Maria Vitória Ribas de Oliveira Lima
Universidade Federal de Pernambuco- UFPE – ribasolima@aol.com.br
Patrícia Smith Cavalcante/DO
Universidade Federal de Pernambuco- UFPE – psmith@ce.ufpe.br
Tema: B- Planejamento, Elaboração e Avaliação de Materiais Didáticos para Educação a Distância; Categoria: 1- Educação Fundamental, Média e Tecnológica
TC – B1 – 11º CONGRESSO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Resumo
Este trabalho faz parte de um projeto de dissertação de mestrado
em andamento na UFPE, que se propõe em analisar as concepções de avaliação da
aprendizagem presentes no Programa de Educação a Distância PROFORMAÇÃO - Programa
de Formação de Professores em Exercício em nível médio com habilitação em Magistério.
Ele é destinado aos professores sem habilitação mínima, que atuam nas quatro
séries iniciais do ensino fundamental e na educação infantil, com maior incidência
em zona rural das regiões Norte e Nordeste do Brasil. Este trabalho foca, então,
nas ações de acompanhamento e avaliação dos cursistas realizadas pelos professores
formadores, nos instrumentos de avaliação (Caderno de Verificação da Aprendizagem
– CVA e Provas Bimestrais – PB) que são utilizados pelo Programa. A partir dos
resultados, analisamos as concepções de avaliação na perspectiva teórica, segundo
Hoffmann, na perspectiva legal e na modalidade da Educação a Distância. Pretendemos,
portanto, contribuir com a urgente e necessária discussão sobre avaliação na
Educação a Distância.
Palavras-chaves:
Educação a Distância, PROFORMAÇÃO, Avaliação da Aprendizagem.
1- Introdução
Entendemos que os processos de ensino e aprendizagem não podem estar separados do processo de avaliação, o qual pode ser compreendido através de diferentes concepções. A discussão sobre novas perspectivas de inovação no processo de avaliação dos processos de ensino e aprendizagem tem encontrado sérios entraves na prática educativa.
“O problema é complexo e envolve lógicas antagônicas; a avaliação está no âmago das contradições do sistema educativo, constantemente na articulação da seleção e da formação, do reconhecimento e da negação das desigualdades” (PERRENOUD, 1999).
O problema se agrava ainda mais, quando se trata da modalidade a distância, porque nos cursos de Educação a Distância não há uma forma específica de se fazer avaliação, levando em conta as diversas tecnologias e as pesquisas ainda são poucas sobre este assunto.
Isto nos instiga a desenvolver um projeto de pesquisa que tem como objetivo discutir as concepções de avaliação do PROFORMAÇÃO; explicitar as concepções que perpassam alguns dos instrumentos de avaliação do Programa; comparar as concepções adotadas nos documentos institucionais com as teorias da avaliação e analisar as formas de avaliação na Educação a Distância.
Neste trabalho examinaremos a concepção e os objetivos dos instrumentos de avaliação utilizados pelo PROFORMAÇÃO, observados nos documentos oficiais e nas entrevistas realizadas com os professores formadores que acompanham as ações dos cursistas, quando estão em encontros presenciais de retorno das atividades a distância. Discutiremos, então, a avaliação da aprendizagem na perspectiva teórica, legal e na modalidade a distância.
2- Educação a Distância
O crescimento e o desenvolvimento da Educação a Distância, nas últimas duas décadas, tem sido significativo e a preocupação com as características e a qualidade dos processos de ensino e aprendizagem, nesta modalidade, tem sido tema de vários debates.
A modalidade de Educação a distância costuma caracterizar-se por sua flexibilidade em torno da proposta de ensino, e hoje, com o desenvolvimento das tecnologias da informação e comunicação, as interações entre docentes e alunos são favorecidas, encurtando as distâncias. Assim, a utilização da modalidade a distância conseguiu que vastos setores da população, até então marginalizados dos sistemas convencionais ou formais, pudessem ter acesso aos estudos até mesmo universitários (LITWIN, 2001).
Contudo, o valor da proposta, mesmo quando adota os últimos recursos tecnológicos, continua residindo, como em qualquer projeto educacional, na qualidade das propostas para o ensino, dos conteúdos selecionados e na formação do professor. Devendo contar, assim, com um corpo docente preocupado com o processo de aprendizagem dos estudantes, estejam eles em um espaço público ou diante de um computador fazendo exercícios (LITWIN, 2001).
A EAD como uma modalidade de organização e desenvolvimento de currículo educacional, não deve ser reduzida apenas às questões metodológicas ou à possibilidade de uso das tecnologias da informação e comunicação -TIC. Segundo Neder (2002), deve ser vista, também, como um espaço de educação que favoreça a construção de uma prática que possibilite aos sujeitos da ação educativa a compreensão crítica da realidade social em que se inserem, com vistas a uma participação ativa nessa realidade. Isso implica numa concepção de educação como um sistema aberto, não só voltado para a transmissão e transferência de conhecimentos.
Para que isto se realize devemos optar por processos e instrumentos voltados para a modalidade a distância, que estimulem os sujeitos da ação educativa a serem ativos no processo de construção do conhecimento, principalmente quando se tem presente que no mundo contemporâneo o conhecimento evolui de forma incontrolável e exige uma educação voltada para a autonomia do aprendiz, gerando uma metodologia do aprender a aprender.
Como vimos, até aqui, a qualidade da proposta de um curso é fundamental seja ele presencial ou a distância. Mas, as características da modalidade a distância precisam ser consideradas como a flexibilidade em relação a tempo e espaço, a abrangência, muitas vezes até geográfica, do público atendido. Portanto, um olhar reflexivo sobre uma proposta pedagógica de um curso a distância deve nos remeter aos critérios que definem os processos de ensino e aprendizagem e conseqüentemente o processo de avaliação da aprendizagem.
3- Avaliação da Aprendizagem na perspectiva teórica
Segundo Hoffmann (1995), a avaliação pode ser classificatória, caso seja compreendida como um julgamento onde se considera apenas as modificações relativas ao aluno. Mas, pode ser considerada como uma reflexão permanente do educador sobre sua realidade, e acompanhamento passo a passo do educando, na sua trajetória de construção do conhecimento. Ocorrendo, assim, o que Hoffmann (1998) denomina de Avaliação Mediadora.
A ação Avaliativa Mediadora envolve um complexo processo educativo, que se desenvolve a partir da análise das hipóteses formuladas pelo educando, de suas ações e manifestações. Neste sentido, a dinâmica da avaliação efetiva-se, justamente, a partir da análise das respostas do educando frente às situações desafiadoras, nas diferentes áreas do conhecimento. Nesta perspectiva, o acompanhamento pelo professor das tarefas realizadas pelo aluno são de grande importância, mas esse acompanhar abandona o significado atual de retificar, reescrever, sublinhar, apontar erros e acertos e se transforma numa atividade de pesquisa e reflexão sobre as soluções apresentadas pelo aluno, anotando respostas diferentes, questões não respondidas, registrando-se relações entre soluções apresentadas por ele. Esse acompanhamento ativo do processo de construção de hipóteses pelo aluno subsidiará o processo educativo, intermediando as tarefas, no sentido de favorecer e observar os avanços na construção do conhecimento.
No entanto, a Avaliação Classificatória caracteriza-se por registros bimestrais, trimestrais ou semestrais que estabelecem uma rotina de tarefas e provas periódicas desvinculadas de sua razão de ser no processo de construção do conhecimento. O grau, nota, conceito são conferidos ao aluno sem interpretação ou questionamento quanto ao seu significado e poder. Essas classificações periódicas, terminais, geralmente não consideram o erro como processo construtivo do aluno e impedem que professores e alunos estabeleçam uma relação de interação a partir da reflexão conjunta sobre as hipóteses formuladas pelo educando em seu processo de aprendizagem. Na avaliação classificatória, privilegia-se os critérios de correção e de atribuição de notas e conceitos resumindo-se a discussão sobre avaliação à questão de aprovação, reprovação (HOFFMANN, 1995).
4- A avaliação da aprendizagem na perspectiva legal
Com a promulgação da Lei 9394/96, que fixa as Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a Educação a Distância passou a ser uma alternativa regular e regulamentada e deixou de pertencer ao elenco de projetos sempre designados como “experimentais”, ao sabor de momentâneas e autoritárias decisões políticas, tanto a favor quanto contra, sem qualquer respeito a resultados educacionais concretos (Neto, s/d).
A Lei 9.394/96 de Diretrizes e Bases da Educação - LDB adota como principio a avaliação em processo. No item V do Art. 24, referente à educação básica, a Lei estabelece que “a avaliação deve ser contínua e cumulativa do desempenho do aluno, como prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas finais”. Destacamos o trecho “eventuais provas finais” para frisar que a LDB preconiza que os resultados devem ser cumulativo ao longo do período com prevalência dos aspectos qualitativos.
Em relação à Educação a Distância a mesma Lei em seu Artigo 80, § 2º, estabelece que “a União regulamentará os requisitos para a realização de exames e registros de diplomas relativos a cursos de Educação a Distância”.
A possibilidade de exames ou provas finais presenciais no processo ou finais, tornam-se obrigatórias para educação a distância nas deliberações do Conselho Nacional de Educação, sobretudo nas Resoluções referentes às Diretrizes Curriculares da Educação de Jovens e Adultos (Resolução nº 1, de 5 de julho de 2000, da Câmara de Educação Básica). Ela estabelece que em cursos a distância a certificação de conclusão só ocorrerá via exame presencial ao estabelecer no Art. 10
“no caso de cursos semi-presenciais e a distância, os alunos só poderão ser avaliados, para fins de certificação de conclusão, em exames supletivos presenciais oferecidos por instituições especificamente autorizadas, credenciadas e avaliadas pelo poder público, dentro das competências dos respectivos sistemas, conforme a norma própria sobre o assunto e sob o princípio do regime de colaboração.”
A opção em manter a experiência do presencial como garantia de verificação e avaliação, em detrimento de utilizar meios capazes de realmente superar a distância, pode comprometer os objetivos e características da educação a distância, como também, desprezar alternativas que atendam melhor a especificidade do curso a distância.
5- Avaliação da Aprendizagem na Educação a Distância
Conforme Picanço (2003), a educação a Distância tem separado a avaliação da aprendizagem dos processos de ensino e aprendizagem, adotando modelos vigentes para educação presencial, como intuito de controlar o processo de certificação dos cursos, evitando possíveis fraudes quanto ao reconhecimento da aprendizagem “adquirida” pelo aluno. Assim, apesar do curso ser a distância, a avaliação é presencial, representado um momento de ruptura com o processo educativo em desenvolvimento mediado por tecnologias.
Esta separação da avaliação do processo de ensino e aprendizagem na EAD acaba não considerando aspectos que caracterizam a modalidade EAD. Em primeiro lugar, não considera a flexibilidade de espaço, uma vez que os exames devem ser prestados presencialmente. Não considera, também, a flexibilidade de tempo, uma vez que os alunos devem sincronizar seu ritmo de estudo aos prazos definidos para apresentação dos resultados dos processos de aprendizagem. Sem contar, ainda, que na prática avaliativa a forma como os alunos expressam suas aprendizagens tem sido através da linguagem escrita (lápis e papel). Não considerando, assim, outras formas de linguagem e mídias disponíveis nos sistemas de EAD No entanto, a evolução crescente e acelerada das tecnologias implica num movimento que a cada dia diminui a distância entre ações de receber, tratar e tomar decisões. Com isso, vivemos em um momento de negociação e de reconhecimento do estado de integração dos sujeitos, em uma rede de relações que inclui informações, tecnologias e pessoas (idem, ibidem).
Ao mesmo tempo é marcante o sentimento de insuficiência das teorias da avaliação frente aos desafios postos à EAD, levando-nos a questionar, como deve ser avaliado o processo de aprendizagem do aluno que se encontra separado fisicamente do professor? Neste sentido, nosso estudo busca descrever e compreender como ocorre a avaliação do curso a distância PROFORMAÇÂO, na perspectiva de contribuir para à resposta a esta questão.
Neste sentido, PICANÇO (2003) coloca que a avaliação a distância pode ser desenvolvida ao longo do processo; pode ser diversificada, pois oferece muitos ambientes de interação e oportuniza a realização da auto - avaliação para os estudantes que se encontram interessados em conhecer o seu próprio rendimento. Portanto, para ele, devemos considerar o potencial implícito na Educação a Distância, pelo que essa prática provoca em termos de reflexão sobre o sentido da educação e dos novos modos de construção e avaliação do conhecimento.
6- Avaliação da Aprendizagem no PROFORMAÇÃO
O Programa prevê que a avaliação do professor cursista orientar-se-á pelos pressupostos da proposta pedagógica, especialmente no que se refere à avaliação como processo cumulativo, contínuo, abrangente, sistemático e flexível de obtenção e julgamento de informações quantitativas e qualitativas sobre o processo ensino e aprendizagem, de modo a: verificar se os objetivos de ensino propostos estão sendo alcançados; planejar formas de apoio aos professores cursistas que apresentam dificuldades; obter subsídios para a revisão dos materiais e da estratégia do curso (CUNHA, 2000, p.24).
Para a avaliar a aprendizagem do cursista o Programa utiliza cinco instrumentos de verificação do desempenho. Caderno de Verificação de Aprendizagem; Provas Bimestrais; Prática Pedagógica; Memorial e Projetos de trabalho.
Neste artigo nossa análise focalizará o Caderno de Verificação de Aprendizagem e Provas Bimestrais, instrumentos que mais preocupam os professores formadores que acompanham o Programa. A descrição dos referidos instrumentos que apresentamos, abaixo, revela a concepção de avaliação da aprendizagem que os perpassam.
O Caderno de Verificação de Aprendizagem são exercícios relativos aos conteúdos de cada área temática dos Guias de Estudo, que devem ser respondidos pelo professor cursista, em casa, com consulta, ao longo de duas semanas de estudo de cada unidade. O Caderno de Verificação deve ser entregue ao tutor no encontro quinzenal do sábado. O tutor corrige com ajuda da chave de correção, caso o cursista não obtenha 50% ou mais de acertos em cada área temática, ele deverá fazer a recuperação no próximo encontro quinzenal.
A Prova Bimestral são instrumentos de medida de desenvolvimento dos professores cursistas nas competências que envolvem processos e produtos predominantemente cognitivos, ligados aos conteúdos das áreas temáticas. Elas são aplicadas a cada dois meses e deverão ser respondidas individualmente e sem consulta pelo cursista. O tutor aplica a prova e quem avalia é a equipe de professores formadores da AGF, com auxílio da chave de correção envida pela Coordenação Nacional do Programa – SEED/MEC. Caso o cursista não obtenha 50% de aproveitamento em cada área temática, ele fará a recuperação obrigatória nas áreas temáticas cujo desempenho tenha ficado abaixo do exigido.
A forma como os instrumentos são utilizados em períodos pré-determinados pelo Programa. Com pontuação do resultado dos desempenhos em períodos quinzenal, mensal, bimestral ou semestral estabelecem uma rotina de tarefas e provas periódicas, desvinculadas de sua razão de ser, do processo de construção do conhecimento do cursista e, assim, podemos dizer que apresentam características mais compatíveis com a função da avaliação classificatória (HOFFMANN, 1995).
7- O Método
O estudo utilizou-se da análise documental do Caderno de Verificação de Aprendizagem - CVA e Prova Bimestral-PB do PROFORMAÇÃO e de entrevistas com três professores formadores: um da área temática de Vida e Natureza e dois da área Pedagógica.
A pesquisa está sendo realizada na Agência Formadora - AGF de Palmares/PE, localizada na Escola Monsenhor Abílio Galvão que, atualmente, atende a 25 cursistas dos municípios de: Água Preta, Cabo, Catende, Lagoa dos Gatos, Ibimirim, Jaqueira e Ribeirão.
As entrevistas tiveram caráter semi-estruturado, de forma que permitiram que o pesquisador conhecesse mais particularidades a respeito dos entrevistados e nesse caso, como os professores formadores concebem e realizam o processo de avaliação da aprendizagem dos cursistas.
As questões das entrevistas foram elaboradas com o objetivo de discutir o acompanhamento da avaliação dos cursistas do PROFORMAÇÃO e as concepções de avaliação que perpassam os instrumentos de avaliação do Programa.
8- Resultados e Discussões
Os resultados aqui apresentados dizem respeito às questões selecionadas da entrevista, para a análise dos objetivos do Caderno de Verificação (CVA) e Prova Bimestral (PB). Utilizamos como referência, para análise das respostas, as concepções teóricas de avaliação e as competências que o Programa prevê, a serem adquiridas ao longo do curso pelo professor cursista (anexo 1).
O quadro 1, abaixo, evidencia alguns pontos interessantes referente as concepções de avaliação dos professores formadores entrevistados e a perspectiva de avaliação que perpassa a proposta pedagógica do Programa.
INSTRUMENTOS |
CVA |
PB |
---|---|---|
professor formador (1) |
Dominar os conteúdos; lê os Guias de Estudo |
Dominar os conteúdos que o CVA exige |
professor formador (2) |
Conteúdos das unidades dos Guias de Estudo; relacionar teoria e prática |
Compreensão do conteúdo das áreas temática do Guia de Estudo, relacionando o saber científico com o cotidiano |
professor formador (3) |
Compreensão do conteúdo do livro Guia de Estudo |
Leitura e compreensão do livro Guia de Estudo |
Quadro 1- Objetivo da avaliação dos instrumentos CVA e PB do PROFORMAÇÃO segundo os formadores
Legenda: CVA: Caderno de Verificação de Aprendizagem
PB: Provas Bimestrais
Os formadores revelam que a principal competência (o que o cursista precisa dominar para ser bem sucedido), tanto no Caderno de Verificação de Aprendizagem como na Prova Bimestral é o domínio dos conteúdos das áreas temáticas, que se encontram nos guias de estudo, compatível com o que o programa prevê para esses instrumentos.
Percebemos que o guia de estudo, espécie de livro didático do cursista, é citado como a única fonte de consulta utilizada e serve para o cursista estudar e alcançar os objetivos previstos no módulo e, assim, ser aprovado na unidade e/ou módulo do curso.
Podemos dizer que os professores formadores transpõem para sua prática as orientações prescritas nos documentos instrucionais do Programa.
A maioria das competências a serem adquiridas ao longo do curso pelos professores cursistas, previstas na proposta curricular do Programa, não aparece nos depoimentos dos professores formadores, como objetivo da avaliação nos instrumentos analisados. As competências relativas ao conteúdo aparecem muito fortemente, tanto no CVA quanto no PB, seguidas pelas competências relativas ao saber advindo da prática do professor. Entretanto, competências como a “compreensão do desenvolvimento humano em relação à aprendizagem” ou “estratégias de gestão de classe” ou, ainda, “atuação profissional cidadã e consciente” não figuram como conceitos trabalhados passíveis de avaliação pelos instrumentos do programa. Isto nos permite inferir que a formação destes cursistas, na prática, não é tão abrangente conforme diz o documento oficial do programa.
O quadro 2, abaixo, apresenta dados da entrevista que tem como objetivo discutir a perspectiva da avaliação do Programa segundo as teorias de avaliação.
Roteiro I - Questão 1 – as dúvidas dos cursistas são tiradas onde e como? |
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Professor Formador -PF |
ONDE |
COMO |
Professor Formador 1 |
No Reforço que a Agência Formadora faz preparando para a prova bimestral |
Revendo as dificuldades que o cursista apresenta no Guia de estudo e no Caderno de verificação de aprendizagem- CVA |
Professor Formador 2 |
Encontros quinzenais e encontro de Reforço |
Exposição dialogada,levantamento das dificuldades e com exercícios baseados nos guias de estudo |
Professor Formador 3 |
Fase presencial e o encontro de Reforço |
Conversa com o aluno no presencial para uma auto-avaliação onde errou e com atividades preparatórias para a avaliação |
Questão 2- as questões “erradas” do CVA ou da Prova são retrabalhadas? |
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Professor Formador 1 |
Chamando a atenção do cursista para as questões erradas, porque eles negligenciam o estudo do Guia. As questões que mais apresentam dificuldades na unidade são retrabalhadas pelo formador no reforço |
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Professor Formador 2 |
São retrabalhadas no encontro quinzenal para saber se foi falta de estudo do Guia ou por conta do entendimento do enunciado. |
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Professor Formador 3 |
As questões que apresentam erro procura fazer novo exercício para que eles entendam melhor. |
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Questão 3- Como as dificuldades dos cursistas são analisadas? |
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Professor Formador 1 |
Como dificuldade de leitura e entendimento, não estuda o guia e não faz suas atividades da quinzena |
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Professor Formador 2 |
Analisa as dificuldades do cursista em responder as atividades dos guias, no qual serão baseadas as provas bimestrais. Considera importante uma auto-avaliação do Formador para reorientar as atividades |
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Professor Formador 3 |
Analiso como dificuldade em entender o enunciado ou não ter estudado o livro guia |
Quadro 2 – Ações de acompanhamento da aprendizagem do PROFORMAÇÃO segundo professor formador.
Conforme o quadro acima, o Programa não apresenta nenhum indício de avaliação que seja característico de um curso na modalidade a distância.
Percebe-se que o encontro presencial de “reforço” para prova bimestral é o momento destacado onde são tiradas as dúvidas apresentadas pelos cursista nas respostas do Caderno de Verificação de Aprendizagem e na Prova Bimestral.
O “reforço” é dado com intuito de cessar o comportamento indesejável do cursista, predominando a preocupação com a pontuação mínima necessária a ser obtida pelo professor cursista para aprovação na unidade ou no módulo do curso.
Nas respostas dos formadores percebemos que o “erro” não é considerado como uma tentativa de acerto, mas como algo a ser sanado para obter as respostas certas esperadas, de acordo com o que está estabelecido pelo Programa.
Nem sempre há coerência entre o que o Programa propõe, os instrumentos utilizados e o processo desenvolvido, no entanto, os documentos institucionais do Programa apontam que a avaliação será contínua, processual e isso não é revelado nas entrevistas.
A preocupação constante dos professores com o desempenho dos cursistas nas duas provas bimestrais, realizadas durante cada módulo, para que eles obtenham a pontuação mínima necessária para prosseguir no curso, revela uma concepção de avaliação classificatória. Fundamentada no acerto e no erro, na aprovação e reprovação.
No PROFORMAÇÃO as provas bimestrais não são momentos eventuais como prevê a LDB em seu Art 24 item V.
9-Conclusão
Embora o programa proponha que a avaliação será contínua, progressiva, formativa numa perspectiva processual. A análise dos instrumentos de avaliação utilizados pelo PROFORMAÇÃO e os dados das entrevistas realizadas com os professores formadores revelam que nem sempre há coerência entre as concepções teóricas que o programa propõe, os instrumentos utilizados e o processo de avaliação desenvolvido com os cursistas.
A análise comparativa dos instrumentos de avaliação, CVA e PB, com o que dizem os autores que discutem avaliação da aprendizagem, indica que tais instrumentos de avaliação são utilizados de forma que se caracteriza como uma avaliação classificatória.
O que se observa nas entrevistas dos professores formadores é o intuito de transpor as orientações do programa respeitando o que ele prescreve. Neste caso, a avaliação ainda é percebida, essencialmente, como uma prática institucional respondendo à necessidade de controle que o Programa tem sobre os sujeitos envolvidos. Nesse processo, os professores formadores apresentam-se mais como articuladores das informações entre o desempenho dos cursistas e a Coordenação Nacional do Programa.
Na análise dos dados fica evidente que a avaliação do PROFORMAÇÃO desenvolve-se sempre em momentos presenciais como, fase presencial, encontros quinzenais ou encontro para reforço das provas, correspondendo ao modelo de um curso presencial. O Programa não utiliza nenhum meio ou recursos tecnológicos nos processos de ensino aprendizagem e de avaliação que seja característico de um curso na modalidade a distância. É a ruptura que descreve Picanço (2003), entre o curso na modalidade em EAD e a Avaliação em EAD, a qual não incorpora as características da modalidade, permanecendo presencial.
Colaborando para esta ruptura entre o ensinar e a avaliação, a Resolução nº01/2000/CNE determina que nos cursos na modalidade a distância para fins de certificação de conclusão, os aluno só poderão ser avaliados de forma presencial. Entretanto, isto não justifica que o acompanhamento da capacidade dos alunos de construir e reconstruir o conhecimento, isto é, da aprendizagem, não seja realizado com a utilização de outras mídias que atendam melhor a especificidade da modalidade a distância. Os CVAs, por exemplo, poderiam apresentar características mais compatíveis com a EAD, principalmente em se tratando de um curso de formação de professores.
Referências Bibliográficas
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BRASIL, Resolução CNE/CEB Nº 1, de 5 de julho de 2000, Estabelece as Diretrizes Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos, In: Diretrizes Curriculares Nacionais – Educação Básica, CNE/ Brasília- 2001
CUNHA, Maria Antonieta Antunes - Manual do tutor do PROFORMAÇÃO, Brasília, MEC. FUNDESCOLA, 2000.
CUNHA, Maria Antonieta Antunes – Guia Geral do PROFORMAÇÃO, Brasília, MEC. FUNDESCOLA, 2000.
HOFFMANN, Jussara Maria Lerch. Avaliação Mito e Desafio: uma perspectiva construtivista. Porto Alegre: Mediação, 1995.
LITWIN, Edith., Introdução: O Bom Ensino na Educação a Distância, In: LITWIN, Edith (org), Educação a Distância: temas para o debate de uma nova agenda educativa, Porto Alegre: Artmed Editora , 2001.
NEDER, Maria Lúcia Cavalli, O Processo de Gestão e Avaliação na Educação a Distância - UFMT- 2002, mimeo.
NETO, Francisco José da Silveira Lobo, Educação a Distância: Regulamentação e realização, UFF - (s/d).
PERRENOUD, Philippe. Avaliação da excelência à regulação das aprendizagens, entre duas lógicas, Porto Alegre, Artes Médicas, 1999.
PICANÇO, Alessandra de Assis. Para que avaliar na Educação a Distância?. In: ALVES, Lynn; NOVA, Cristiane (Orgs). Educação a Distância: uma nova concepção de aprendizado e interatividade. São Paulo: Futura, 2003.
ANEXO 1
COMPETÊNCIAS A SEREM ADQUIRIDAS AO LONGO DO CURSO PELOS PROFESSORES CURSISTAS
1- PLANEJAMENTO E PREPARAÇÃO |
1.1. Domínio dos conteúdos integrantes da base nacional comum do currículo de Ensino Básico em nível médio; 1.2. Compreensão das peculiaridades do ser humano em cada etapa, do desenvolvimento, em relação à aprendizagem; 1.3. Capacidade de organizar situações de ensino eficazes. |
2. O AMBIENTE DA SALA DE AULA |
2.1. Domínio das estratégias de gestão da classe e dos instrumentos para a organização das condições de ensino, de modo a potencializar a aprendizagem dos alunos com diferentes níveis e ritmos de aprendizagem. |
3-ENSINO – APRENDIZAGEM |
3.1. Domínio das estratégias de gestão dos conteúdos e dos instrumentos para a organização das condições de ensino, de modo a potencializar a aprendizagem de alunos com diferentes níveis e ritmos de aprendizagem. |
4.RESPONSABILIDADES PROFISSIONAIS |
4.1.Capacidade de produzir saberes pedagógicos; 4.2. Capacidade de intervir na organização da escola e do trabalho escolar; 4.3. Capacidade de atuar como cidadão e como profissional consciente e responsável. |