A construção do material didático em EAD: uma experiência de aprender fazendo, através da ação, do conhecimento e da afetividade

Abril/2004

 

Teresinha Zélia Queiroz Oliveira
tzelia@yahoo.com.br

FTC ead - Faculdade de Tecnologia e Ciências – Educação a Distância
ftc_ead@click21.com.br

Amarildes Lorenzo Lôpo Dantas – FTC-ead
alorenzo@click21.com.br

Antonete Araújo Silva Xavier – FTC ead
antonetex@yahoo.com.br

Teresinha Zélia Queiroz Oliveira – FTCead
tzelia@yahoo.com.br

Valnice Sousa Paiva – FTCead
valnicesp@yahoo.com.br

 

TEMA: Planejamento, Elaboração e Avaliação de Materiais Didáticos para Educação a Distância
CATEGORIA: Educação Universitária

RESUMO
Este trabalho objetiva relatar uma experiência de construção coletiva do material didático para cursos de licenciatura na modalidade a distância, do programa FTC ead. Adota-se aqui, o conceito de Educação a Distância como um espaço interativo de ensino-aprendizagem, mediado por tecnologias da informação e comunicação, através do qual a aprendizagem se constrói num ambiente afetivo, cognitivo e social partilhado, em rede. Nessa modalidade emergem novas configurações cognitivas caracterizadas por alguns elementos entre os quais: conectividade relacional, hipertextualidade e interatividade. Pretende-se aqui relatar sinteticamente o processo de construção coletiva do material didático para nove licenciaturas na modalidade de ensino a distância, e levantar alguns procedimentos e dificuldades encontrada, durante o seu desenvolvimento.

PALAVRAS-CHAVES:
Educação a Distância, Material Didático, Interatividade, Hipertextualidade

 


1. O papel da EAD na contemporaneidade

Na sociedade contemporânea, os espaços coletivos da produção, construção e disseminação do conhecimento têm sido ampliados e interconectados, principalmente em função do crescimento vertiginoso das tecnologias digitais da informação e da comunicação. A nova realidade comunicacional característica da sociedade do conhecimento exige novas formas de ensinar, aprender e produzir conhecimentos. Segundo Assmann (1998): a ampliação do potencial cognitivo humano pelas tecnologias de comunicação interativa engendram processos de ensino - aprendizagem mais complexos e cooperativos. A conectividade, e a hipertextualidade conseqüentes das dinâmicas comunicacionais e informacionais contemporâneas inauguram redes aprendentes complexas, cooperativas e intricadas que, em conjunto geram as denominadas ecologias cognitivas. Para Lévy, a ecologia cognitiva define as complexas relações do homem com a realidade a partir do uso coletivo da inteligência mediada ou entrelaçada pela técnica. A ecologia cognitiva empregada de acordo com Lévy, Assmann e outros autores representa “uma construção do conhecimento como produto de uma vasta cooperação cognitiva distribuída, constituída por aprendentes humanos e sistemas cognitivos artificiais”. Entre os novos “ingredientes” da cognição humana na sociedade aprendente identificamos a hipertextualidade e a conectividade relacional.

Neste contexto, emergem modalidades educacionais vinculadas ao uso das tecnologias da informação e comunicação, entre as quais a EAD – educação a distância. A EAD, segundo Michel Moore (1996):

É a aprendizagem planejada que geralmente ocorre num local diferente do ensino e, por causa disso, requer técnicas especiais de desenho de curso, técnicas especiais de instrução, métodos especiais de comunicação através da eletrônica e outras tecnologias, bem como arranjos essenciais organizacionais e administrativos. (MOORE, 1996)

A EAD diferencia-se do ensino presencial por constituir um sistema tecnológico comunicacional, do tipo bidirecional substituindo a interação pessoal na sala de aula entre professor e aluno. A EAD enfatiza o uso de diversas tecnologias de comunicação e educação no desenvolvimento profissional e humano através do uso de mídias variadas.

A EAD atinge perspectivas culturais, sócio-políticas, econômicas, tecnológicas e pedagógicas. Pode contribuir, significativamente para a consolidação de um paradigma educacional, sustentado por novas concepções de ensino- aprendizagem e novas relações interpessoais. Também poderá possibilitar a democratização do saber e a gestão do auto-aprendizado, assim como o compartilhar de informações, pesquisas e conhecimentos.

Alguns autores consideram que existem grandes diferenças entre o ensino presencial e o ensino a distância, de acordo com as características pedagógicas. Santos & Toledo, (1999) defendem que enquanto o ensino presencial enfatiza o contato professor- aluno personalizando o processo de aprendizagem de acordo com as potencialidades do aluno, o ensino a distância enfatiza a auto aprendizagem sobre um conteúdo voltado a um público geral.

Considerando os conceitos e pressupostos apresentados pode-se admitir que a EAD promove abordagens pedagógicas mais coerentes com as dinâmicas sociais e cognitivas da contemporaneidade, assim como pode contribuir para a potencialização das inovações educacionais, em vista da abrangência social ampliada pelas tecnologias da informação e comunicação.

 

2. Material didático em EAD

O processo de planejamento estratégico de um curso de EAD pode ser caracterizado em três diferentes etapas ou níveis hierárquicos. Um primeiro nível que define a concepção e pressupostos fundamentais de estruturação logística e pedagógica do curso. Define-se neste nível os conteúdos, aspectos didáticos, assim como a sua plataforma metodológica. O segundo nível refere-se a abordagem pedagógica do material a ser utilizado pelos alunos. O terceiro nível refere-se a avaliação da aprendizagem do aluno, aspecto de suma importância nos processos de ensino-aprendizagem sejam na modalidade presencial ou a distância e especialmente tratado nos projetos de EAD.

O foco principal nesse trabalho incidirá sobre o segundo nível – a abordagem pedagógica na elaboração do material didático em EAD. Um dos aspectos fundamentais na construção do planejamento e logística de cursos EAD é, sem dúvida a validação do material didático a ser utilizado pelos alunos. Compondo, junto aos recursos tecnológicos de interação pedagógica, a interface entre os atores sociais envolvidos no processo - alunos, professores e tutores - assim como e entre estes e o conhecimento, o material didático assume um papel de suma importância em EAD. Essa importância atribuída ao material didático em EAD é enfatizada por diversos autores. Neder (2003), faz as seguintes considerações, a respeito:

A educação a distância é uma modalidade de ensino que, paradoxalmente, por prescindir da relação face-a-face, exige um processo de interlocução permanente e próprio. Na educação a distância, o aluno não vai estar fisicamente presente em todos os momentos da relação ideológica. Mas apesar da distância física, não pode deixar de existir o diálogo permanente. O material didático é o instrumento para esse diálogo. Ele deve ser pensado e concebido no interior de um projeto pedagógico e de uma proposta curricular definidas claramente. (NEDER, 2003)

Logo, percebe-se aqui lugar estratégico que o material didático assume em EAD. Segundo Neder (2003) é o instrumento para o diálogo permanente entre alunos, professores e o conhecimento. Então, fica evidente que o material didático precisa estar bem situado nos projetos pedagógicos de EAD, assim como deve manter uma coerência interna com os pressupostos pedagógicos e respectivas plataformas curriculares. De acordo com as finalidades no processo pedagógico, pode ser utilizado como apoio às aulas presenciais ou pode ser usado diretamente no ambiente virtual de aprendizagem. No primeiro caso os denominamos: material impresso. O material utilizado no ambiente virtual de aprendizagem denominamos de material web. Embora possam abordar conteúdos afins, as linguagens e padrões comunicacionais utilizados na construção dessas duas categorias distintas de material didático em EAD diferem, significativamente. A diferenciação comumente leva em conta as diferenças dos meios de veiculação e conseqüentemente de interação dos materiais com os alunos. Ruiz e Cordero (1997) referem-se a preocupações que devem existir na elaboração de material didático para a EAD, considerando principalmente as definições das formas de comunicação e estratégias da narrativa a serem aplicadas aos textos, assim como a linguagem audiovisual e as ferramentas auxiliares utilizadas para o processo de ensino-aprendizagem. Outro aspecto a ser considerado é a importância do contexto na elaboração de material didático em EAD. É fundamental que os professores em EAD, ao elaborar os materiais didáticos, estruturem seus discursos considerando os interesses e expectativas dos seus alunos (Fiorentini, 2000). A autora citada, argumenta ainda que, na elaboração do material didático:

Às mensagens, devem ser motivadoras, inteligíveis. Deve trazer um equilíbrio dialógico entre o conhecimento cotidiano e conhecimento científico, entre conteúdos disciplinares e conteúdos transversais, levando em conta o saber (conhecimento de fatos, conceitos, teorias, princípios, fundamentos, nomenclaturas, personagens etc.); o saber fazer (domínio de habilidades); o saber ser (desenvolvimento de atitudes e valores); o saber fazer junto (interações cooperativas com outros atores sociais).(FIORENTINI, 2000)

Em nosso trabalho no projeto FTC ead procuramos observar as considerações apresentadas acima, assim como os aspectos pedagógicos, comunicacionais e contextuais necessários à elaboração de material didático para EAD. Envolveu-se nessa tarefa uma equipe de professores, pedagogos e coordenadores pedagógicos, além de profissionais técnicos nas áreas de Engenharia de Produção com ênfase em Mídia e Conhecimento, Web e Diagramação Visual. Sobre o processo de elaboração de material didático, relataremos a nossa experiência na próxima seção.

 

3. Elaboração do Material Didático da FTC ead

A FTC EAD - Faculdade de Tecnologia e Ciências – Educação a Distância em parceria com a Universidade Estadual de Ponta Grossa – PR, o Centro Nacional de Integração de Tecnologia, Educação e Comunicação – CENITEC e a Universidade Eletrônica do Brasil UEB constituem uma equipe que teve como desafio desenvolver e implantar nove cursos de licenciatura: Curso Normal Superior e as Licenciaturas em: Biologia, Ciências Naturais, Física, Geografia, História, Letras, Matemática, Química. Pretende-se que os cursos oferecidos contribuam para a formação do grande contingente de professores que não tiveram acesso aos seus estudos em nível superior na modalidade presencial. Um dos desafios propostos, na fase inicial de implantação da FTC EAD, foi a elaboração do material didático para os dois primeiros semestres das nove licenciaturas. Sendo o material didático um dos fatores críticos de sucesso desta modalidade de ensino, procurou-se, desde o momento inicial dedicar especial atenção a este aspecto.

Foi estruturada uma equipe multidisciplinar, composta de professores que tinham a responsabilidade de elaborar o material didático para ser veiculado pela Web, assim como o material impresso de apoio as atividades didáticas. A equipe de revisão foi, então composta por profissional da área de engenharia de produção em mídia e conhecimento, duas pedagogas e uma professora licenciada na área das ciências exatas, ambos especialistas em educação e novas tecnologias de comunicação e informação, além de diagramadores e especialistas em WEB e os coordenadores das respectivas licenciaturas.

A possibilidade de produção de material local, mobilizando os próprios professores das disciplinas e seus auxiliares, a articulação entre os conhecimentos oriundos de áreas diversas, a necessária contextualização e aproximação da realidade local seria materializada neste processo. A meta de termos uma categoria de educadores diferente daquela que espera respostas prontas e apenas repassa o conhecimento produzido por atores distantes do cenário de sua exposição estava em gestação e tínhamos as condições tecnológicas necessárias para esta produção.

No desenho institucional do projeto estava prevista, além dos recursos de vídeo-conferência, dos laboratórios e bibliotecas locais, a utilização de materiais impressos e os veiculados através do ambiente virtual de aprendizagem - materiais para WEB. Tínhamos a convicção que uma das questões imprescindíveis para a educação a distância era a elaboração de um material didático de qualidade. No entanto, grande parte dos nossos professores não tinha vivenciado a experiência de produzir material para esta modalidade de educação. Foram então mobilizados oitenta professores na tarefa de elaboração dos materiais didáticos para os cursos. Planejamos inicialmente um processo formação que pudesse aproveitar os saberes de cada um, suas sensibilidades e disposições para mudanças. Consideramos fundamentais, nesta etapa a criação de laços de amizade, afetividade e parceria entre os membros da equipe. Considerando que o trabalho seria uma construção coletiva almejávamos relações sociais e profissionais pautadas na ética, compreensão mútua, solidariedade e apoio, que facilitariam o processo das trocas intensas necessárias.

As oficinas de produção de material foram elaboradas partindo da perspectiva teórica respaldada nas novas modalidades comunicacionais contemporâneas (SILVA, 2000), que potencialmente trazem possibilidades de ressignificação da educação baseada na transmissão e assimilação, na tentativa de não ficar preso às configurações do modelo educacional tradicional.

 

4. Pesquisa-ação e construção coletiva do Material Didático FTC ead

Diante de tais perspectivas consideramos apropriado utilizar uma metodologia de pesquisa em busca de delinear o estilo de material que produziríamos assim como contribuir para a formação de uma cultura de produção tecnológica entre os professores. Percebemos que a abordagem da pesquisa-ação que consiste em uma linha de pesquisa associada a diversas formas de ação com o objetivo de promover mudanças seria a mais viável para nossos objetivos. Para Bogdan & Biklen (1991, p. 294), não estamos diante de uma pesquisa-ação se a pesquisa não é orientada diretamente à ação para mudança.

Ao se configurar uma situação problemática, os sujeitos envolvidos no problema desejam a sua erradicação e, muitas vezes, as ações para a mudança surgem no seio do próprio coletivo que se mobiliza para a alteração da situação-problema. Em outros casos, pode ser necessária a contribuição de pesquisadores e especialistas no diagnóstico e na mediação para a alteração da uma realidade que se impõe, e estes assumem um papel de agentes de mudança. O pesquisador exerce a sua função em meio a um jogo de distanciamento e implicação. De acordo com Babier (2002):

A pesquisa-ação obriga o pesquisador de implicar-se. Ele percebe como está implicado pela estrutura social na qual ele está inserido e pelo jogo de desejos e de interesses de outros. Ele também implica os outros por meio do seu olhar e de sua ação singular no mundo. Ele compreende então, que as ciências humanas são, essencialmente, ciências de interações entre sujeito e objeto de pesquisa. O pesquisador realiza que sua própria vida social e afetiva está presente na sua pesquisa sociológica e que o imprevisto está no coração da sua prática (Barbier, 2002, p.14).

Era dessa forma que a equipe de revisores se comportavam e sentiam-se neste processo de descobertas. Sentíamos a vontade nesta investigação porque, na verdade, pesquisávamos de dentro do processo, tendo desta forma mais possibilidade de identificar as necessidades sem nos sentir como um corpo estranho do processo.

No envolvimento com o grupo, as relações iam sendo construídas e íamos descobrindo os participantes mais dispostos a contribuir com o processo de mudança. Estes, sensíveis e comprometidos com a efetivação e consolidação deste projeto, se agregam ao grupo para as negociações e mudanças, na medida em que se estabelecia a confiança entre os membros da equipe construída a partir da escuta, paciência e das interações entre os sujeitos. Este grupo, denominado por Barbier (2002) de “pesquisador coletivo”, se torna a fonte de “informações de primeira mão e multiplicador, acelerador ou difusor da mudança, o pesquisador coletivo é o órgão por excelência da co-formação dos pesquisadores profissionais e dos pesquisadores técnicos” (2002, p. 104).

Como se pode perceber, nesta abordagem não se trabalha “sobre” os outros, mas “com” os outros (Barbier, 2002). Quanto mais implicados os sujeitos da pesquisa, mais o pesquisador poderá conhecer a situação problemática, e encontrar, a partir e juntamente com os sujeitos, documentos, fontes válidas dos dados coletados e as melhores formas de interferência naquele contexto. Com esta visão, e sempre revisitando nossas intenções e objetivos que era a construção de um material de qualidade, planejamos cursos, atendimentos individuais, avaliações prévias, e muita interação com os professores, agora, autores dos materiais didáticos que seriam usados em suas disciplinas. Para este grupo foi uma grande mudança. Pois, não é uma prática na cultura educacional, termos o professor com sua autoria valorizada e incentivada. Até aqui, o que poderíamos considerar como a prática recorrente seria a de um professor repassador de informações produzidas em outros espaços e tempos.

Este período foi caracterizado por um intenso envolvimento dos professores que passaram pelo processo de formação buscando favorecer, dentro dos limites do tempo, a imersão em uma cultura tecnológica. Formação esta que se deu concomitante com o planejamento e produção do conteúdo para os materiais impresso e da WEB, tendo a colaboração da equipe de coordenadores de cursos e da equipe de apoio a produção de material didático. Neste trabalho contamos com o total de 80 professores, envolvidos para vencer os desafios propostos.

Planejamos então um processo formação que pudesse aproveitar os saberes de cada um, sua sensibilidade e disposição para mudança de concepção, inclusive considerávamos fundamental a criação de laços de amizade, afetividade e parceria entre os membros da equipe. Haja vista que esta formação visava a produção do material didático para EAD e este seria, de certa forma, construído coletivamente, então uma relação que envolvesse ética, compreensão solidariedade e apoio só poderia facilitar o processo das trocas intensas que se sucederiam.

A formação do formador em EAD passou por diversas fases. Inicialmente os coordenadores dos cursos, que foram os primeiros a se iniciarem no processo de formação, realizaram as orientações previas, visando aproximar os educadores de uma performance de produção que apresentasse as características que gostaríamos que estivessem impressas no nosso estilo de material didático. Neste sentido, baseados no projeto pedagógico construído por professores especialistas em cada área, os coordenadores trabalharam as orientações iniciais para produção do material, cada um com sua equipe de professores.

A segunda fase se constitui em um encontro coletivo entre professores com o único membro da equipe de revisão de material da fase inicial do trabalho. O objetivo deste encontro era agregar a equipe e discutir com os professores quais seriam as características importantes a serem consideradas e valorizadas nesta modalidade de educação, porém sempre deixando em aberto às aceitáveis e esperadas inovações que certamente emergiriam. A qualidade do trabalho, o tipo de linguagem a ser utilizada, a estética, a aproximação do contexto, o uso de exemplos cotidianos e, dentre outros, a utilização de imagens eram temas fundamentais nestes encontros.

Após esta etapa os professores passaram por orientações individuais, cada um expondo suas dúvidas, opiniões, dificuldades para a equipe responsável pela revisão e orientação previa aos professores. Foi um processo bastante dinâmico, onde observamos como, gradativamente, os estilos de produção iam sendo modificados. De uma linguagem bastante acadêmica para uma linguagem mais coloquial e dialogada, sempre buscando um convite à reflexão, sem, no entanto, desconsiderar a necessidade e importância de explanação dos conteúdos. Recebíamos este indicativo também através de outros parceiros como aborda um trecho de um e-mail que recebemos de um parceiro, integrante da equipe UEB:

... vi que em alguns textos é muito constante a presença de questionamentos. O professor problematiza as questões a serem estudadas e analisadas e depois promove a reflexão do aluno. (...) achei esse ponto muito relevante no trabalho de vocês, o que poderia ser incluído no item metodologia, pois isso agrega bastante valor.

O grupo de professores participou de um curso sobre o ambiente virtual que seria utilizado, da mesma forma que os estudantes participariam, ou seja, utilizando o ambiente virtual de aprendizagem, para que eles pudessem experienciar o ambiente onde seria veiculado o conteúdo que estavam produzindo. Todas as fases eram avaliadas, com o objetivo de identificar se os objetivos propostos tinham sido alcançados. Foram promovidos mais três encontros de sensibilização, pois percebemos que estava sendo necessário incentivar a participação dos professores para construir uma cultura de produção de material condizente com esta modalidade de ensino e instigar a fundamental interação dos professores com as novas tecnologias da comunicação e informação que será um elemento tão presente na educação a distância.

Para tanto as oficinas de produção de material foram elaboradas partindo da perspectiva das novas modalidades comunicacionais contemporâneas, que potencialmente trazem possibilidades de ressignificação da educação baseada na transmissão e assimilação, na tentativa de não ficar preso às configurações do modelo educacional tradicional.

Foram promovidos encontros de sensibilização, pois percebemos que estava sendo necessário incentivar a participação dos professores para construir uma cultura de produção de material condizente com esta modalidade de ensino e instigar a fundamental interação dos professores com as novas tecnologias da comunicação e informação que será um elemento tão presente na educação a distância.

Nas oficinas e cursos promovidos pela equipe de revisão de materiais ou pelos parceiros da UEB eram fornecidos materiais didáticos impressos onde se discutiam sobre as temáticas em questão. Na medida que os materiais produzidos pelos professores eram recebidos pela equipe de revisão, eram realizadas as avaliações, sugeriam-se as revisões necessárias, e, observando as características que valorizavam o material, criávamos um banco de dados que se constituía em um conjunto de sugestões e dicas para a preparação de conteúdos didáticos a serem disponibilizados na Web e em mídia impressa.

Após esta fase, e considerando que a formação se dá em um processo contínuo, mesclando entre o individual e o coletivo, o nosso próximo passo será um curso de extensão com uma carga horária de 60 horas e posteriormente uma especialização para todos os professores que participarão deste empreendimento. Pois faz parte da proposta a melhoria constante dos materiais produzidos.

Para organizar, planejar e produzir materiais didáticos inovadores e de qualidade para EAD, é preciso priorizar e investir na capacitação dos professores com vistas ao desenvolvimento de competências para a constituição de um material que possibilite a aprendizagem significativa dos alunos.

 

5. Considerações Finais

A experiência de análise do material didático e acompanhamento do processo de construção dos cursos de licenciatura na modalidade a distância da FTC ead, permitiu-nos avaliar, em parte as possibilidades de mudanças nas concepções, e na práxis pedagógica dos profissionais envolvidos. Dentre outras questões e de maneira especial gostaríamos de destacar a importância da formação desse novo profissional de educação para o desempenho pedagógico num contexto mediatizado por novas linguagens comunicacionais vinculadas as TIC – tecnologias da informação e comunicação. Foi observado que, interagir à distância pressupõe a construção de novos conceitos espaciais e temporais distintos daqueles característicos das salas de aula convencionais. Assim a lógica linear precisa ser superada gradativamente por lógicas hipertextuais, fundamentadas nos conceitos de redes, coletividades inteligentes e interdisciplinaridades. Percebemos que os professores envolvidos no processo, mesmo após oficinas e cursos de capacitação para a elaboração de material em EAD, produziam textos que revelavam lógicas temporais convencionais. Um dos principais sinalizadores identificados quanto a esse aspecto foi a forma de tratamento que utilizavam para os alunos, tais como: “caro aluno”, por exemplo, que revelava uma percepção de distância, demonstrado que a lógica espaço-temporal que prevalecia ainda era sustentada pela idéia do “longe e distante”. A experiência revelou também a importância da atuação de uma equipe multidisciplinar e multiprofissional para a produção do conhecimento, gerenciamento dos processos e acompanhamento das atividades de estruturação dos cursos, especialmente a elaboração coletiva do material didático. Assim, ficou evidenciada a importância e relevância do trabalho em grupo nos espaços coletivos de interações e construções. O companheirismo, a ajuda mútua, a afetividade e a construção de um saber socializado e compartilhado foram aspectos considerados imprescindíveis e estruturantes de um novo paradigma de compartilhamento e democratização do conhecimento e da aprendizagem. Em suma, as experiências vivenciadas, longe de servir como modelo, nos ensina que muito há ainda por saber e construir nos caminhos que precisam ser trilhados por todos aqueles que se interessam e se dedicam a essa área fundamental para a educação contemporânea, que é a EAD. Finalmente, ao se buscar linguagens condizentes com as dinâmicas societárias da contemporaneidade, estaremos contribuído para o aprimoramento do processo educacional, interagindo, dialogando e encontrando novos sentidos para a educação na sociedade do conhecimento.

 


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BARBIER, René. A pesquisa-Ação. Trad. Lucie Didio. Brasília: Plano, 2002.

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