Lêda Gonçalves de Freitas
Professora da Universidade Católica de Brasília
Doutoranda em Psicologia Social e do Trabalho – Universidade de Brasília
E-mail: ledag@ucb.br
Lucia Henriques Sallorenzo
Professora da Universidade Católica de Brasília
Doutoranda em Psicologia Social e do Trabalho – Universidade de Brasília
E-mail: lucias@ucb.br
Carlos Alberto Lopes de Sousa
Professor da Universidade Católica de Brasília
Doutorando em Sociologia – PUC/São Paulo
E-mail: clopes@ucb.br
Carla Carolina Pinheiro Anunciação
Graduanda em Psicologia – Universidade Católica de Brasília
E-mail: carlac@ucb.br
Tema A: Formação de Profissionais para Educação
a Distância
Categoria 2: Educação Universitária
RESUMO
O presente artigo contempla os temas formação de profissionais para
a educação a distância e avaliação de cursos nesta modalidade educacional. Para
tanto, faz-se uma análise das expectativas levantadas pelos professores que
participaram do curso de Formação de Professores para Atuação em Ambiente Virtuais,
assim como a reação desses participantes ao curso. A análise dos dados qualitativos,
os quais foram coletados por meio de questionários, possibilitou uma reflexão
sobre os desafios da formação continuada de professores para a educação a distância.
Palavras-Chaves:
Educação a Distancia, Formação, Avaliação, Ambiente Virtual.
1. INTRODUÇÃO
O acelerado desenvolvimento tecnológico, a partir da segunda metade do século XX, trouxe para o professor um ambiente de trabalho totalmente diferenciado da sala de aula presencial. Esse novo ambiente, o virtual, possibilita que a relação professor e aluno possa acontecer sem o contato físico e, que, o processo de aprendizagem ocorra com intensa interação em função das potencialidades das ferramentas de comunicação oferecidas pela Internet, Chat, E-mail e Fórum.
Para que a aprendizagem do aluno ocorra no ambiente virtual, pois essa é a função central de qualquer proposta educacional, é necessário que o professor, além de dominar tecnicamente as tecnologias, construa um processo de interação com o seu aluno que o anime a permanecer no curso, a participar dos espaços de comunicação e, ainda, que tenha capacidade de discutir profundamente os conteúdos desenvolvidos.
Os ambientes virtuais, onde a aprendizagem é real, diferem dos espaços presenciais de aprendizagem, pois, conforme Peters (2003, p. 238) nos espaços virtuais “a ausência de limites, a incerteza, inconcebilidade e ‘vacuidade’ do espaço visto em perspectiva ‘atrás’ da tela do monitor provavelmente causa a maior impressão no observador. Isso sinaliza um espaço além dos locais anteriores de aprendizagem, e até certo ponto além das experiências de aprendizagem que podem ser obtidas em locais reais de aprendizagem anteriores”.
Diante de tal contexto, a formação continuada de professores para a Educação Superior que sempre foi matéria de reflexão dos educadores envolvidos em estudos na área, permanece sendo temática essencial quanto se trata da capacitação de professores para atuarem na educação a distância mediada pela Internet. Para Belloni (2001), há uma rede de complexidade na interação professor e aluno no processo de ensino e aprendizagem na EAD, uma vez que, a mediação pedagógica acontece de maneira indireta no espaço e no tempo.
A Universidade Católica de Brasília – UCB que já atua com educação a distância desde 1996 com cursos de Pós-graduação Lato Sensu (meio impresso), lançou em 2000 a Católica Virtual, sendo que no primeiro momento, continuou com a oferta de cursos de Pós-graduação Lato Sensu, e depois ampliou a sua atuação ofertando disciplinas de graduação e cursos de extensão. A UCB, consciente dessa nova perspectiva apresentada para o conjunto das universidades brasileiras, organizou em 2003 o curso de “Formação de Professores para Atuarem em Ambientes Virtuais”.
Este curso tem o objetivo de capacitar os professores para que possam atuar na educação a distância, mais especificamente, mediada pela Internet, de maneira que, construam estratégias que favoreçam a interatividade entre aluno/aluno; aluno/conteúdo; e aluno/professor.
A carga horária do curso é de 60 horas, sendo que 08 são presenciais (um encontro presencial no início do curso e outro ao final) e o restante a distância. O curso ocorre pela Internet e as 60 horas se concretizam por um período de dois meses. Até o momento, o curso teve três turmas e já foram capacitados 75 professores.
Neste sentido, o objetivo do presente artigo é apresentar as expectativas de professores em relação ao curso de Formação de Professores para Atuação em Ambientes Virtuais, bem como verificar se tais expectativas foram atendidas ao final do curso, com vistas a fazer uma reflexão sobre o papel da avaliação de programas de EAD na construção de elementos para a melhoria da formação continuada de professores para a EAD.
O modelo de avaliação de programas de EAD da Universidade Católica de Brasília foi adaptado da proposta de Abbad (1999), e consiste dos seguintes elementos, conforme a descrição presente na Figura 1: o componente 1, Perfil dos Participantes, proporciona informações descritivas sobre os participantes do curso e levanta as expectativas em relação ao curso. Os componentes 2, 5 e 7 referem-se ao apoio oferecido pela instituição aos participantes para que este participe do curso e aplique as novas aprendizagens em sua atividade. Os componentes 3 e 4, resultados imediatos do programa, avaliam reações dos participantes ao curso, bem como a aprendizagem. Os componentes 6 e 8, resultados mediatos do curso, avaliam os efeitos a longo prazo do programa educacional no desempenho dos participantes e na instituição.
Início do Curso |
Durante o Curso |
Após o Curso |
Figura 1. Modelo de Avaliação da UCB
No início do curso, são coletadas informações acerca do Perfil dos Participantes (dados demográficos, funcionais, forma de adesão, expectativas, nível de conhecimento na área) e do Suporte Institucional para realização do curso (percepções do participante e dos diretores de unidade quanto ao apoio fornecido pela instituição para viabilizar a realização do mesmo).
O terceiro componente do modelo, Reações, prevê a aferição do nível de satisfação dos participantes com a mídia eletrônica, materiais, estratégias pedagógicas, interatividade, interação tutor-aluno e aluno-aluno, bem como auto-avaliação de aprendizagem.
O quarto componente, Aprendizagens Parciais e Final, julga o grau de assimilação dos conteúdos demonstrado pelos participantes nos exercícios correspondentes a cada Unidade de Estudo Autônomo e ao Curso como um todo. Esses resultados serão obtidos por meio de escores atribuídos pelos tutores aos participantes nos exercícios de sistematização de aprendizagem e no projeto final.
Suporte Institucional à Transferência de Aprendizagem, quinto componente do modelo, avalia o apoio da Instituição à aplicação no trabalho dos conhecimentos e habilidades adquiridos no curso. Esse componente é mensurado por meio das percepções dos participantes do curso e diretores de unidade sobre o referido suporte.
O sexto componente, Impacto no Desempenho, avalia o efeito do curso na atuação do docente em sala de aula. A coleta de dados envolverá auto-avaliação (percepção do participante do curso quanto às mudanças ocorridas no próprio desempenho didático em função das novas aprendizagens) e hetero-avaliação (percepção dos alunos acerca do desempenho dos participantes do curso em sala de aula).
O sétimo componente, Suporte à Transferência para o Grupo e Instituição, avalia o apoio institucional à disseminação dos conhecimentos e habilidades adquiridos pelos participantes para os grupos e para a Instituição como um todo. A coleta de dados incluirá a avaliação das opiniões dos participantes do curso e dos respectivos diretores de unidade a esse respeito.
Impacto na Instituição, último componente do modelo, avalia mudanças ocorridas na instituição que poderiam ser atribuídas ao curso. Informações a esse respeito serão obtidas por meio das opiniões dos participantes do curso e de seus respectivos diretores de unidades. O efeito desse curso no nível de resultados institucionais depende provavelmente do impacto no desempenho individual, condição necessária à transferência de tecnologias para grupos e instituições, da posição hierárquica do participante do curso e do número de participantes do curso por instituição. Por essas razões, a avaliação de resultados em cada instituição ocorrerá somente após a realização do curso por, pelo menos, 60% dos participantes.
Em relação ao curso Formação de Professores para Atuação em Ambientes Virtuais, foram avaliados o componente 1, Perfil dos Participantes e o componente 3, Reação ao Curso. Os dados coletados foram categorizados por meio de análise de conteúdo temática. Tal categorização permitiu a expressão de elementos nortEADores à formação continuada de professores em ambiente virtuais.
2. DESENVOLVIMENTO DO CURSO
O curso Formação de Professores para Atuação em Ambientes Virtuais teve a sua primeira turma no primeiro semestre de 2003 e contou com a participação de 31 professores de diversas áreas da universidade e professores recém contratados para atuação no curso de especialização em Comércio Exterior.
A segunda oferta do curso se deu no segundo semestre de 2003 e contou com a participação de 09 professores. O terceiro curso, aconteceu no primeiro semestre de 2004 e participaram 35 professores.
Os participantes do curso são todos professores contratados pela UCB, sendo que a maioria, 71% é do sexo masculino e o restante do sexo feminino (Figura 2).
Figura 2: Sexo dos participantes
Em relação à escolaridade, 92% têm pós-graduação Stricto Sensu, sendo 43% em nível de mestrado e 49% em nível de doutorado (Figura 3).
Figura 3: Nível de escolaridade
A seguir apresentar-se-ão os resultados que foram coletados por meio dos instrumentos anteriormente apresentados.
3. EXPECTATIVAS DOS PARTICIPANTES E AVALIAÇÃO DO CURSO
Neste item serão apresentados os resultados e análise dos dados referentes ao Perfil dos Participantes e Reação ao Curso, em particular, das questões abertas presentes nos instrumentos de avaliação da Universidade Católica de Brasília.
A análise das expectativas em relação ao curso proporcionou a identificação de três categorias: a) Aprendizagens sobre como acompanhar o aluno no ambiente virtual; b) Aquisição de conhecimentos sobre a educação a distância; e, c) Aquisição de conhecimentos sobre a utilização do ambiente virtual de aprendizagem.
A primeira categoria, aprendizagens sobre como acompanhar o aluno no ambiente virtual, diz respeito ao interesse dos professores em adquirir embasamento teório-prático em relação ao trabalho docente em ambiente virtual; à troca de experiências entre os diversos participantes; o aprimoramento da prática de trabalhar em ambientes virtuais, tendo em vista que alguns participantes, já trabalham com EAD; a ampliação das possibilidades de interação entre professor-aluno e aluno-aluno; a reflexão sobre os conhecimentos em relação as características, habilidades e competências de um professor em EAD; a necessidade de aprender a acompanhar o aluno a distância; e o exercício das novas competências do professor universitário.
A categoria, aquisição de conhecimentos sobre a educação a distância, pode ser compreendida a partir dos seguintes pontos: necessidade de compreender o que é a educação a distância, em especial seus fundamentos e práticas, e suas metodologias de aprendizagem, bem como as suas possibilidades na educação; entender o funcionamento da EAD, e por fim, vivenciar a EAD como aluno.
A terceira e última categoria observada na análise dos dados do Perfil dos Participantes, aquisição de conhecimentos sobre a utilização do ambiente virtual de aprendizagem, pode ser definida como: busca pelo treinamento no ambiente da Católica Virtual; construir uma relação mais amigável com a máquina e conhecer as novas tecnologias; e, introduzir o ambiente virtual em cursos presenciais.
O componente referente à Reação ao Curso foi analisado tendo como referencial duas questões: “As expectativas levantadas por você no início do curso foram atendidas? Justifique sua resposta”; e, “Críticas e Sugestões em relação ao curso”. A análise de conteúdo dessas questões geraram três categorias, as quais serão apresentadas a seguir.
A primeira categoria, satisfação com o curso, demonstra que os participantes tiveram embasamento teórico-prático em relação a EAD; houve incentivo à reflexão sobre o trabalho do professor em ambientes virtuais e conhecimento sobre os papéis do professor universitário nesse ambiente; o acesso às novas possibilidades de desenvolvimento do ensino e da aprendizagem; a troca de idéias e conhecimentos entre os professores; e o conhecimento do ambiente de aprendizagem da Católica Virtual.
A segunda categoria denominada limitações do curso, pode ser compreendida pela duração do curso, uma vez que houve muitas queixas quanto ao tempo para realização do curso; dificuldades de navegação no ambiente virtual; e, necessidade de maior aprofundamento dos temas apresentados no decorrer do curso. Esse ponto foi justificado pelo fato do curso ter sido muito rápido, prejudicando um maior debate e interação entre os participantes.
A última categoria, sugestões, pode ser explicada pela necessidade apontada pelos participantes de ter maior tempo de duração do curso; pela realização de aulas práticas para aprofundar os conhecimentos em relação às ferramentas; e ainda, o desejo de continuar a conhecer as possibilidades pedagógicas do ambiente virtual, ou seja, a oferta de novos cursos de formação na área.
Diante das categorias apresentadas é possível afirmar que o curso de modo geral atendeu as expectativas dos participantes, apesar das limitações de duração do curso, restrição apresentada por quase todos os participantes. Isto prejudicou o debate dos conteúdos desenvolvidos no decorrer do curso.
Outro aspecto que merece atenção dos planejadores de formação de professores para a EAD, diz respeito à necessidade de melhoria do ambiente virtual. Observa-se que há uma inquietação dos professores em ter mais conhecimento técnico sobre o manuseio desse novo ambiente de aprendizagem e, ao mesmo, percebe-se que há insatisfação em relação à plataforma que a universidade utiliza para a mediação pedagógica.
Por fim, percebe-se que há entusiasmo dos professores em ter uma formação continuada nesse novo processo educacional, cabendo as instituições de ensino superior o estabelecimento de políticas permanentes de formação dos professores para atuação no ambiente virtual.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os aspectos qualitativos da avaliação do curso de Formação de Professores para Atuação em Ambientes Virtuais, referentes aos componentes Perfil do Participante e Reação ao Curso, considerados no presente artigo, apontam para dois desafios a serem refletidos no processo de formação continuada dos professores para a educação a distância. O primeiro é a necessidade de levar em conta, na elaboração dos programas de formação de professores na modalidade educacional a distância, os anseios desses profissionais, uma vez que há, ainda, resistência quanto à efetividade de desenvolver cursos mediados pela Internet. O outro desafio e não menos importante que o anterior, é a dificuldade que ainda existe entre os professores universitários em relação ao conhecimento técnico das novas tecnologias da comunicação e informação.
Diante deste contexto, observa-se que, por mais que as novas tecnologias tenham sido difundidas no meio universitário, há carências de formação dos professores tanto nos aspectos pedagógicos quanto nos aspectos técnicos.
REFERÊNCIAS BLIOGRÁFICAS
ABBAD, G. Um modelo integrado de avaliação do impacto do treinamento no trabalho – IMPACT. Brasília, 1999. Tese (Doutorado) – Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília.
BELLONI, M. L. Educação a distância. Campinas: Autores Associados, 2001.
PETERS, O. A educação a distância em transição.São Leopaldo: Editora Unisinos, 2003.