Formação do tutor para as funções de acompanhamento e avaliação da aprendizagem à distância

ABRIL/2004

 

NELLY MOULIN
UNIVERSO
nmoulin@attglobal.net

VILMA PEREIRA
UNIVERSO
pereirav@hinfolink.com.br

MARIA APARECIDA TRARBACH
UNIVERSO
cida@uniest.com.br

TC – A2 – 11º Congresso Internacional de Educação a Distância


Resumo:
O estudo apresenta uma concepção das funções da tutoria a serem trabalhadas nos cursos superiores que visam à formação do tutor, com especial ênfase nas funções de acompanhamento e avaliação do aluno à distância. O trabalho parte de uma visão atual da aprendizagem à distância e de experiências de tutoria em cursos semi-presenciais e virtuais, para chegar à definição de funções e habilidades tutoriais básicas para o exercício das tarefas da tutoria. Alguns pressupostos que embasam o estudo reforçam que nenhuma ação educativa pode prescindir de uma reflexão sobre o homem e de uma análise sobre suas condições culturais (Freire, 2001), assim como o diálogo e a interatividade (Silva, 2001) são fundamentais para que o aluno perceba que estar distante não significa estar só. São sugeridos instrumentos como o portfólio no acompanhamento da aprendizagem e na avaliação qualitativa (Moulin, 2001) e sistemáticas de acompanhamento e avaliação, que envolvem o tratamento positivo do erro com a participação do aluno e a auto-avaliação. Esperamos que a reflexão apresentada neste trabalho contribua para as discussões que envolvem a formação do tutor para a aprendizagem à distância.


Palavras-chave:
Funções da tutoria na aprendizagem à distância; tutor na função de avaliador; instrumentos e sistemática de avaliação à distância.

 


Introdução

O sistema de tutoria, de modo geral, está presente em todos os cursos ministrados à distância, no entanto há grande diversificação na sua concepção, organização e funcionamento. Nos manuais e guias que apresentam a estrutura e organização dos cursos, verifica-se que, embora seja oferecido o apoio do tutor e apontadas as vias de comunicação entre tutor e aluno, por vezes, a procura de apoio é opção do aluno (UnB, 1997), assim como os custos operacionais da tutoria (UCB, 1998).

Em outras situações, percebe-se que a tutoria recebe atenção especial, constituindo tópico bem desenvolvido no guia do aluno, que destaca a interação que deve existir entre tutor e aluno, e descreve com detalhes a sistemática de trabalho. Nesse caso está o curso de especialização em Didática Aplicada à Educação Tecnológica, ministrado pelo CEFET / RJ (CEFET-RJ / DIREN, 1994). A existência permanente do tutor em sistema de plantão, os diálogos em torno das tarefas elaboradas e re-elaboradas pelos alunos, até que o trabalho fosse considerado satisfatório, constituíram elementos essenciais na construção da aprendizagem do aluno. Note-se que a comunicação entre tutor e aluno era realizada por meio de telefone, fax e correio postal, não contando ainda com a velocidade da comunicação pela Internet.

Essa disparidade nas formas de ver e de realizar a tutoria nos levaram a algumas indagações.

Essas são as principais questões que pretendemos responder neste estudo. Para tanto, partimos de uma reflexão inicial sobre a visão atual da aprendizagem à distância e sobre experiências de tutoria vivenciadas em cursos semi-presenciais e virtuais.

 

1 - Ensino à Distância em uma Concepção Atual

Atualmente, a Educação a Distância está sendo repensada tendo em vista as transformações sociais, culturais, tecnológicas, científicas por que passa a sociedade. Todas essas transformações demandam habilidades específicas, a serem desenvolvidas em um contexto pedagógico inovador. Na nova visão de educação a distância, alguns pontos têm tido plena aceitação.
O primeiro ponto refere -se à natureza do processo de aprendizagem à distância, ou seja, trata-se de uma forma de auto-aprendizagem sistematicamente organizada em torno de uma proposta didático-pedagógica bem definida, que ocorre sem a imediata supervisão de um professor.

O segundo ponto envolve a população atendida e suas características. Trata-se de uma forma de ensino dirigida a uma população de jovens e adultos com suficiente maturidade para assumir seus estudos e administrar sua própria aprendizagem. Cabe, também, ao aluno a responsabilidade de estabelecer e perseguir seus próprios objetivos de aprendizagem, de administrar seu tempo para pesquisas, leituras, consultas à Internet e elaboração de tarefas.

A partir dessas características, inferimos que o perfil ideal do aluno do curso à distância é bastante exigente em termos das condições para uma aprendizagem efetiva. No entanto, acreditamos que o “aprender a aprender” e os atributos necessários ao aprendiz independente possam ser construídos. Essa é uma das tarefas essenciais do curso a distância, cujo desempenho, geralmente, é atribuído à tutoria.

Outros aspectos justificam a necessidade de organizar a mediação didático-pedagógica do curso de forma a prestar atendimento significativo ao aluno. Um deles refere-se à necessidade de manter o aluno bem integrado ao curso por meio de comunicação permanentemente aberta e de estratégias que promovam o diálogo e a interatividade. Um atendimento adequado ao aluno impede que aprendizagem independente signifique “isolamento”, “trabalho solitário” ou “falta de comunicação”.

O fato de o aluno assumir sua aprendizagem na modalidade à distância não exclui o apoio que deve receber ao tomar decisões sobre a definição de suas metas pedagógicas ou nos momentos em que surgem os bloqueios e as dúvidas. Cabe à tutoria proporcionar orientação sobre os caminhos a seguir, propor exercícios inteligentes, acompanhar e avaliar a aprendizagem.

Com relação à avaliação da aprendizagem, tanto no ensino presencial como no ensino à distância, consideramos que a avaliação formativa deva ser enfatizada, o que exige acompanhamento constante, intervenção e re-planejamento de estudos, se necessário. Sendo assim, as funções de acompanhamento e avaliação, exercidas pela tutoria são consideradas obrigatórias e permanentes.

Em suma, a primeira questão levantada neste estudo pode ser respondida de forma positiva. Uma nova concepção de ensino à distância implica a presença de um serviço de apoio pedagógico ao aluno na estrutura e organização do curso. O apoio pedagógico é competência do setor de tutoria, cujas atividades não podem ser consideradas opcionais e, geralmente, são atribuídas a um ou mais tutores.

 

2 - Formação do Tutor

Tem sido fartamente repetida a assertiva de que a qualidade do ensino está diretamente relacionada com a qualidade da formação dos professores. Assim, repensar o ensino à distância bem sucedido, implica repensar a organização da tutoria e a formação dos tutores.

Na visão atual de educação a distância, o tutor passa a ter funções, tarefas, responsabilidades especiais. Sendo assim, sua formação deve considerar que a prática da tutoria está permeada por um novo olhar sobre o aluno na sua individualidade, sobre o material instrucional e sua compreensão, sobre as maneiras de incentivar, formar, orientar, acompanhar e avaliar o aluno e todo o processo.

Um dos princípios do ensino a distância é a necessidade de manter a comunicação bidirecional, o diálogo, como forma de quebrar o isolamento, promover a interação e aproximar os participantes do processo. Assim, na formação do tutor, conhecimentos sobre Teorias da Comunicação e da Informação devem ser enfatizados, principalmente quanto aos seus aspectos sociais e culturais. O foco dos estudos e da reflexão deve considerar as questões sócio-afetivas e as estratégias de contato e de interação com os aluno. Belloni (1999) considera que essas são questões que desafiam a qualidade do ensino à distância. Moran et al. (2002) também aponta a importância da comunicação na seguinte passagem: “O ensinar e o aprender exigem flexibilidade espaço-temporal, pessoal e de grupo, menos conteúdos de ensino e processos mais abertos de pesquisa e de comunicação” (p.28).

As mudanças e inovações tecnológicas, que influíram amplamente nas formas de mediação pedagógica no ensino à distância, constituem outro elemento da formação do tutor. Considerando a importância das novas tecnologias na mediação do ensino à distância, é imprescindível que conhecimentos e habilidades para lidar com elas façam parte dos cursos de formação do tutor. No entanto, lamentamos que a formação para o uso de novas tecnologias venha sendo negligenciada. Como constata Belloni (1999):

[...] uma variável importante como a integração de novas tecnologias na formação inicial de professores permanece uma grande dificuldade, já que exige grandes investimentos e profundas mudanças nos sistemas de ensino superior responsáveis por esta formação (p.85).

Para alguns autores, os conhecimentos necessários à formação do tutor não diferem muito daqueles de um professor de sala de aula presencial que, de acordo com Shulman (1995, apud Litwin, 2001), devem ser: conteúdos específicos, metodologia de ensino, objetivos e valores educacionais referentes ao(s) nível(is) e disciplina(s) da tutoria em questão.

Respondendo a segunda questão do estudo, em nossa perspectiva, além da formação calcada nas habilidades necessárias ao professor de classes presenciais, o tutor deve ter domínio das funções especificas da área de ensino à distância. Concordando com Litwin (2001), a formação teórica do tutor deve ser complementada com vivência da prática, ou seja, “sua formação teórica, disciplinar e pedagógico-didática deverá ser atualizada com a formação na prática dos espaços tutoriais, aspecto que não deveria ser deixado ao acaso” (p. 104).

 

3 - Funções do tutor

Neste trabalho, assumimos que o professor das classes presenciais e o tutor do ensino à distância têm funções distintas. Embora a base da formação inicial seja a mesma, lidar com o aluno à distância exige qualidades e habilidades específicas a serem trabalhadas na teoria e na prática.

O tutor não ensina. Ele fornece informações que só terão significado para o aluno se forem por este elaboradas. O tutor incentiva, orienta a elaboração do plano de estudos, aponta direções, acompanha e avalia a aprendizagem, e, à luz dos resultados da avaliação, re-orienta e intervém.

As funções da tutoria não se processam isoladamente e sim de forma interligada e integrada. No entanto, para fins de sistematização, propomos pensar essas funções direcionadas para apoiar e garantir a efetivação da aprendizagem independente em três vertentes:

O desempenho de cada uma dessas funções exige conhecimentos específicos e envolve procedimentos sistematizados, que serão tratados a seguir.

 

4 - Função de Aconselhamento

Destacamos a função de aconselhamento e a apresentamos em primeiro lugar em resposta a resultados de pesquisas indicando que:

o suporte que os alunos buscam nos serviços de tutoria é apenas parcialmente de cunho acadêmico, pois este também tem um caráter socializador muito forte, que permite ao aluno construir uma relação mais próxima com o tutor e com seus colegas (Silva, 2003, p.332-333).

Sendo assim, neste trabalho situamos a função de aconselhamento no âmbito do “aprender a ser”, que envolve tanto o auto-conhecimento e a auto-estima, como a valorização do outro e o saber conviver e colaborar com o outro.

O primeiro passo do tutor no exercício de suas funções é conhecer o perfil psico-pedagógico dos alunos, identificando o potencial, os interesses e as dificuldades de cada um. Somente a partir do perfil levantado, o atendimento poderá ser individualizado, por meio de estratégias apropriadas. Estratégias para identificação do perfil do aluno e individualização da aprendizagem têm sido pesquisadas e divulgadas por especialistas no ensino a distância (Monat et. al, 2000; Moulin et al, 2000). A importância de conhecer o perfil do aluno é confirmada por Paz et al (2003) referindo-se aos cursos oferecidos pelo Laboratório de Educação a Distância, da Universidade Federal de Santa Catarina:

O perfil da turma tem sido de grande valia para os professores, pois, de posse dessas informações, eles podem ajustar os programas de suas disciplinas, indicar a quais assuntos dar mais ênfase e também onde será preciso dar atenção especial aos alunos (p.338).

Motivar e incentivar o aluno para o estudo é uma ação recomendada a todos os professores no ensino presencial. Essa recomendação deve ser reforçada quando se trata do ensino à distância, onde a desistência constitui um dos maiores problemas. De acordo com Reinhard et al (2000), é de 70% a média de evasão de alunos dos cursos ministrados à distância. Assim, a motivação não pode se limitar ao incentivo inicial, mas deve ser constante no correr de todo o processo.

Muitas vezes, o aluno desiste do curso por não conseguir ultrapassar as dificuldades do estudo autônomo. Cabe, então, ao tutor sugerir atividades sistemáticas que criam hábitos de estudo e contribuem para o desenvolvimento do saber-aprender. Estimular autoconfiança, independência na tomada de decisões, iniciativa, inovação e criatividade do aluno para organizar sua aprendizagem também ajudam a construir a auto-estima de que o aluno necessita para realizar estudos independentes.

Para acabar com o mito do trabalho solitário e do isolamento que cerca o ensino a distância, o tutor deve usar estratégias para promover a comunicação, o diálogo e troca de experiências entre alunos do mesmo curso, assim como deve incentivar a comunicação aberta com outras instituições e outros grupos que partilham os mesmos interesses. No ensino virtual, o tutor promove as chamadas “salas de chat” ou de “bate-papo”, que constituem espaços, em tempo real, destinados à conversação informal entre alunos, professores e convidados.

 

5 - Função de Orientação da Aprendizagem

Na função de orientação da aprendizagem, o tutor volta o foco de sua atenção para a formação do saber e do saber-fazer, isto é, para as atividades do aluno na busca dos conhecimentos, habilidades e capacidades específicas de sua formação.

Já apontamos anteriormente que as funções do tutor estão interligadas e uma prova disso é o fato de o tutor valer- se do mesmo perfil psico-pedagógico de seus alunos para traçar estratégias de orientação de aprendizagem, levando em consideração os conhecimentos pré-existentes, interesses e objetivos de seus alunos.

O trabalho independente é tarefa que exige do estudante planejamento e direção dos próprios estudos, pois, nesse caso, os discentes estarão assumindo e executando tarefas geralmente atribuídas aos docentes. Quanto maior for a iniciativa própria do estudante, a sua autonomia para a pesquisa, a procura por inovações e o uso da criatividade, mais independente ele estará se tornando. Daí, a atuação do tutor nas funções de orientador da aprendizagem tem que conhecer os limites entre ditar ou impor caminhos e sugerir ou propor direções.

Como já discutido neste trabalho, cabe ao tutor informar, mas o conhecimento será construído com a participação ativa do aluno, ao elaborar as informações e ao exercitar operações que visam ao desenvolvimento do saber-fazer. Silva (2003) sugere que sejam oferecidos aos alunos: múltiplas informações em imagens, sons e textos; múltiplos percursos para elaborar as informações; e estímulos para que eles próprios criem novas informações, novos percursos, “participando como co-autores do processo” (p.55).

Em sua pesquisa sobre aprendizagem, Silva (2003) considera que a interatividade seja essencial para a aprendizagem efetiva. Na visão do autor a interatividade envolve três aspectos básicos: participação colaborativa; comunicação bidirecional e dialógica; e conexões em teias abertas, que ele define como: “a comunicação que supõe múltiplas redes articulatórias de conexões e liberdade de trocas, associações e significações” (p. 56).

Partindo dessas premissas, é função do tutor indicar as fontes de informação e propor atividades criativas, inovadoras, que facilitem a compreensão do aluno no aprender a conhecer e no aprender a fazer. Tais atividades devem levar, também, ao aprender a ser que, ao integrar aprendizados anteriores, propiciam a participação e cooperação do estudante com os demais membros de seu meio no desenvolvimento de tarefas comunitárias, conseguindo, assim, aprender a viver juntos. (Delors, 1998, apud Romão, 2002, p. 99).

Outras atividades são indispensáveis para o aluno que estuda à distância: atividades que desafiem e motivem os estudantes a mobilizar e utilizar os conhecimentos que já possuem e a buscar novos conhecimentos. Levar o aluno a pensar, refletir, faz parte do processo e, para tanto, operações de pensamento superior devem ser desenvolvidas. Como afirma Litwin (2001), devem ser desenvolvidas atividades que demandam

[...] a resolução de problemas, a análise de casos, a interpretação de posições diversas, a formulação de hipóteses, a elaboração de argumentos e justificativas, o estabelecimento de relações conceituais e de tomada de decisões (p.86).

É preciso lembrar que as operações de pensamento desenvolvem-se sempre em “situação”, em um contexto determinado. Para tanto, é fundamental o apoio de uma pedagogia dinâmica que oriente o aluno a trabalhar no seu próprio contexto, em um espaço privilegiado de aprendizagens ativas e enriquecedoras.

 

6 – Função de Avaliação

Em sua função de avaliador, o tutor acompanha e registra todas as atividades dos alunos em um sistema que possa ser facilmente acessado, quando necessário. Os registros servem de base para as avaliações e para o planejamento da tutoria, permitindo proposições mais adequadas ao tipo de trabalho sendo desenvolvido.

Moulin (2001) considera o portfólio como um instrumento apropriado para o acompanhamento e avaliação no ensino à distância. O instrumento consiste, na sua essência, de uma pasta individual, onde são colecionados os trabalhos realizados pelo aluno, no decorrer dos seus estudos, o que permite construir, entre outras coisas, o perfil acadêmico do aluno, refletindo o ritmo e a direção de seu crescimento, os temas de seu interesse, suas dificuldades e o potencial a ser desenvolvido. Além de sua própria produção acadêmica, o aluno é incentivado a registrar, no portfólio, suas reflexões e impressões sobre qualquer tema de seu interesse.

Entre as vantagens do uso do portfólio, a autora aponta o fato de o instrumento fornecer uma imagem em movimento contínuo, identificando o percurso caminhado. Além disso, a ordem cronológica da produção indica o ritmo e o sentido do desenvolvimento do aluno, enquanto as avaliações pontuais constituem a expressão de um momento, a imagem estática de um instante da vida acadêmica.

Em suma, enquanto acompanha e avalia o desempenho e o progresso do aluno, o tutor elabora relatórios freqüentes, com seu parecer sobre o processo e os rumos da aprendizagem. Os relatórios devem ser analisados com a participação do aluno e discutidos amplamente. Os resultados da análise oferecem ao tutor subsídios para suas decisões sobre como aconselhar e orientar o estudante no decorrer do curso, que leituras e material instrucional suplementar deve indicar e como poderá auxiliar o aluno na superação das dificuldades. Caso necessário, tutor e aluno poderão re-planejar ou re-direcionar os estudos.

 

7 - Auto-Avaliação e Concepção Construtiva do Erro

No ensino à distância, é fundamental a participação do aluno na avaliação de sua própria aprendizagem. Na verdade, temos observado que ele deve participar de todo o processo, desde a elaboração do plano de estudos. Assim, é essencial que desde as primeiras tarefas o aluno exercite a auto-avaliação e que a avaliação realizada pelo tutor seja analisada e discutida por ambos em seus pontos positivos e negativos.

Desse modo, a avaliação e seus resultados assumem sua verdadeira conotação, isto é, um instrumento auxiliar na tomada de decisões para melhorar a qualidade de ensino e alcançar aprendizagem efetiva.

Atualmente, uma nova abordagem da avaliação evidencia uma visão positiva e construtiva do erro, representando-o como uma fonte de crescimento e base para o desenvolvimento da inteligência. O erro passa a ser encarado como ponto de partida para o conhecimento e não como ponto final da aprendizagem. Suas funções passam a se relacionar com busca, diagnóstico, reorientação, suporte para autocompreensão ( Luckesi, 1995).

O tratamento construtivo do erro deve seguir procedimentos sistemáticos e, de preferência, ser um processo de análise e de auto-avaliação do aluno, com o auxílio do professor. Provenzano e Moulin (2002) indicam o seguinte caminho:


Nesse ponto, nas funções aconselhamento e orientação da aprendizagem, o tutor indica textos e atividades adequados. A adoção de novas estratégias na reorientação para a superação dos erros é indispensável, tanto para alunos como para tutores, como, por exemplo, criar uma contradição para que o aluno perceba determinado problema. Cabe lembrar que, antes de continuar avançando, o estudante deve realizar as atividades propostas pelo material e pelo tutor; anotar as dificuldades que forem surgindo; revisar conceitos e conteúdos; recorrer à formulação de perguntas para identificar um problema (Litwin, 2001).

A auto-avaliação tem papel importante na abordagem construtiva do erro . Ao assumir participação ativa na superação do erro, o aluno estará desenvolvendo:


Podemos afirmar, então, que, ao exercer a função de avaliação, incentivando a auto-avaliação e a participação do aluno, o tutor está contribuindo para o desenvolvimento dos atributos que compõe o aprender a ser.

 

Conclusões

Este estudo oferece contribuição para repensar a formação dos tutores em uma perspectiva atual de educação a distância, que se vale fortemente de recursos tecnológicos para tornar mais rápida e eficiente a mediação pedagógica, ao mesmo tempo em que coloca o aluno no centro do processo, valorizando sua participação por meio de diálogo e estratégias de interatividade, cuidando de sua aprendizagem e de seu desenvolvimento de modo integral.

Concluímos que as bases teóricas da formação inicial do tutor são as mesmas que formam o professor de classes presenciais. No entanto, na formação do tutor devem ser acrescentados conhecimentos e habilidades específicas , necessários ao desempenho de funções que envolvem a responsabilidade pela mediação pedagógica e pela execução, acompanhamento e avaliação do plano de estudos e da aprendizagem do aluno de cursos à distância. A formação do tutor deve se completar, de preferência, com a prática das funções e atividades de tutoria, realizada por meio de estágio supervisionado.

Como enfatiza Peters (2001), o estudo autônomo é uma tarefa que demanda muita energia e disposição. Para o autor, os estudantes que realizam esse tipo de atividade assumem atribuições normalmente delegadas aos docentes, isto é reconhecem suas necessidades, formulam seu plano de estudo, buscam as fontes humanas e materiais, organizam e dirigem, controlam e avaliam o processo de aprendizagem.

A cada tarefa dos alunos que estudam à distância corresponde uma função e atividades do tutor, seja estimulando, incentivando, motivando, facilitando, propondo, sugerindo, indicando. As funções da tutoria abrangem o indivíduo em todas as suas dimensões. No aluno, o tutor vê o ser humano que necessita de dialogo, que, além de se processar por meio dos chats com colegas distantes, encontra no professor o conselheiro – estimulador, incentivador – que percebe quando o ânimo está diminuindo e age para evitar o abandono dos estudos.

Em outros momentos, o tutor é o orientador da aprendizagem, aquele que apóia a organização didático-pedagógica do estudo à distância, que promove a participação ativa do aluno, pois está ciente de que é por meio da interatividade que se processa a aprendizagem, que orienta ou reorienta processos de compreensão e de transferência, recomenda material de leitura para complementar o básico indicado pelo curso, além de propor “atividades complementares que favorecem o estudo de uma perspectiva mais ampla ou integradora, atendendo às situações e aos problemas particulares de cada aluno” (Litwin, 2001, p.21).

Nas funções de avaliação, o tutor exerce um papel fundamental para a garantia da qualidade do processo ensino/aprendizado à distância. A peculiaridade das funções de avaliação reside na forma como as atividades se integram com as funções de aconselhamento e de orientação da aprendizagem. De fato, as atividades de aconselhamento são planejadas à luz dos resultados de uma avaliação do perfil do aluno. As atividades de orientação e re-orientação pedagógica dependem dos resultados do acompanhamento e das avaliações formativas. As atividades de avaliação e auto-avaliação são de grande importância na formação da auto-confiança, auto-estima e autonomia do estudante.

Dessa perspectiva, entre as três principais funções, atribuímos maior relevância à função tutorial de avaliação, destacando seu potencial para concretização dos objetivos de uma educação à distância voltada para o aluno integral. A análise das sistemáticas de avaliação e auto-avaliação demonstra a capacidade da função avaliativa para influir no desenvolvimento do aprender a ser, do aprender a aprender e do aprender a fazer.

Em suma, este trabalho sugere que grande parte do sucesso da educação a distância pode estar nas funções exercidas pelo tutor que acompanha e avalia o processo de aprendizagem, em estreita parceria com o aluno, sempre atento ao seu compromisso maior:
“O compromisso com a Qualidade”

 


REFERÊNCIAS

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CEFET/DIREN Curso de especialização em didática aplicada à educação tecnológica: manual do cursista. Rio de Janeiro: O Centro, 1994.
FREIRE, Paulo. Educação e mudança. Trad. Moacir Gadotti e Lillian Lopes Martins. São Paulo: Paz e Terra, 2001.
LITWIN, Edith, (Org.) Educação a distância: temas para o debate de uma nova agenda educativa. Porto Alegre: Artmed, 2001.
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MONAT, André e MOULIN, Nelly. Estratégias para a individualização e tratamento adequado dos erros cometidos em avaliações e exercícios no Ensino a Distância. VII Congresso Internacional de Educação a Distância, Associação Brasileira de Educação a Distância - ABED, São Paulo, SP, 17 de agosto, 2000. Disponível no site da ABED: http://www.abed.com.br
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