Por: Dra. Betina von Staa
Recentemente, tive a oportunidade de participar de um Webinar com o Janes Tomelin e a Fernanda Furuno sobre Personalização e Ensino Híbrido para Ensino Superior. Aproveitamos para gravar depoimentos de gestores e de alunos sobre suas experiências com o ensino remoto emergencial durante a pandemia para contribuir com a sessão.
Você pode assistir ao webinar aqui: https://youtu.be/LgexH74AF9k
As falas de todos os convidados foram muito surpreendentes e a conversa durante o webinar foi ótima! Os gestores relataram sobre seus esforços para viabilizar o ensino remoto da melhor maneira possível e revelaram muita habilidade e agilidade para lidar com mudanças rápidas, com a finalidade de manter as atividades letivas das instituições e dos alunos.
Por mais que todos tenham tentado manter o calendário da melhor maneira possível, não é possível fazer o mesmo que se faz em aulas presenciais de maneira remota. E tudo bem! Os alunos revelaram que essa nova configuração trouxe algumas descobertas e aprendizagens que não teriam ocorrido de outro modo.
O que os alunos descobriram porque tiveram tempo
Ao se depararem com a necessidade de se organizar para estudar em casa e até com dúvidas que o professor não podia responder naquele momento, ou uma curiosidade que aflorou, os alunos relatam que ocorreu o seguinte:
- Acharam interessante poder ter acesso constante ao conteúdo das aulas e aos simuladores para reflexão e consultas a qualquer momento.
- Disseram que gostaram de tirar dúvidas com os colegas durante as aulas, o que normalmente não dá certo em sala de aula.
- Descobriram como fazer pesquisa para encontrar fontes de consulta para se aprofundar nos seus estudos ou vídeos no YouTube para tirar dúvidas.
- E pediram que não se retorne ao modelo de avaliação tradicional!
O nome disso que esses alunos descobriram é autonomia!
Como desenvolver a autonomia?
Nós, que defendemos uma educação mais centrada no aluno, que desenvolva autonomia, resiliência, empatia, comunicação e outras habilidades socioemocionais, costumamos enfatizar muito a importância de uma mudança do papel do professor: dizemos que ele deve se colocar em uma posição de orientador e não de detentor do conhecimento, que deve desenvolver propostas em que o aluno seja protagonista, que adote metodologias ativas, ensino híbrido, tecnologias, e tantas outras recomendações! Quanta coisa os professores devem pensar, saber e realizar!
E, de repente, o que despertou a autonomia dos alunos foi uma necessidade de reorganizar o tempo.
Quando as agendas dos alunos estão lotadas com aulas e trabalho, não dá tempo para fazer aquela pesquisa, ir atrás da curiosidade, tentar se aprofundar ou mesmo resolver dúvidas. Deste modo, o aluno aprende a fazer o que lhe solicitam, assiste aula, realiza as atividades propostas, estuda o que deve estudar, e fica satisfeito com isso se estiver tirando notas boas. Caso o aluno tenha dúvidas ou “não entenda nada”, é possível que se sinta incapaz, fique nervoso ou desmotivado, levando os especialistas a concluir que precisa de apoio emocional e que precisa fortalecer as habilidades de persistência e resiliência e autoestima.
No entanto, com o tempo desorganizado, a vida precisando ser colocada em ordem, e alguns problemas maiores ou menores para resolver, descobriram que, se tiverem tempo, conseguem se aprofundar ou tirar dúvidas; se tiverem tempo, podem interagir com o colega e resolver suas questões de maneira bastante produtiva, se tiverem tempo e acesso aos conteúdos a qualquer momento, conseguem entender melhor. Com tempo, descobrem o mundo de informações que a tecnologia proporciona – que já estava lá e nunca tiveram tempo de usar ou que os professores e instituições disponibilizaram para os alunos pela primeira vez. Com tanta possibilidade de aprender mais e melhor, por que fazer avaliação tradicional ao invés de descobrir outras maneiras de revelar talentos e desenvolvimento de habilidades?
Um componente importante para uma aprendizagem efetiva: a gestão do próprio tempo
Sim, é muito importante que os professores presenciais, os programas de Educação a Distância e os projetos híbridos promovam a autonomia e o protagonismo do aluno reforçando a sua autoestima, capacidade e vontade de aprender com propostas instigantes e sem tanto foco no conteúdo e mais no desenvolvimento de habilidades. No entanto, talvez, a mágica só aconteça se os alunos se depararem com algum problema para resolver e um tempinho só seu para pensar, pesquisar e interagir com alguém. Por fim, eles que demonstrem suas habilidades com submissão de trabalhos, protótipos, apresentações orais entre muitas outras maneiras concretas de revelar o que aprenderam e o quanto foram além do mínimo necessário.
Professores e alunos podem e devem identificar diferentes maneiras para usar o tempo a seu favor – e a pandemia pode nos ajudar a simplesmente descobrir o uso do tempo que parece mais eficaz.