que estão implementadas as salas de leitura-pólo (TORRES, 2003), destacou-se o tema relacionado à questão da falta de preparação do professor lidar com a Máquina. Pode-se perceber na fala dos participantes como essa falta de preparo do professor dificulta o desenvolvimento e o conhecimento dos computadores nas escolas.

CAP1 - Olha, eu não sei usar o computador. Estou fazendo um curso para conhecer alguma coisa. Mas eu não conheço nada. Agora que eu estou conhecendo, porque eu estou fazendo curso. Porque são muitas turmas, tem que fazer escala, as turmas são enormes, infelizmente os professores dessa escola não tiveram cursos. As professoras da sala de leitura não tiveram, eu estou fazendo particular, por fora. Então, agora eu vou conhecer realmente este tipo de trabalho e de repente eu possa fazer com os meus alunos na informática. Que até então, foi mesmo com a ajuda de outro professor.
CAP2 - Foi na sala de leitura, quando foi montado o laboratório e nós fizemos um curso pela CEFET, o Município ofereceu ao CEFET, que fez esse curso com a gente de Informática Educativa, então no início eu não tinha muita visão de Informática Educativa, era informática de máquina, tanta que nosso trabalho começou assim;a informática com máquina. E à medida que a gente foi trabalhando mesmo, a prática é que foi dando essa modificação no nosso trabalho que a gente começou a ver que a máquina não era o essencial, e sim o processo de como o aluno ia construindo sua imagem. E a gente foi estimulando esse trabalho.

Para Papert (citado por TORRES, 2003) os professores precisam de apoio para sair de onde estão e sendo assim, eles não podem ser levados para um lugar muito distante através de adulação ou autoritarismo. O autor afirma, que o problema prático central é encontrar meios através dos quais professores que se encontram em locais diferentes em termos de disposição para trabalhar em função da mudança possam fazê-lo. Papert alerta ainda que não pode haver uma mudança uniforme de lado a lado, pois qualquer tentativa de fazer isso poderá reduzir o ritmo da mudança para o do menor denominador comum. Lembra que a sociedade não pode manter seus melhores professores atrás apenas porque alguns, ou até mesmo a maioria, não estão dispostos a mudar (PAPERT, 1994 citado por TORRES, 2003).

Os depoimentos dos participantes transcritos a seguir ratificam o foco deste trabalho, pois explicitam a falta de experiência com o computador até o momento em que ele foi para sala de leitura-pólo e precisou realizar cursos rápidos, aprendendo somente o básico e através das aulas no laboratório, lidando diretamente com o aluno:

CAP3 - A informática, eu só vim a conhecer agora, na Sala de Leitura e passei a me interessar por isso. Porque a Sala de Leitura é pólo, e a sala pólo foi assim, não é obrigada, mas tive que freqüentar uns cursinhos de informática, porque a nova tecnologia estava chegando? Então, nós fizemos cursos rápidos no CEFET, rápido mesmo, porque ali eu aprendi o básico, mas não fiquei com experiência, porque para mim é uma verdadeira novidade. Aqui lidando com o aluno é que a gente começa a aprender.
CAP4 - Eu particularmente gostaria de ser mais bem preparada para trabalhar com isso. Acho que o que eu faço, eu pego aqui, eu pego ali, e por esforço próprio. Mas eu acho que o professor que já está há muito tempo no magistério e não trabalha com isso, não é um professor só para a informática, ele não tem essa visão toda, eu gostaria de ser mais bem preparada porque realmente se houvesse um laboratório que pudesse atender com uma pessoa bem preparada, essas crianças teriam um ganho bem maior do que comigo, eu faço o que eu posso

Para Demo (1998, p.23 in TORRES, 2002) alerta que as tecnologias estão presentes cada vez mais na sociedade e sua utilização é fundamental, pois a educação constitui-se “na mais eficaz instrumentalização para a cidadania” porque possui a capacidade de desenvolver conhecimento próprio sobre a tecnologia e democratizá-lo. Tanto para o autor, quanto para alguns professores, é preciso familiarizar-se com a tecnologia para enfrentar os desafios emergentes da sociedade informatizada “para que ela seja, ao mesmo tempo, moderna e humana” (DEMO, 1998, p.31).

Nos dados coletados do Caso B (ALMEIDA, 2003), apresentados a seguir, destacamos o tema da “preparação insuficiente para o magistério” e “ o restrito uso do computador no curso de formação de professores” . Os participantes entrevistados - futuros professores – evidenciam que no último ano do curso ainda não possuíam uma suficiente preparação para o exercício do magistério, nem suficiente conhecimento sobre o computador. A maioria acredita na necessidade de dar continuidade à sua formação – seja com outros cursos, seja com leituras auxiliares – mesmo quando já estiverem trabalhando. Nesse sentido, destacamos falas que mostram a insegurança dos futuros professores no exercício do magistério:

CBP1 Não me prepara: ah, já está preparada, pode ir. Não é assim. A gente tem que fazer sempre alguma coisa para saber mais. (...) Não prepara muito, até porque o colégio não oferece tanto (...).
CBP2 - Acho que não, não prepara não. Porque eles se preocupam mais em passar o conteúdo, então não prepara.
CBP3 Para eu usar como professora, eu acho que ficaria um pouco embaralhada, mas eu tentaria adaptar os recursos às situações.

Nesse caso, Almeida (2003) lembra Freire (1996, p.101) quando nos ensina que é importante observar a nossa experiência discente, pois esta é fundamental para a prática docente de amanhã. Continuando: o aluno que hoje se prepara para ensinar deve ter como objetivo a curiosidade das experiências que vivenciou com seus professores. Enfatiza Freire (1996, p.101):

não devo pensar apenas sobre os conteúdos programáticos que vêm sendo expostos ou discutidos pelos professores das diferentes disciplinas, mas ao mesmo tempo, a maneira mais aberta, dialógica, ou mais fechada, autoritária, (com que este ou aquele professor ensina).

A escola de hoje não existe isoladamente, alimenta e é alimentada pelas transformações da sociedade. Parafraseando Freire (1996, p.71), é como se os futuros professores mantivessem uma reflexão crítica permanente sobre a prática, através da qual farão a avaliação do seu fazer com os educandos (ALMEIDA, 2003)

Nos achados do presente estudo ficou evidente que o computador é pouco, ou quase nada, explorado ao longo do curso. Tal fato se repete a cada ano basicamente por alguns motivos, dos quais ressaltamos o da escola ainda não informatizada, ou seja, o número de computadores é pequeno se compararmos à necessidade dos alunos, apesar de ser uma instituição na qual o Proinfo instalou um NTE – Núcleo de Tecnologia Educacional. Um outro aspecto destacado pela pesquisa em foco é que são ainda poucos os professores que utilizam o computador; há um o hiato que separa esse equipamento do corpo docente. Como afirma uma aluna,

CBP4 - Computador, só mesmo nas aulas de informática, fora das aulas de informática eles não utilizam computador. E a aula de informática é mais centrada mesmo com a questão da informática, não tem nada com o conteúdo das disciplinas.

Nas falas seguintes as entrevistadas explicitaram o quanto acham importante o NTE estar no colégio e sabem que o computador ajuda a desenvolver as potencialidades do aluno.:

CBP5 Na nossa grade curricular está dizendo que a gente tem aula de informática. O NTE está dentro da escola (...). Eu acho esses recursos importantes, por exemplo: o curso de informática eu acho superimportante para desenvolver a criatividade das crianças. (...) Ah, o computador a gente aprende a trabalhar com as crianças para utilizar o computador. (...) Eu vou utilizar. Eu ainda não sei a fórmula. Mas eu vou aprender...
CBP6 - O computador para mim é muito importante. Quando a gente tem oportunidade de ir ao NTE... Com a internet é mais fácil a busca do conhecimento.

Um grupo de alunas aponta a necessidade de a informática constar como disciplina nos quatro anos do curso. As falas transcritas abaixo reforçam como os estudantes querem que a informática faça parte de sua vida, de seu curso, com coerência e não no rodapé do currículo (ALMEIDA, 2003). Dessa forma teriam acesso a outras informações, saberiam lidar realmente com o computador e descobrir a internet. No último ano do curso os futuros professores falam sobre as aulas de informática:

CBP7- No 1º ano teve aula de computação. Mas não é uma coisa, assim, pra você aprender, não! Só mesmo quem sabia. E quem sabia também não ficou sabendo muito mais.
CBP8 - Se tivéssemos aulas de informática desde o começo agora a gente sairia já sabendo bastante coisa. Eles deixaram para ensinar agora, só no último ano.
CBP9 - A aula de informática eu comecei a ter só nesse ano. Isso é uma coisa que deveria estar instituído desde o primeiro ano. E agora temos só uma vez na semana. Para quem não sabe mexer, com certeza fica aéreo na aula. No caso a informática tinha que ser pelo menos duas vezes na semana.
CBP10 - Eu tenho minha opinião, eu acho que a informática tinha que estar integrada a todas as disciplinas. Não uma coisa aleatória, como nós vamos para a aula de informática, não há uma integração com as disciplinas. As aulas de informática não têm uma ligação com o currículo. (...) Então, a aula de informática dá embasamento sim, mas é como um curso, sem correlação com as disciplinas. Precisaria de um tempo maior das aulas de informática. Eu acho que desde o primeiro ano precisaria de uma aula de informática e não só no 4º ano.

Se a informática e a internet são meios para obter e trocar informações, constitui-se assim um ambiente ideal para a pesquisa de diferentes temas. Nesse ponto “a Internet é completamente compatível com os objetivos da educação, ampliando em muito o horizonte das fontes de informação para uso escolar” (SOBRAL, 2001, p.12). Assim, é importante sua utilização para o exercício do magistério.

Freire (1996, p. 43-44) reforça a questão da formação permanente dos professores. Para ele, é fundamental a reflexão crítica sobre a sua prática, pois “é pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem, que se pode melhorar a próxima prática” (ALMEIDA, 2003). As falas dos entrevistados desta pesquisa mostram que para estudar e pesquisar sobre a formação de professores, vale a pena ponderar acerca das atuais exigências para esse trabalho, pois “a formação de um novo ser humano, que viva plenamente esse mundo da comunicação, exige uma nova escola e um novo professor, capazes de trabalhar com esse mundo de informação e de tecnologias” (PRETTO, 1999, p.15).

No caso C, da instituição voltada para os PNEE (CARVALHO, 2004) destacamos o tema que fala da necessidade de se atualizarem para a utilização dos recursos tecnológicos na sala de aula, para a aplicação das tecnologias na referida instituição e a importância da utilização dos softwares interativos que nem sempre são atualizados por falta de verbas na instituição.

No que diz respeito à necessidade de atualização do professor apresentam-se as falas dos professores sobre os cursos de informática oferecidos pela instituição com o objetivo de capacitá-los nesta área para que possam desenvolver um melhor trabalho junto aos seus alunos, na sala de aula usando a informática não apenas no laboratório (CARVALHO, 2004). Nas falas transcritas abaixo emerge o interesse dos professores em relação a esse aspecto:

C3P1-. Não adianta escola informatizada se o professor não sabe mexer, eu conheço professores aqui que não têm computador em casa (...) Eu sempre acredito que a informática na Educação Especial é mais como um instrumento. Meu grande medo é a tendência de substituição do professor. Então eu sempre friso quando converso com as pessoas que tem que ser mais um recurso prá levar o aluno ao aprender. Eu sempre uso como instrumento e na Educação Especial, eu acho que além do instrumento, sei lá, é uma fonte de criatividade, de riqueza e de inclusão na sociedade atual.
C3P2- - Eu acho que o trabalho que é muito bom, a única sugestão, seria colocar o computador nas salas de aula também, mas sei que isso é muito difícil e o professor poder trabalhar com o aluno também.(...) só gostaria que os professores que não sabem informática muito bem pudessem fazer cursos aqui.

Pretto (2001, p.117) refere-se aos professores como sendo hoje no Brasil uma classe desprestigiada, mal remunerada, malformada, e cumprindo a contra gosto determinadas tarefas que mais parecem a produção de um automóvel do que o da formação de crianças e adolescentes (CARVALHO, 2004). Nesse sentido, é importante refletir sobre a urgência de preparar os professores para as atividades que irão desenvolver com seus alunos. Pretto (2001, p.117-118) afirma que

Iniciar hoje a formação do novo educador é premente. Um significativo passo nessa direção é considerar, no cotidiano da sua formação, as questões da comunicação, da informação e das imagens, com o objetivo de tornar os novos profissionais preparados para vivenciar os desafios do mundo que se está construindo. Naturalmente,se estamos pensando numa escola na qual a cultura audiovisiva seja uma presença, o professor, principal personagem desse processo, precisa estar preparado para trabalhar com essa cultura.. Uma cultura que está intimamente relacionada com as mídias e por isso, exige e determina uma nova linguagem.

Carvalho (2004) destaca o tema relativo à estrutura precária em relação às tecnologias, especialmente da falta de verbas para investimentos em manutenção e atualização do equipamento e dos softwares. A velocidade com que surgem novos programas e periféricos dificulta a atualização dos mesmos de forma permanente: Os participantes falam das dificuldades criadas quando não se consegue acompanhar essas mudanças: softwares ultrapassados, que nem sempre possuem atualização via internet, sendo que as novas versões não podem ser acessadas. Abaixo, transcrevemos algumas falas que ilustram esse tema:

C3P3 -. Basicamente é a atualização da parte tecnológica; porque, o que é hoje top de linha, daqui à dois meses não é mais, e a instituição não tem verba para manter atualizado as máquinas e dos softwares.
C3P4 -. Precisa de mais softwares educativos, mais papel, e tinta para os meninos poderem imprimir seus trabalhos. Às vezes eles querem mostrar os trabalhos, mas não tem como imprimir. Acho muito importante também que houvesse curso para professores que quisessem aprender informática, e se qualificar mais como professoras também. Tudo anda um pouco defasado, não é?
C3P5 - Eu acho que deveria ter mais materiais para as crianças softwares mais novos ou diferentes, poder usar a impressora , eles não podem imprimir os trabalhinhos, isso é muito ruim, eles ficam frustrados, dá para a gente notar isso, mas agora já convivem com isso não reclamam mais sabem que não adianta.

Fica evidente nas falas dos professores no caso C tanto o aspecto da falta de atualização dos professores quanto da necessidade de atualização dos softwares para o trabalho com os PNEE. Os professores alertam para a questão da importância da atualização da parte tecnológica para os alunos e para o corpo docente.

Os estudos aqui apresentados recomendam urgência dos sistemas educacionais se voltarem para a qualificação do professor, como questão emergente na tentativa de incluir a comunidade educacional na sociedade da informação. Essa qualificação teria um efeito multiplicador nas escolas, no sentido da inclusão digital de professores, crianças e jovens que ainda não têm acesso ao computador e à rede. É nesse contexto que é apontada a Educação a Distância com um dos espaços possíveis para a qualificação dos professores em Informática Educativa.

 

3 Refletindo sobre alternativas de solução para a qualificação dos professores na Informática Educativa

A breve síntese de alguns resultados apresentados sobre as pesquisas apresentadas de Torres (2003), Almeida (2003) e Carvalho (2004), a partir dos depoimentos dos entrevistados evidenciam a necessidade da formação dos professores para a utilização dos recursos da rede digital. Nos três casos A,B e C, os entrevistados se expressam falando de suas dificuldades com a máquina, por não terem se apropriado do conhecimento indispensável a aplicação das TIC em sua prática. Esse aspecto tem repercussão na sala de aula, visto que sem a qualificação necessária os professores não se sentem preparados para orientar os seus alunos no uso da “máquina” e de seus inúmeros recursos no espaço escolar. Nesse contexto, consideramos urgente remeter a alternativas que possibilitem a qualificação dos professores para o domínio dos equipamentos telemáticos.

Prado e Almeida (2003, p.73) se referem:

à metodologia de formação com o uso e para o uso das TICs, caracterizada pela realização de atividades cujo foco incidia sobre a realidade da escola e a prática pedagógica do professor-aluno, tendo como suporte o ambiente virtual.

Ao assumir as turmas para a qualificação dos professores houve a necessidade, de acordo com Prado e Almeida (2003) de criar a cultura da Educação a Distância, com base na interação e colaboração dos participantes.

Nos resultados sintetizados dos casos A, B e C, tendo em vista o desejo expresso de qualificar-se para o uso das TIC, a modalidade da Educação a Distância seria uma alternativa viável, pois os participantes da pesquisas em foco poderiam realizar o curso em seus locais de estudo e trabalho.

Recursos do ambiente virtual como sala de bate-papo (chats), fóruns de discussão, entre outros, ou recursos analógicos como leituras, materiais de apoio e projetos podem favorecer a aprendizagem colaborativa.Entendemos que projetos de aprendizagem colaborativa implementados no próprio ambiente de estudo e/ou trabalho, com os colegas, favoreceria a criação entre os participantes de momentos de reflexão e diálogo. Prado e Almeida (2003, p. 75) referem-se “ à importância do estabelecimento de inter-relações entre disciplinas, docentes-formadores e professores-alunos, bem com a uma cultura de Educação a Distância baseada na interação e colaboração entre os participantes “ . É sob esta ótica que entendemos as possibilidades da Educação a Distância para a qualificação de professores.

No entanto, Alonso e Alegretti (in VALENTE e outros, 2003) apontam algumas dificuldades e limitações para essa modalidade de qualificação, das quais destacamos: ( a) disciplina pessoal e determinação; (b) desejo de superação dos próprios limites e de autonomia e desenvolvimento de habilidades básicas para acessar o programa e navegar sobre ele de forma competente com vistas a realizar as atividades propostas (ALONSO E ALEGRETTI in VALENTE e outros, 2003, p. 173).

Alerta-se aqui para a análise crítica sobre as possibilidades de se implementarem os projetos de Educação a Distância, considerando ou antecipando as possíveis entraves e soluções para superação dos mesmos. . Os cursos já realizados sob a orientação da equipe coordenada por Valente, Prado e Almeida (2003) têm enfrentado os desafios em inúmeras experiências que apontam condições de êxito na qualificação de professores por meio da EaD, mostrando as possibilidades da convivência virtual.

Nesse contexto, este trabalho é um convite à reflexão dos sistemas educacionais, de forma ampla, e as comunidades de aprendizagem inseridas na era da informação, de forma específica, a refletir sobre essas soluções, de forma crítica, a fim de minimizar os problemas que têm sido encontrados na atuação dos professores nos ambientes de aprendizagem informatizados.

 


Referências

ALONSO E ALEGRETTI . Introduzindo a pesquisa na formação de professores a distância. In: VALENTE, José Armando; PRADO, M.E.B.B.; ALMEIDA, M.E.B. (orgs.) Educação a Distância via Internet.São Paulo: Avercamp, 2003, p.163- 174.
BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1988
CARVALHO, Maria José. Contribuições das Tecnologias da Informação e Comunicação para a aprendizagem dos Portadores de Necessidades Educativas Especiais. Dissertação ( Mestrado em Educação) . Universidade Estácio de Sá, Rio de Janeiro, 2004
DEMO, Pedro Questões para teleducação. Petrópolis: Vozes, 1998
ALMEIDA, Rosane Pires Fernandes Galvão. As tecnologias da informação e comunicação no curso de formação de professores – Ensino Médio, Dissertação (Mestrado em Educação) -. Universidade Estácio de Sá, Rio de Janeiro, 2003
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1996
MORAES, Maria Cândida. O paradigma educacional emergente. São Paulo: Papirus, 2002
PAPERT, Seymourt, A máquina das crianças: repensando a Escola na Era da Informática. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994
PRADO E ALMEIDA Redesenhando estratégias na própria ação: formação do professor a distância em ambiente digital. In: VALENTE, José Armando; PRADO, M.E.B.B.; ALMEIDA, M.E.B. (orgs.) Educação a Distância via Internet.São Paulo: Avercamp, 2003, 195-203
PRETTO, Nelson de Luca. Uma escola com/sem futuro.: educação e multimídia. Campinas, SP: Papirus, 1996
PRETTO, Nelson de Luca. Formação de professores exige rede. In Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, v.20,.Maio-Ago, 2002,p. 121-131.
SOBRAL, Adail. A internet na escola – o que é, como se faz.São Paulo: Edições Loyola, 2001.
TORRES, Maria Licia. A Informática Educativa e a construção do conhecimento no Processo de Alfabetização: ponto de vista de Docentes. Dissertação (Mestrado em Educação). Universidade Estácio de Sá, Rio de Janeiro, 2003
VALENTE, José Armando; Curso de Especialização em desenvolvimento de projetos pedagógicos com o uso de novas tecnologias: descrição e fundamentos. In: VALENTE, José Armando; PRADO, M.E.B.B.; ALMEIDA, M.E.B. (orgs.) Educação a Distância via Internet.São Paulo: Avercamp, 2003