A discussão atual em
torno das questões ligadas à Educação
à Distância (EAD) exige por parte dos educadores
a necessidade de repensar o conceito desta modalidade de ensino,
evitando, assim, repetir certas fragilidades e contradições
de experiências realizadas no passado.
Literalmente, o conceito de EAD remeteria
a qualquer modalidade de transmissão e/ou construção
do conhecimento sem a presença simultânea dos
agentes envolvidos. Nessa perspectiva, a difusão da
escrita teria sido uma das principais (e até hoje mais
eficazes) tecnologias aplicáveis à EAD. Com
a institucionalização dos sistemas formais de
ensino — que exigiam dos aprendentes a presença
obrigatória, com tempo pré-definido, nos estabelecimentos
credenciados, para a obtenção de certificados
de comprovação da aprendizagem, e que tinham
na escrita uma de suas principais tecnologias de comunicação
do conhecimento —, o conceito derivou para uma forma
mais complexa. O Ensino à Distância se referiria
agora apenas às modalidades de ensino cuja aprendizagem
não mais estivesse atrelada à presença
física dos alunos nas chamadas escolas, atendendo à
necessidade de uma parcela da população que,
por motivos diferentes, não tinha possibilidades de
freqüentar esses estabelecimentos. Foram criados então
sistemas de ensino à distância, utilizando-se
veículos de comunicação diversos, a exemplo
do correio, do rádio e mais recentemente da televisão.
Um dos grandes problemas desses
cursos relacionava-se à quase que completa falta
de interatividade do processo de aprendizagem, devido à
dificuldade dos alunos de trocarem experiências e dúvidas
com professores e colegas, o que desestimulava e empobrecia
todo o processo educacional. Nesse sentido, a ênfase
da aprendizagem centrava-se no autodidatismo. Essas dificuldades,
aliadas a outras de teor sócio-econômico e político-cultural,
acabavam por limitar o sucesso desses empreendimentos, que,
apesar disto, continuaram a existir.
Com a difusão das tecnologias de
comunicação em rede,
esse cenário começou a se modificar, visto que
as possibilidades de acesso a informações e
conhecimentos sistematizados, assim como a interação
entre diferentes sujeitos educacionais, ampliaram-se significativamente.
Isso é potencializado pelo fato de que a chamada revolução
digital tem transformado e ressignificado boa parte dos sistemas
de organização social, incluindo as formas de
ser, estar, sentir e se comunicar do homem urbano no mundo
contemporâneo, o que traz profundas conseqüências
para o domínio do conhecimento.
Todo esse processo torna necessário
que ampliemos o próprio conceito de EAD, que deve passar
a ser refletida no interior das discussões mais amplas
da educação, e não apenas como um setor
especializado da mesma.
Nesse sentido, compreendemos a Educação
à Distância como um novo espaço de ensino-aprendizagem,
possibilitado pela mediação dos suportes tecnológicos
digitais e de rede, esteja esta inserida em sistemas de ensino
presenciais, mistos ou completamente à distância.
Isso obviamente amplia a complexidade e as variáveis
envolvidas na discussão e, por sua vez, obriga-nos
a fragmentar as reflexões em questões mais específicas.
Por outro lado, essa abordagem da EAD diferencia-se
também da apresentada no Decreto 2494 de 10/02/1998
(da legislação educacional
brasileira) que compreende esta possibilidade pedagógica
como "uma forma de ensino que possibilita a auto-aprendizagem,
com a mediação de recursos didáticos
sistematicamente organizados, apresentados em diferentes suportes
de informação, utilizados isoladamente ou combinados,
e veiculados pelos diversos meios de comunicação",
visto que a EAD não é mais concebida a partir
da ênfase no autodidatismo, mas sim na construção
coletiva do conhecimento, mediada pelas tecnologias de rede.
Todavia, a observação e análise
de algumas experiências de Educação á
Distância atuais ainda sinalizam, mesmo que de forma
velada, uma concepção de aprendizagem sknineriana,
baseada na modelagem de comportamentos adquiridos mediante
uma relação com o objeto do conhecimento a partir
de estímulos e respostas. Dentro desta abordagem, o
sujeito estaria sendo visto como passivo na relação
de ensinar e aprender.
Esse modelo praticamente não deixa
espaço para o estabelecimento da interação
nos processos comunicativos que se realizam entre os sujeitos
do conhecimento, que, quando muito, acaba se manifestando
num grau muito reduzido. Pierre Lèvy denomina essa
variação de interatividade como Um-Todos (LÈVY,
1994), caracterizando-a pela existência de um centro
pensante — representado neste momento pelo professor
— que difunde as idéias e informações
que devem ser assimiladas pelos
alunos de forma fidedigna, numa situação em
que não existe espaço para a criação
e a subjetividade dos sujeitos envolvidos.
Essa concepção de educação
e de comunicação não consegue atender
a complexidade do processo de construção do
conhecimento e, por conseguinte, inibe o potencial cognitivo
e afetivo dos sujeitos aprendentes que, por natureza, são
seres interativos, como já afirmava, há mais
de 50 anos, o teórico Vygotsky (1994) e algumas abordagens
mais recentes das teorias comunicacionais (MACHADO, 1997).
A interatividade era então entendida como possibilidade
de troca ativa de informações e de construção
processual e social do conhecimento. O sujeito interativo
de Vygotsky transforma o objeto do conhecimento e é
transformado por ele numa relação de total imbricamento.
Logo, o sujeito é concomitantemente ator e autor dos
processos de construção de conhecimento, num
fenômeno que se estabelece a partir de dimensões
ao mesmo tempo objetivas e subjetivas.
Hoje, frente ao intenso desenvolvimento
das tecnologias digitais e das redes telemáticas de
comunicação, muitas discussões vêm
sendo realizadas no sentido de tornar a Educação
à Distância uma modalidade de comunicação
mais interativa. As possibilidades de ampliação
da interatividade permitidas por essas redes de comunicação
e informação tornaram-se o núcleo mais
importante e avançado das discussões em torno
da EAD.
Com as novas mídias digitais, defrontamo-nos
com novas modalidades de interatividade, oferecidas principalmente
pelas tecnologias do tipo síncrono que disponibilizam,
em tempo real, o acesso a conteúdos e formas comunicacionais
vivas, que podem ser modificadas e transformadas permanentemente.
Os Chats, RPGs, Muds, sistemas
de mensagens instantâneas, videoconferências e
ambientes de produção colaborativa se constituem,
desse modo, em espaços abertos para interações
virtuais, nos quais os sujeitos intercambiam diferentes saberes
que podem oscilar do conhecimento espontâneo ao conhecimento
científico. Para Alava (2002), essas diferentes possibilidades
de intervenção (consulta de dados, simulação,
videogame, realidade virtual, etc.) no dispositivo tecnológico
e/ou no ambiente informático se constituem na forma
mais comum e ampliada de interatividade, no contexto atual.
Quando conectamos a rede, transmutamo-nos
em multitarefas, numa cadeia de multiusuários onde
lemos / escrevemos / pensamos e, a cada clique, em timer’s
indeterminados, passamos a significar toda a trajetória
ou a ressignificar o que já era conhecido.
O fato deste movimento poder ser expresso
e modificado ao tempo em que se move, potencializa extremamente
o grau de interação entre os participantes deste
(do) evento.
Estas possibilidades de trocas se efetivam
devido ao
desenvolvimento das tecnologias numéricas
(da Realidade Virtual na Web, passando pelo CD-ROM) [que]
autoriza[m] agora formas de participação
mais elaboradas e mais ampliadas. O computador permite,
efetivamente, ao público interagir instantaneamente
com as imagens, com os textos e com os sons que lhe são
propostos. É permitido a cada um, e conforme o
caso, de uma forma mais ou menos profunda, associar-se
diretamente, não somente à produção
da obra, mas também à sua difusão.
(COUCHOT, 1997:137)
Portanto, desloca-se a ênfase do aspecto
quantitativo — número de pessoas interagindo
— para o qualitativo — variedade, riqueza e natureza
das interações. (MACHADO, 1997) A interatividade
passa então a levar em consideração a
possibilidade de imersão, navegação,
exploração e conversação presentes
nos suportes de comunicação em rede, privilegiando
um visual enriquecido e “recorporalizado”, em
contraponto com um visual retiniano (linear e seqüencial),
que recompõe uma outra perspectiva do sensível
(COUCHOT, 1997), instaurando, assim, uma lógica que
rompe com a linearidade, com a hierarquia, para dar lugar
a uma lógica heterárquica, rizomática,
hipertextual.
Teríamos a possibilidade de alcançar
aquilo que Pierre Lèvy chamou de terceiro nível
de interatividade, não mais de tipo Um - Todos, nem
Um - Um, mas do tipo Todos - Todos, em que os sujeitos podem
trocar, negociar e intercambiar diferentes saberes ao mesmo
tempo.
Logo, a interatividade passa ser compreendida
como a possibilidade do usuário participar ativamente
da construção do conhecimento, interferindo
no processo com ações, reações,
intervindo, tornando-se receptor e emissor de mensagens que
ganham plasticidade e dinamicidade (LÉVY, 1994), criando
novos caminhos, novas trilhas, novas cartografias, valendo-se
do desejo do sujeito. Acrescenta-se, portando, a capacidade
desses novos sistemas de “acolher as necessidades do
usuário e satisfazê-lo” (BATTETINI, 1997:69).
No entanto, como já apontado acima,
os resultados desses investimentos no domínio da EAD
ainda se mostram pouco relevantes. A maior parte dos ambientes
de Educação à Distância explora
pouco as possibilidades de interatividade das tecnologias
digitais. A ênfase é dada na disponibilização
de informações e textos prontos. As avaliações
não são formatadas num modelo diferenciado,
como que transpondo para a rede o ambiente de sala de aula
tradicional. A comunicação entre alunos e professores
é feita apenas através de e-mails e chats. Mas
estes, mesmo quando usados com freqüência, mantêm
a hierarquia e rigidez da comunicação Um-Todos
ou Um-Um. (LÈVY, 1994)
É preciso, portanto, ressiginificar
essa prática. Os programas que envolvem formação
e qualificação de profissionais através
da EAD exigem, hoje, uma nova lógica que rompe com
a base estímulo-resposta que marcou a concepção
de aprendizagem de Skinner (1986). O modelo de tecnologia
educacional baseado na instrução programada
criado por este teórico não potencializa o nível
de interatividade oferecido nas mídias síncronas
e exigido pelos usuários que navegam diariamente no
ciberespaço. Os espaços de aprendizagem criados
em redes digitais de comunicação devem evitar
repetir este modelo e buscar atender a dinamicidade dos sujeitos
envolvidos no processo de ensinar e aprender, permitindo a
construção coletiva que emerge da diferença
que estrutura os sujeitos desejantes.
Isso mostra, como afirma Moraes,
que “não é automático o vínculo
entre EAD, interatividade e potencialidades”. (MORAES,
2002)
Essa constatação, que é
comum a certos educadores e comunicólogos que estão
refletindo sobre a EAD, nos faz defender que para se realizar
experiências de ensino à distância que
aproveitem as possibilidades trazidas pelas redes digitais
— com maior interatividade, atingindo amplamente a maior
parte de nossos sentidos, sendo tão dialógicas,
tão intensas, a ponto de permitir uma efetiva troca
entre pares —, é preciso muito mais que o suporte,
a estrutura, a conexão, a preparação
dos professores. É necessária uma articulação
de todos esses elementos. Pois, se acreditamos que o foco
é a interatividade, devemos estar preparados (ou talvez
estar “abertos”) para as novas experiências.
Mas, no geral, não é isso
que se tem constatado. Verifica-se que em relação
tanto às metodologias, aos processos de avaliação,
às perspectivas da aprendizagem, ou ainda em pontos
mais específicos como a legislação, as
propostas pedagógicas mostram-se muito confusas. Não
possuímos um referencial, um paradigma hegemônico.
Se isso é negativo, dado que leva a muitas transposições
dos modelos tradicionais presenciais, por outro lado, é
extremamente positivo, visto que deixa um imenso espaço
para a criação e as inovações,
que podem abrir perspectivas impensáveis pelos modelos
educacionais baseados nas escolas presenciais. Algo que não
se faz, na perspectiva de Deleuze, sem que seja como fruto
de uma violência, de um pathos. Trata-se de pensar o
antes impensável, de dizer o antes indizível,
de imaginar o antes imaginável, de sentir o antes insentível,
de tornar o Impossível uma face dos possíveis,
e portanto, domínio do Virtual. (PELBART, 1998)
Trata-se portanto de tentar ir além
do que já está dado pelas experiências
de EAD que vem sendo realizadas. Trata-se de pensar a EAD
muito mais do que como uma modalidade de ensino. Vemos a EAD
como uma rede de construção do conhecimentos,
de produção da arte, de democratização
e disseminação da informação.
Trata-se, portanto, de importante espaço simbólico
de criação, aprendizagem e interação.
Mas, apesar das limitações
apontadas, constata-se um crescimento muito grande no oferecimento
de cursos à distância utilizando uma rede como
a Internet. É preciso que esse crescimento incorpore
as novas perspectivas a serem criadas nesse espaço
e não apenas atue como mais um novo chamariz financeiro
e/ou político educacional, impondo uma lógica
mercadológica e excludente à educação.
Litwin afirma
que as novas tecnologias podem: 1. limitar; 2. caracterizar;
3. potencializar.
Cabe a nós, sujeitos e gestores da
educação, repensarmos os objetivos e métodos
da educação e definirmos a perspectiva que daremos
à relação Homem / Máquina / Conhecimento
nas futuras experiências de Educação à
Distância. Cabe a nós também repensarmos
os nossos próprios papéis. Isso obrigatoriamente
nos leva a reflexões sobre os nossos papéis,
enquanto professores, em espaços de construção
do conhecimento em rede.
Mas quase todas as discussões que
abordam as funções do professor no EAD acabam
caindo num mesmo questionamento: as máquinas substituirão
o professor?
Embora saibamos que se trata de um receio
real de boa parcela dos professores, acreditamos que essa
não é a perspectiva mais interessante de se
abordar a problemática.
De fato, para um professor repassador de
informações prontas e acabadas, o computador
pode representar um grande risco. No entanto, o que estamos
tentando refletir é a possibilidade de inserção
de um outro tipo de profissional, cuja função
precisamos ressignificar ou até mesmo recriar.
Como bem aponta Lèvy
É preciso superar-se a postura ainda
existente do professor transmissor de conhecimentos. Passando,
sim, a ser aquele que imprime a direção que
leva à apropriação do conhecimento
que se dá na interação. Interação
entre aluno/professor e aluno/aluno, valorizando-se o trabalho
de parceria cognitiva; ... elaborando-se situações
pedagógicas onde as diversas linguagens estejam presentes.
As linguagens são, na verdade, o instrumento fundamental
de mediação, as ferramentas reguladoras da
própria atividade e do pensamento dos sujeitos envolvidos.
... [é preciso] buscar o desenvolvimento de um espírito
pesquisador e criativo entre os docentes, para que não
sejam reprodutores, incapazes de refletir e modificar sua
prática profissional. ... este processo criativo
é sempre coletivo, na medida que a memória
e a experiência humana são patrimônio
social. (1998:100)
E assim, o papel do professor como repassador
de informações deixaria de existir e daria lugar
a um agente organizador, dinamizador e orientador da construção
do conhecimento por parte do aluno e de sua própria
auto-aprendizagem contínua.
Seu papel não seria descartado, como temem muitos.
Sua importância, em vez de ser minimizada, seria potencializada
e sua responsabilidade social aumentada. "Seu lugar de
saber seria o do saber humano e não o do saber informações"
(BABIN, KOULOUMDJIAN, 1988), sendo a comunicação
mais importante do que a informação. Sua função
não mais seria a de passar conteúdos dos quais
"só ele possuiria", mas a de orientar o processo
de construção do conhecimento pelo aluno, apontando-lhe
a necessidade de uma atitude crítica e ativa em relação
ao mundo de informações a que é submetido
diariamente. Caberia ao professor fazer o aluno compreender
que, com as informações recebidas, ele pode
construir conhecimento e fazer ciência e/ou arte, mostrando-lhe
alguns possíveis caminhos para isso, possibilitando-o
a recombinação e ressignificação
contínua de saberes, fantasias, desejos e lembranças,
numa prática pedagógica que viabilizaria a concretização
daquilo que a comunidade necessita e deseja.
As formas e objetivos práticos que
adquiririam esses sujeitos teriam que ser pensados a partir
das situações e necessidades concretas, assim
como as tão desejadas metodologias, dado que com a
velocidade das transformações atuais, não
há espaço para receitas ou regras rígidas.
Isso obviamente contradiz a atual tendência
de caracterização dos professores de EAD ou
como reproduções do docente tradicional ou como
mero tutores, auxiliares de um processo de aprendizagem sem
qualquer identidade ou função específica.
Tutor, designado como indivíduo
legalmente encarregado de tutelar alguém; protetor,
defensor; aluno designado como professor de outros alunos,
em formas alternativas de ensino. Será que a ação
do professor que atua à distância limita-se a
apenas tutelar alguém? Será que o papel desempenhado
atualmente pelo tutor atende a emergência desses novos
locus de aprendizagem?
A experiência tem nos mostrado que
os sujeitos que atuam como ensinantes na EAD reproduzem as
suas práticas como se estivem em uma sala de aula convencional,
esquecendo das peculiaridades destes ambientes. Muitos sequer
utilizam com freqüência dispositivos como os chats,
que poderiam gerar, no cenário de hoje, uma maior interatividade.
O interessante é que os alunos tendem
também a se sentirem inibidos com a riqueza oferecida
pelas tecnologias de rede e adotam posturas pouco interativas,
visto que determinados modelos de conduta
já se encontram cristalizados. Em uma pesquisa realizada
por Cerny e Erny (2001), com alunos e professores, do curso
de especialização à distância em
Marketing, desenvolvido pelo Laboratório de Ensino
à distância da UFSC, que utilizou a Internet
como mídia principal, os pesquisadores constataram,
no que se refere às atividades de avaliação
preferidas e as que contribuem para aprendizagem, que os alunos
demonstraram que sua preferência é por atividades
individuais. A atividade mais rejeitada pelos alunos foi o
Chat, considerada improdutiva da forma como foi organizada.
Os professores preferem as atividades de fixação
(planejadas para auxiliar o aluno no processo de aprendizagem
dos conteúdos propostos em cada disciplina, com ênfase
na relação teoria/prática).
Cabe, nesse particular, uma pergunta: quais as dificuldades
que o "tutor" encontra para atender a demanda dos
alunos nos chats e nos fóruns? E como agiriam num ambiente
com maiores possibilidades interativas?
Em 2000, o MEC/Proinfo, em parceria com
a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, realizou um Curso
à Distância de Formação Continuada
de Multiplicadores e de Novos Multiplicadores, para os professores
que atuavam nos Núcleos de Tecnologia Educacional (NTE)
e docentes que atuavam nas escolas que foram beneficiadas
com os laboratórios de informática. Foram inscritos,
pelo NTE da Secretaria Municipal de Educação
de Salvador, seis docentes, sendo três na categoria
multiplicador e três na categoria professores parceiros.
Porém, apenas dois concluíram o curso. Os motivos
que levaram estes sujeitos a desistirem desta experiência
foi a falta de interatividade e acompanhamento pelo tutor
nos fóruns e chats.
Numa outra experiência, analisando
as mensagens de um encontro realizado totalmente à
distância, no período de 08 a 15 de março
de 2002, pudemos constatar que o nível de interesse
e envolvimento dos alunos relacionava-se diretamente com o
desempenho e capacidade comunicativa do professor. As críticas
sempre se voltavam para a omissão, falta de participação,
lentidão em responder às dúvidas e comentários;
enfim, ao baixo nível de interação destes
com os alunos.
Isso nos leva a hipotetisar que, para além
dos problemas de resistências culturais, um dos fatores
principais que levam os alunos à distância a
desistirem do processo é o fato deles não terem
suas necessidades comunicacionais atendidas, o que acaba gerando
uma nova categoria de evasão, os evadidos on-line,
ratificando mais uma vez a necessidade emergencial de se refletir
sobre a interatividade e a relação professor/aluno,
nos novos ambientes de aprendizagem, uma relação
que sempre será transferencial, da ordem do desejo,
visto que muitas vezes o desejo de saber do aluno se aferra
a um elemento particular, (KUPFER,1989:91) que pode ser assumida
pela figura do professor. Nesta relação, emergem
conteúdos inconscientes e imagos infantis que mobilizam
o desejo de ensinar e aprender, seja em nível presencial
ou à distância.
Portanto, não basta digitalizar uma
apostila e esperar que os alunos “aprendam” os
“conteúdos” disponibilizados nesta. É
necessário interagir, trocar, construir. E cabe ao
professor efetivar a mediação desse processo,
dessa interação, que deve estar presente em
todo o espaço on-line ou off-line, e deve ser efetivada
com o máximo de linguagens, discursos e vozes possíveis,
em um processo de total hibridação, sem, todavia,
que as singularidades sejam dissolvidas.
Acreditamos, portanto, que o professor tem
possibilidades e condições (potencializadas
pelas tecnologias) para construir uma prática pedagógica
embasada em novos princípios, partindo de preposições
mais abertas, tais como: o conhecimento não é
construído de forma linear, mas rizomática;
valorização e interação com a
linguagem icônica e imagética que possibilita
uma compreensão mais imediata e diferenciada da mensagem,
a partir dos signos e do contexto nos quais está inserida,
despertando nos atores/autores do processo a pulsão
escópica, fundamental para despertar o desejo
de saber (FREUD, 1976); abertura para diferentes caminhos
na construção do conhecimento, tendo assim a
possibilidade de acompanhar diferentes olhares e interagir,
ao mesmo tempo, com várias janelas cognitivas; a não-preocupação
com a duração da atenção dedicada
às atividades, dado que o importante, para a geração
aprendente de hoje, é a capacidade de realizar multitarefas,
fazer simultaneamente diferentes coisas. (RUSHKOFF, 1999)
Cabe, assim, ao professor — moderador
de problematizações e provocador em direção
à construção coletiva do conhecimento
— superar os seus medos (o medo da máquina, do
devir, quando todos se tornam centro), para mediar e possibilitar
o entendimento das mensagens/informações disparadas
(lançadas) no coletivo pensante.
Dentro desta perspectiva, parafraseando
Pessoa, nossa aldeia passa a ser tão grande como outra
terra qualquer, porque seremos do tamanho do que vemos e não
do tamanho que somos. Esta ampliação do nosso
horizonte torna-se possível pela interatividade e interconectividade
que permeiam as tecnologias digitais.
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Desses cursos
No Brasil, podemos citar algumas experiências passadas
de Ensino à Distância, tais como os oferecidos
pelo Instituto Universal Brasileiro, MEB (1956), projeto Minerva
(1970), Logos (1977), Telecurso 2o Grau (1978), Telecurso
2000 (1995) e TV Escola (1996). (PRETI, 1998)
Rede
Hoje, praticamente todos os cursos de Educação
à Distância utilizam a Internet como espaço
de armazenamento e forma de comunicação entre
os alunos e professores
Legislação
A partir da abertura possibilitada pela nova Lei de Diretrizes
e Bases brasileira (Lei . 9394), de 1996, várias experiências
de EAD no âmbito universitário foram desenvolvidas.
Como exemplo, podemos citar as atividades do Núcleo
de Educação Aberta e a Distância (UFMG),
a UniRede (Universidade Virtual Pública do Brasil),
consórcio de 62 instituições de ensino
superior, da Universidade Anhembi Morumbi, o Laboratório
de Ensino à Distância da UFSC, o projeto Virtus
(UFPE), a Universidade Virtual (Univir) e a Universidade Virtual
Brasileira (UVB), dentre outras.
Assimilação
compreendida aqui como retenção de conteúdos
e informações, significando, portanto, o contrário
do que Jean Piaget (1983) denominou de assimilação.
Interatividade
Palavra muito em voga na mídia e no discurso dos pesquisadores
das áreas de educação, comunicação,
informação e tecnologia. Lèvy, em quase
todas as suas obras, destaca a interatividade como uma das
grandes possibilidades da comunicação digital.
Segundo Couchot, “a obra interativa só tem existência
e sentido na medida em que o espectador interage com ela”.
Sem isso “a obra permanece uma potencialidade”.
Chats
O Chat é um exemplo de comunicação caótica
e interativa: Diferente da discussão da sala de aula
presencial, o Chat permite que os autores (entendendo de forma
horizontal o processo educativo) falem, expressem-se de forma
caótica, obedeçam a uma ordem interna, oculta,
um desejo de cada indivíduo e de todos juntos que determina
a melhor hora de emitir uma opinião, não precisando
levantar o braço ou dar qualquer sinal de que, numa
“seqüência”, pede-se a vez para poder
falar. O poder da fala é o clicar.
RPGs
Roleplaying games: jogo de tabuleiro que surgiu na década
de setenta nos Estados Unidos, no qual o participante vive
uma história sem ter de obedecer a uma posição
apenas passiva, sendo parte ator, parte roteirista de um texto
que ainda não foi completamente escrito. As regras
se constituem em um apoio que podem, ou não, ser utilizadas,
não há ganhadores: todos se divertem e todos
ganham. Este tipo de jogo vem sendo adaptado para a WEB.
Muds
Masmorras Multiusuárias: são jogos on line nos
quais os participantes podem construir diferentes personagens,
atuando no mundo virtual, exercendo o poder da palavra por
meio do teclado.
Rizomática
Esta lógica caracteriza-se pela possibilidade de favorecer
conexões em qualquer sentido, sem caráter hierárquico,
onde “qualquer ponto pode ser conectado a qualquer outro
e deve sê-lo”, podendo inclusive ocorrer rompimento
entre pontos, sem, no entanto, acarretar perdas ao sistema.
Não existe ponto central no rizoma, um eixo a partir
do qual emergiriam caminhos e pontos conectáveis. Apenas
linhas, que apesar de guardarem uma organização,
também suportam linhas de fuga, desterritorializações,
multiplicidades.
(DELEUZE e GUATTARI, 1995).
Moraes
Raquel Moraes é professora
FACED/UNB –
Trecho da apresentação realizada I ESUD –
Petrópolis – Rio de Janeiro, 2002.
Maiores informações no site
http://www.sead.ufrj.br/esud/programação.htm
E-mail: raquel@unb.br
Certos educadores e comunicólogos
Dentre estes, podemos citar Beloni, Maia, Nunes, Depover,
Haughey, etc.
Litwin
http://www.sead.ufrj.br/esud/material/
litwin.ppt
Aprendizagem contínua
Para Lévy, "os professores aprendem ao mesmo tempo
que os estudantes e atualizam continuamente tanto seus saberes
'disciplinares' quanto suas competências pedagógicas".
(LÉVY, 1999:200)
Tutor
DICIONÁRIO Aurélio - Século XXI, versão
3.0, dezembro de 1999, em cd-rom. São Paulo: Nova Fronteira.
Modelos de
conduta
Isso não é um fato específico dos sujeitos
dos cursos de EAD. Nos cursos presenciais, essa resistência
dos alunos, inclusive das crianças, também é
notada quando se busca introduzir alguma transformação
na prática educativa. No nosso acompanhamento de estágios
universitários, uma das queixas básicas dos
alunos-docentes que tentam implementar propostas pedagógicas
menos tradicionais é a resistência dos alunos
que chegam a não considerar determinadas atividades
como “curriculares”. Nas séries iniciais
do ensino fundamental, por exemplo, onde se tornou prática
rotineira o recurso das cópias, quando os estagiários
tentavam introduzir atividades diferenciadas, escutavam constantemente
de alunos: “Pró, quando vamos ter aula mesmo?”.
Com os ambientes à distância, essa postura tende,
ainda hoje, a se reproduzir.
Pulsão escópica
A pulsão escópica caracteriza-se pelo prazer
de olhar, pela curiosidade, pelo desejo de saber. (FREUD,
1976)
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